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Especial temporada de trekking

Redação Webventure/ Montanhismo, Trekking

Grupo do CTME na reabertura da trilha (foto: Mauricio Clauzet)
Grupo do CTME na reabertura da trilha (foto: Mauricio Clauzet)

Está aberta a temporada de trekking no Brasil: de maio até o final de agosto é a melhor época do ano para as grandes caminhadas, já que este é um período de poucas chuvas e temperaturas amenas.

E para te ajudar, selecionamos cinco travessias clássicas da região Sudeste do país, todas entre os estados de Minas, Rio e São Paulo: Marins-Itaguaré; Serra Fina; Petrópolis-Teresópolis; Trilha do Ouro na Bocaina; e Rebouças-Mauá via Serra Negra, em Itatiaia.

Mas antes de cair na trilha, duas dicas importantíssimas: tenha um bom navegador em seu grupo, munido de um mapa da região, bússola ou GPS, e não se esqueça da lanterna de cabeça com pilhas extras, pois nesta época a noite pode chegar antes das 18 horas.

OBS.: Por falar em Itatiaia, é de lá que vem as boas novas da temporada: foi reaberta a travessia Rebouças-Mauá via Rancho Caído (leia mais informações na última página desta reportagem).

A travessia Marins-Itaguaré é uma caminhada pelas cristas da Serra da Mantiqueira, bem na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Aqui sugerimos iniciar o passeio subindo o Pico dos Marins, o ponto mais alto de São Paulo, com 2.421 metros de altitude, e terminar no Itaguaré, montanha de 2.308 metros bem na divisa dos estados durma próximo ao Itaguaré, alcance o cume na manhã seguinte e, então, comece a descida final. O inverso também é possível.

Como o ideal é fazer o roteiro em dois ou três dias, é bom estar acostumado a carregar uma mochila com itens básicos para o camping alimento, água, fogareiro, roupa de frio, barraca, saco de dormir e isolante. Ao longo da trilha há alguns pontos com água, mas não potável (leve um purificador), e áreas para acampar.

A caminha é relativamente dura, mas recompensada pelo “descanso sobre as nuvens”, com o belíssimo visual panorâmico do Vale do Paraíba, do Pico das Agulhas Negras, da Serra da Bocaina e da Serra Fina.

Ficha limpa

Esteja preparado para andar: 17 quilômetros.

Nível de dificuldade: médio a pesado.

Tempo (recomendado, para aproveitar o visual): de dois a três dias.

Temperatura média: entre 15 e 20 graus de dia; à noite zero, podendo chegar a 10 graus negativos no inverno.

Ponto de partida: a entrada da trilha fica próximo à propriedade particular Acampamento Base Marins, em Piquete (SP) na cidade há serviços de traslado até o local. Dali, são mais 2 quilômetros até o Morro do Careca, início efetivo da caminhada.

Ponto de chegada: no campinho do Itaguaré, às margens da estrada de terra que liga os municípios de Marmelópolis e Passa Quatro (MG). É importante já ter a combinado o serviço de resgate com uma van, pois a chegada é em zona rural, com poucas chances de transporte público.

Dica de quem foi: segundo Luiz Carlos Begliomini Junior, que já fez a travessia duas vezes, o trajeto não é difícil, mas pode cansar. “Peso é o maior inimigo da trilha”, diz. Por isso, ele indica ser seletivo na hora de montar a mochila, evitando itens desnecessários. Luiz conta também que a trilha é bem sinalizada, mas não dá pra confiar só nos totens e nas flechas. “É preciso estar com alguém que saiba navegar com GPS”. Clique aqui para ler relato da travessia publicado no Webventure.

Serra Fina um conjunto de 12 picos, todos com mais de 2.600 metros se localiza entre o Parque Nacional do Itatiaia (RJ) e o conjunto Marins-Itaguaré. A travessia segue basicamente sobre essas cristas, com trechos de escalaminhada e mata fechada.

Além do árduo percurso, o roteiro é temido por causa dos raríssimos pontos de abastecimento de água. Isto significa que, além de todo o equipamento de camping e comida, o trekker deverá carregar, no mínimo, 5 litros de água para a longa jornada de quatro dias.

Um dos 12 picos é o mais alto da Mantiqueira e o quarto do país: a Pedra da Mina, com 2.798 de altitude (clique aqui para saber mais). Outros famosos são o Alto do Capim Amarelo (2.570 metros) e o Pico dos Três Estados (2.665 metros), este bem na fronteira de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Ficha limpa

Esteja preparado para andar: 40 quilômetros

Nível de dificuldade: difícil.

Tempo (recomendado, para aproveitar o visual): de três a quatro dias.

Temperatura média: agradável durante o dia, mas, à noite, pode gear. Já houve casos de precipitação de neves nos cumes.

Equipamento indispensável: um saco de dormir para frio intenso.

