Foto: Pixabay

Montanhismo: arriscado ou seguro?

Redação Webventure/ Montanhismo

Andar preparado em ambientes naturais é muito mais divertido do que passar frio e fome em alguma montanha gelada por aí. (foto: Helena Artmann)
Andar preparado em ambientes naturais é muito mais divertido do que passar frio e fome em alguma montanha gelada por aí. (foto: Helena Artmann)

Falar sobre segurança, em montanhismo, é redundância… Li recentemente uma entrevista com o Ricardo Menescal, primeiro brasileiro a subir o Aconcágua junto com Orlando Lacorte, em janeiro de 1953, onde ele diz que “o alpinismo não é perigoso, mas o esporte dá margem a muita imprudência”.

Pois são estas imprudências que acabam gerando os acidentes, em sua maioria por erro humano. Mas, feito com cuidado, cautela e muito conhecimento, é bem mais seguro que muitas atividades normais no nosso dia-a-dia, como uma viagem de carro pelas estradas brasileiras, por exemplo.

Acidentes – Loucura? Basta olhar as estatísticas… Alguns clubes brasileiros, com mais de 50 anos (o Centro Excursionista Brasileiro tem cerca de 90!), não possuem uma morte sequer durante suas atividades nas montanhas. Não é pouco! Estamos falando de clubes muito ativos e com excursões semanais sendo feitas desde o início de suas vidas.

Mas, ao falar de clubes, estamos também falando de pessoas sérias e responsáveis, que decidem fazer uma atividade pelo amor a mesma e, por isso, o fazem com toda a prudência e conhecimento possíveis, além de bons equipamentos, claro!

Infelizmente, a maioria dos acidentes que vemos por aí, quase todos fatais, aconteceram por causa da inexperiência de seus praticantes. Pior, muitos acham que esta onda de esportes radicais e a busca constante pela adrenalina significa arriscar-se… Doce engano!

o que é aventura – Desde que começou todo este modismo, passei a odiar a palavra aventura… Nada define pior o que faço do que ela… O Aurélio diz que aventura é ‘perigo, risco’ e aventurar é ‘dizer ou fazer ao acaso, arriscar-se, expor-se’. Pois não me vejo arriscando um centímetro da minha pele ao sair com a mochila cheia de provisões, roupas quentes e secas, casaco impermeável, barraca adequada, saco de dormir eficiente, um isolante, fogareiro com combustível e panelas, lanterna e pilhas reservas, um bom mapa, indicações de onde estou indo, bússola e, eventualmente, até GPS e celular para passar um feriado em alguma trilha por aí.

Posso ficar perdida um, dois, alguns dias até (se bem que, em 12 anos trilhando caminhos pelo mundo, isto NUNCA me aconteceu!), mas isso não será um problema se eu estiver preparada. E estando preparada, o que eu faço é tudo, menos aventura…

Você pode me perguntar: mas qual a graça, então? Toda. Absolutamente toda. Prezo muito a minha vida para me arriscar por uma bobagem qualquer. Pode até parecer arriscado a olhos menos treinados mas, no fundo, meço bastante minhas pisadas pela terra e até mesmo no gelo, onde o risco é maior e está bem mais nas mãos da mãe-natureza, eu procuro ouvi-la e seguir suas orientações, desistindo de um cume mesmo estando muito próximo dele com a facilidade de quem já fez isso várias vezes na vida!

Andar preparado em ambientes naturais é muito mais divertido do que passar frio e fome em alguma montanha gelada por aí. Dormir ao relento porque se escolheu fazer isso é muito mais agradável e prazeroso que ser obrigado a dormir em um chão frio e sem o aquecimento necessário apenas porque queria-se viver uma ‘grande aventura’ (a palavra correta, para mim, neste caso, é burrice e não aventura! Os fabricantes já gastam muito do tempo deles pensando em como melhorar nossas vidas ao ar livre para deixarmos isso de lado apenas por causa de conceitos tolos).

Nada se compara ao conhecimento – Portanto, se eu tivesse de dizer algo sobre segurança, diria que nada se compara ao conhecimento… Faça cursos, aprenda com quem realmente sabe e não com aquele amigo que começou ontem e resolveu te levar ‘para a roubada’ também… E se exercite.

Faça muitas montanhas acompanhado sempre de pessoas mais experientes que você. Aprenda com elas. Observe tudo que fazem. Questione. Não seja um aluno passivo… O tempo e estas pessoas irão te dar o que não existe em nenhum manual de sobrevivência ou curso profissional: experiência.

Este texto foi escrito por: Helena Artmann, especial para o Webventure

Last modified: agosto 29, 2002

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure