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No último relato, Waldemar Niclevicz conta os terríveis momentos que passou no Annapurna

Redação Webventure/ Montanhismo

Niclevicz (de vermelho) considerou que a melhor decisão era desistir do Annapurna (foto: Waldemar Niclevicz)
Niclevicz (de vermelho) considerou que a melhor decisão era desistir do Annapurna (foto: Waldemar Niclevicz)

O paranaense Waldemar Nicleviz dedicou a última temporada no Himalaia para tentar escalar o Annapurna. Por conta de diversas avalanches ele acabou abandonando o projeto e agora está finalmente de volta ao Brasil. Leia abaixo o relato final do montanhista sobre os dias que passou escalando nas cordilheiras.

Estimados Amigos,

Felizmente já estou de volta ao meu amado Brasil, depois de 71 dias de viagem, que incluíram, além da conturbada expedição ao Annapurna, minha primeira visita a Índia, onde estive por duas semanas.

Definitivamente, esta primavera foi uma das piores temporadas do Himalaia dos últimos tempos. Não apenas nós, que fomos ao Annapurna, tivemos sérios problemas, mas praticamente todos que enfrentaram alguma montanha no Nepal ou no Tibete, inclusive aqueles que estiveram no Everest (onde aconteceu quatro mortes).

Antes de eu deixar Kathmandu e seguir para a Índia, tive um dos momentos mais marcantes de toda a viagem no dia 11 de maio, ao me reencontrar com meus amigos que haviam decidido ficar no Annapurna. Pareciam estar voltando de um campo de batalha, abatidos, magros, com sério risco de sofrerem amputações em razão dos congelamentos.

Por quem eu mais sentia compaixão era Guntis Branbs, um simpático suíço que vive em Zermatt, aos pés do Matterhorn. Ele mal conseguia falar, sua voz era quase como um incompreensível chiado, sua garganta ainda estava queimada pelo frio, todos os dedos de suas mãos, envolvidos por esparadrapos e gazes, haviam sofrido algum congelamento.

A ponta do seu nariz estava preta pelo mesmo motivo e seus olhos se enchiam de lágrimas ao relatar o suplício que havia vivido na tentativa de chegar ao cume do Annapurna, frustrada a pouco mais de duzentos metros do ponto mais alto.

O espanhol Sechu Lopez estava feliz, mas sensivelmente abatido. Logo me chocou ao mostrar um dedão do pé totalmente preto, que provavelmente será amputado. Preço caro pela árdua conquista do Annapurna.

Além do Guntis e do Sechu, também me encontrei com o meu amigo iraniano Azim Gheichisaz e com o peruano Richard Hidalgo. Mesmo abatidos, estavam em perfeito estado de saúde e, embora melancólicos devido à sofrida experiência, estavam felizes, pois também haviam conseguido finalizar a escalada com sucesso.

Meus amigos relataram com detalhes tudo o que aconteceu depois que eu e o Carlos Soria resolvemos dar por encerrada nossas tentativas de escalar o Annapurna e, em cada nova informação, eu silenciosamente agradecia a Deus por ter tomado a decisão de desistir da escalada.

Sete pessoas no cume, quatro com congelamentos graves, uma morte. Sempre repito que nenhuma montanha vale a vida de um homem, nem mesmo a de um dedo amputado em razão de um congelamento. Não quero com isso justificar a minha desistência, mas apenas lembrar o que eu já havia dito antes, após a nossa primeira tentativa de chegar ao cume:

Assim é a montanha, sempre impondo a sua grandeza, e assim segue o homem, sempre buscando coragem para enfrentá-la. Uma simples decisão pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, a vida e a morte. Que Deus continue me dando consciência para tomar as decisões corretas.

Namastê!

Este texto foi escrito por: Da Redação

Last modified: maio 31, 2012

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