Ponto de partida: a trilha começa na Fazenda Toca do Lobo, na estrada entre Cruzeiro (SP) e Passa Quatro (MG) na cidade mineira há algumas pousadas que oferecem o serviço de transporte até o começo do percurso, seguido do resgate.

Ponto de chegada: no sítio do Pierre, na estrada entre o distrito de Engenheiro Passos (RJ) e Itamonte (MG), pertinho da entrada do Parque Nacional de Itatiaia.

Dica de quem foi: Jader Alvarado Ganzaroli já fez a travessia e destaca sua difícil navegação. Ele também diz para não deixar fitas soltas do lado de fora da mochila. “Elas se prendem facilmente nos galhos, podendo minar a energia do viajante”. Já o caminhante Adilson Moralez, que já fez grandes travessias fora do Brasil e três vezes a Serra Fina, diz ser imprescindível contratar o guia, se não houver alguém que já conheça o percurso ou não seja um bom navegador. “O local é totalmente isolado e se perder por lá é muito fácil.”

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ) oferece a maior rede de trilhas do Brasil, com 130 quilômetros somados. Entre elas, a Travessia Petrópolis-Teresópolis é a mais famosa aqui recomendamos sair de Petrópolis e terminar em Teresópolis, para poder observar de frente a cadeia de montanhas.

Por ficar dentro de um parque nacional, é necessário pagar ingresso e uma taxa de trilha. E para fazê-la sem guia, assinar um termo de responsabilidade. Superada a burocracia, é só dar o primeiro de muitos passos, num percurso de aproximadamente 30 quilômetros de subidas e descidas.

A caminhada no primeiro dia (de três) é curta, porém intensa. Depois de 7 quilômetros, com alguns trechos erodidos e de atalhos, chega-se à montanha chamada Castelos do Açu, onde há um abrigo para a pernoite.

Já o esforço do segundo dia é recompensado pela esplendorosa vista da Pedra do Sino, com seus 2.275 metros. Caso o tempo esteja ruim, opte por chegar ao cume dela no terceiro e último dia. E uma boa notícia: água não é problema e há vários pontos de abastecimento. Mas é bom levar um purificador.

Ficha Limpa

Esteja preparado para andar: 30 quilômetros.

Nível de dificuldade: difícil.

Tempo (recomendado, para aproveitar o visual): três ou quatro dias.

Temperatura média: de 15 a 20 graus durante o dia. À noite, até dez negativos.

Esticando o isolante: no Castelos do Açu há um abrigo para 30 pessoas, com cozinha e banho quente, o local perfeito para dormir no primeiro dia lá em cima, só camping selvagem. A cama custa 30 reais e dormir no chão, 20. Há também espaço para acampar (70 vagas) gratuitamente, com banho avulso por 10 reais. Mas é bom chegar cedo para reservar lugar, principalmente em feriadões. Outras informações pelo telefone (24) 3352-1461.

Ponto de partida: portaria do PNSO em Petrópolis (RJ), no bairro do Bonfim para chegar, siga as placas para as pousadas Cabanas do Açu e Paraíso do Açu, vizinhas do parque.

Ponto de chegada: sede do PNSO em Teresópolis (RJ). Clique aqui para visualizar o roteiro completo no mapa.

Dica de quem foi: O paulista Marcelo Fernandes encarou a travessia sem guia, mas com um experiente navegador. Ele diz que preparo físico é importante, mas mais crucial é o preparo psicológico, já que nem sempre as coisas saem da maneira esperada. “É preciso ter calma para enfrentar o mau tempo, erros de navegação por causa da neblina e noites mal dormidas. Tudo isso com uma mochila de 20 quilos nas costas!”. Por isso o militar Claudney Neves diz que um bom guia é essencial para um passeio tranquilo. “Ele pode ser a diferença entre o sucesso e fracasso da trip.”

A Travessia do Parque Nacional da Serra da Bocaina também é conhecida como a Trilha do Ouro por ter sido utilizada por escravos no século 18 para transportar o precioso metal de Minas Gerais até a cidade de Paraty, no litoral fluminense.

A região guarda uma das maiores extensões de mata atlântica preservada, além de vários trechos centenários de caminho colonial. Assim, o roteiro de três dias é alternado entre estradas de terra e trilhas de calçamento, em meio às serras do Mar e da Mantiqueira.

São 55 quilômetros, com subidas e descidas, mas não muito extenuantes. Entre as atrações estão o Pico do Tira Chapéu, no Morro da Boa Vista (2.200 metros de altitude) e a Cachoeira dos Veados, no vale do Rio Mambucaba.

O bom é que não há a necessidade de levar material de camping, apenas lanche de trilha os pernoites e as refeições são nas casas de fazendeiros locais. Mas, agende com antecedência a visita e a autorização para entrar no parque pelos telefones (12) 3117-2183 e 2188.

Ficha Limpa

Esteja preparado para andar: 55 quilômetros.

Nível de dificuldade: médio (o caminho é largo, bem definido e sem obstáculos).

