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Brasileiro e sul-africano concluem travessia do Drake

Redação Webventure/ Expedições, Vela

Os velejadores são os primeiros do mundo a conseguir a travessia em um veleiro sem cabine. (foto: Divulgação)
Os velejadores são os primeiros do mundo a conseguir a travessia em um veleiro sem cabine. (foto: Divulgação)

Depois de quatro dias no mar, o brasileiro Betão Pandiani e o sul-africano Duncan Ross concluíram ontem (8/02) a travessia do Estreito de Drake. A dupla se tornou a primeira do mundo a conseguir esse feito em um veleiro sem cabine.

A bordo do veleiro Satellite, os dois começaram a travessia na última terça-feira (4/02) e a concluíram por volta da 1h30 da madrugada deste sábado, quando o veleiro chegou à Antártida. “A emoção ao chegar é indescritível. Não foi fácil, apesar de termos aproveitado uma janela de tempo perfeita”, comenta Betão Pandiani.

Momentos de ansiedade, alegria, indisposição e alucinações foram alguns dos fatos marcantes da viagem. O primeiro dia foi o mais difícil. Apesar da experiência e dos cuidados médicos, Betão e Duncan foram surpreendidos por um dos elementos mais inconvenientes de uma velejada: o enjôo. A escopolamina via trans-dérmica, um pequeno adesivo colocado atrás da orelha usado para evitar o enjôo, não fez efeito.

“Não é uma condição de velejo normal. Tem muita ansiedade e adrenalina envolvida e por isso não deve ter funcionado nas primeiras horas”, conclui Betão. O mal estar começou à noite e Duncan foi o primeiro a apresentar os sintomas. Em seguida Betão Pandiani, que havia assumido o comando do barco, também não resistiu.

Preparo – Mas foi o pensamento na equipe que deu a eles mais disposição para seguir em frente. “Foram dois anos de trabalho e preparo. Uma equipe inteira trabalhou de maneira incessante para que a travessia pudesse ser concluída.

A família, os amigos e ainda os amigos da Semp Toshiba, Água Crystal e Visa, todos confiaram em nós, queríamos seguir em frente e seguir bem”, desabafa Pandiani. No dia seguinte, quarta-feira, depois de um processo de hidratação intenso, eles voltaram a se alimentar e os enjôos desapareceram.

No terceiro dia de viagem, o veleiro Satellite enfrentou um período de calmaria. Foram cinco horas boiando, bem no meio da travessia. A grande preocupação era a corrida contra o relógio. A boa janela de tempo terminaria em cerca de cinco dias e qualquer minuto perdido poderia significar o fim do projeto.

“A preocupação nessa hora não é com a vida, mas com o barco. Se o tempo mudasse estávamos preparados e com todos os elementos de segurança funcionando, mas poderíamos perder o barco e só a possibilidade disso acontecer já causa uma dor enorme”, comenta Betão. A noite foi de mais sorte e os ventos voltaram a soprar sobre as velas do Satellite e o catamaran de 21 pés voou com as 3 velas levantadas. “Velejamos muito rápido e no escuro, sem nenhuma referência visual, foi maravilhoso”, completa.

Ao final do quarto dia, Betão e Duncan avistaram o Kotic II aguardando por eles na Península. A travessia estava concluída. “É uma experiência quase mística, uma alegria incrível, emocionante”, concordam Duncan e Betão. Segundo eles, uma das experiências mais surpreendentes durante a travessia é a condição emocional que se projeta.

“Você está acordado e dormindo ao mesmo tempo. O cansaço é enorme e você não se dá conta e chega ao limite”, comenta Duncan. “Talvez esse cansaço, não sei, acaba gerando uma situação meio mística. Algumas vezes nós tínhamos a sensação de que havia uma outra pessoa a bordo”, completa Betão. Essas experiências só foram relatadas quando a travessia foi concluída. “O mais estranho é que as alucinações, se é que podemos chamar assim, foram as mesmas para nós dois. Vimos as mesmas coisas e no mesmo instante”, completa.

Homenagem – Betão e Duncan uniram-se aos amigos a bordo do Kotic II e vão descansar durante 4 dias em Deception Island. Na ilha, que fica a 120 km ao norte da Península Antártica, Betão vai prestar a prometida homenagem ao Santos, campeão brasileiro de futebol no ano passado. O velejador vai deixar uma bandeira do clube ao lado da bandeira brasileira. “Sou santista e não poderia deixar de cumprir esta promessa. O Santos é conhecido no mundo inteiro e merece a homenagem”.

Travessia do Drake Parte III – Em seguida eles partem para uma velejada pelo sul da Península, no Círculo Polar Antártico. Durante esse período, Betão, Duncan e toda a equipe do Kotic II vão se entregar a outros esportes como Trekking, escalada e Cross Bike com a Caloi que foi incluída na bagagem. A previsão de chegada de Betão e Duncan ao Brasil é no dia 04 de abril, durante o Rio Boat Show, no Rio de Janeiro.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: fevereiro 9, 2003

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Redação Webventure
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