Tempo (recomendado, para aproveitar o visual): três dias.

Temperatura média: quente de dia. De madrugada, pode chegar a 4 graus.

Ponto de partida: exatamente na entrada do parque, a 27 quilômetros de São José do Barreiro (SP), no Vale do Paraíba.

Ponto de chegada: na cidade de Mambucaba (RJ), entre Angra dos Reis e Paraty, no litoral fluminense. Clique aqui para ler outras informações sobre o trajeto completo.

Dica de quem foi: acostumado a trekkings pesados, Jorge Soto achou fácil a caminhada, mas o mínimo de preparo é necessário ele recomenda a trilha aos que estão começando a curtir o mato. E ele alerta para o trecho de calçamento colonial: “É bem escorregadio e os tombos são inevitáveis”. Portanto, primeiros socorros com pomadinhas musculares são bem-vindos.

O que esperar de uma caminhada que liga o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) à região de Visconde de Mauá (RJ)? Muita paz, friozinho, ar puro e paisagens montanhosas de tirar o fôlego.

A aventura de dois dias corta o Vale do Rio Airuoca, uma porção da mata chamada Serra Negra, daí o nome da travessia. O trajeto não é difícil, exceto pela Subida da Misericórdia, com seus 1.500 metros de ladeira superinclinada. Ele também passa pela Cachoeira do Aiuruoca, e por duas construções de madeira conhecidas como Cabanas do Aiuruoca.

Como a região é de pequenas propriedades rurais, não é raro cruzar com os homens do campo montado em suas mulas, carregadas de queijo e mel fresquinhos. E é na casa dos locais também o melhor lugar para dormir. Algumas delas são adaptadas para receber os turistas, com refeição incluída.

Ficha Limpa

Esteja preparado para andar: 25 quilômetros.

Nível de dificuldade: médio.

Tempo (recomendado, para aproveitar o visual): dois dias.

Temperatura média: de 15 a 20 graus durante o dia e até dez negativos à noite.

Esticando o isolante: a pernoite é em uma área particular conhecida como Matão, onde mora a família do senhor Anísio. O parque não faz reserva. Chegando lá, não se esqueça de encomendar um jantar com trutas fresquinhas.

Ponto de partida: no Abrigo Rebouças, dentro do parque. É necessário agendar a ida com no máximo 30 dias de antecedência e no mínimo 10, pelo telefone 24/3352-1461 ou e-mail usopublicopni@ymail.com. O parque também cobra ingresso.

Ponto de chegada: na Vila de Maromba, em Visconde de Mauá (RJ), perto da Cachoeira do Escorrega.

Dica de quem foi: William Richoppo e Alex Vieira já fizeram a caminhada mais de uma vez e sempre ficam impressionados com a imponência das montanhas e a diversidade da natureza local. William diz que logística é fundamental: combine de alguém resgatá-lo no fim da trilha, em Maromba, ou checar os horários de ônibus. Já Alex alerta para a necessidade de abastecer o carro antes de subir a serra, ainda na Dutra, já que em cima não há posto de combustível.

Depois de mais de 10 anos, foi reaberta a tradicional travessia Rebouças-Mauá via Rancho Caído, dentro do Parque Nacional do Itatiaia (RJ). A reinauguração oficial do percurso de 20 quilômetros foi realizada em junho pelos integrantes da Câmara Técnica de Montanhismo e Ecoturismo do PNI (CTME).

São dois dias de caminhada, com 11 quilômetros leves no primeiro até chegar ao Rancho Caído, onde dá para pernoitar. No dia seguinte, mais 9 quilômetros descendo até o Vale do Rio das Cruzes, e depois seguindo por uma estrada já fora do parque até a cidade de Visconde de Mauá (RJ).

“Eu não conhecia e achei muito lindo”, disse Mauricio Clauzet, do CTME, na lista de discussão Hang On. “No primeiro dia tem duas subidas significativas (…). A visão da face norte do Pico das Agulhas Negras também é algo que não estamos acostumados a ver”, contou o montanhista, que esteve na reabertura. “Já o Rancho Caído é apenas o nome da localidade, pois não há mais rancho algum (…). Tem água logo ao lado e é necessário levar barraca e equipamento de camping.”

Outra novidade é que agora a caminhada Rebouças-Ruy Braga, que já estava aberta, também pode ser feita subindo (saindo da sede do parque e seguindo para o Abrigo Rebouças). Até então, apenas o contrário era permitido. “Mas, pedimos aos primeiros a fazerem a trilha que tenham um pouco de paciência, pois ainda é possível topar com algum funcionário desinformado na parte baixa do parque (onde agora também é o começo da trilha e se pagam as taxas de entrada)”, informou Mauricio.

A terceira travessia a partir do Abrigo Rebouças e também já permitida há anos é a da Serra Negra, indicada nesta reportagem, na página anterior.

Este texto foi escrito por: Paloma Denaro, especial para o Webventure

Last modified: junho 27, 2011

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