O verão está ai e uma das atividades mais procuradas é o mergulho em apneia ou mergulho somente com o ar dos pulmões ao longo de nossa extensa costa. O mundo subaquático é belo, mas reserva algumas particularidades. Para mergulhar com segurança é preciso se sentir bem na água e uma das primeiras sensações quando imergimos é a de uma enorme pressão, sobretudo nos ouvidos, o que poderá assustar o iniciante no esporte.
Muitos tomam um susto tão grande que nem seguem no mergulho, outros forçam os ouvidos até o ponto de castigar o corpo e se machucar, outros com alguma facilidade ou habilidade nata conseguem passar por este momento sem muitas complicações. O fato é que o primeiro passo sempre deveria ser o de realizar um curso. A informação é sempre a principal aliada, preparando o mergulhador para a prática com segurança.
Para entender o que acontece no momento da imersão é preciso entender que ao inspirarmos o ar na superfície e retermos este volume de ar para realizarmos o mergulho estaremos estocando ar dentro de um circuito fechado que envolve: área interna da máscara de mergulho, nariz, nasofaringe, ouvido médio, cavidades aéreas da cabeça indo até os pulmões.
Participe do Toughman Brasil. Clique aqui e inscreva-se!
Ao iniciarmos o mergulho indo para o fundo do mar passamos por uma modificação de pressão que causará um efeito em todas as cavidades corpóreas preenchidas pelo ar. Quanto mais fundo descermos, maior será esta pressão acumulada. A cada dez metros aumentamos uma atmosfera (1 atm). É aquela desconfortável sensação de aperto na máscara, no ouvido, na garganta e no peito, porque o ar esta sendo comprimido devido à pressão.
As menores áreas com ar serão as primeiras a sentirem tal efeito com maior intensidade. Os ouvidos são tão importantes para o mergulhador quanto os joelhos para o jogador de futebol. Se tentarmos mergulhar sem equalizar tais áreas seremos barrados pelo efeito da pressão logo nos primeiros metros. Sentiremos um aperto (vácuo) seguido de dor nos ouvidos.
Mas e ai? Como eu faço isto? Será necessário deslocar o ar para o ouvido médio (área isolada que está sofrendo com a compressão) através do canal chamado de tuba auditiva. O primeiro passo é identificar como se abre este canal (tuba) para poder enviar o ar para a área do ouvido médio. Movimentos como semi deglutir (engolir), bocejar, mover o maxilar para frente e para os lados e assoprar o ar contra as narinas tampadas darão a abertura deste canal e então a manobra de equalização se completará restabelecendo a pressão na região.
Neste momento tão importante cabe lembrar que a melhor manobra de equalização, a mais econômica e segura é a Frenzel (não a Valsava). A diferença crucial é identificar de onde você faz a pressão de ar contra as narinas pinçadas, na valsava você pressiona o ar com o abdômen, na Frenzel a pressão é feita na região da garganta.
O ouvido poderá sofrer desde o mais leve barotrauma (grau I) até o a mais grave (grau IV) com o rompimento do tímpano, gerando tontura, desorientação e desmaio. Os olhos poderão sofrer um vácuo tão grande que a máscara fará o efeito de uma ventosa contra seu rosto, rompendo vasos sanguíneos da região. São condições de saúde que dificultam a manobra: gripe, sinusite, rinite, adenoide, pólipos nasais, desvio de septo que agrave uma das situações anteriormente citadas.
Outras situações poderão ocorrer no lado psicológico que afetarão fisicamente e diretamente a manobra: o stress que tenciona a musculatura da região cervical; a ansiedade para ver o fundo do mar, com o direcionamento da cabeça para baixo, gera uma hiperextesão da musculatura que envolve a manobra e dificulta a sua execução. Fatores ambientais também poderão afetar o emocional e gerar problema para equalizar os ouvidos: água fria, gera tensão; água suja, provoca dificuldade de visualização e tensão.
Seguem algumas dicas para que você tire de letra este momento debaixo da água:
1. Opte por máscaras de mergulho com o menor volume interno;
2. Opte pela manobra mais segura e econômica (Frenzel);
3. Equalize a máscara e o ouvido simultaneamente;
4. Equalize desde o primeiro um metro, assim que fizer sua imersão na água;
5. Equalizar atrasado poderá bloquear a tuba e encerrar o seu mergulho;
6. Só bata as pernas fortemente quando já tiver equalizado (é muito comum estar mais preocupado em chegar no fundo do mar do que cuidar dos ouvidos, acabamos acelerando a batida das pernas, mas não coordenamos corretamente com a equalização);
7. Mantenha a calma, repita várias vezes o mergulho, aos poucos você irá afinando a coordenação entre a velocidade da descida e a necessidade de equalizar;
8. No início dê prioridade para um mergulho mais calmo, dando total atenção para os seus ouvidos;
9. Não espere muito para fazer a manobra, faça a manobra assim que sentir a pressão;
10. Sentiu dor? Foi porque passou do ponto para equalizar e já está sofrendo um barotrauma, o ideal é sempre parar o mergulho quando não conseguir equalizar;
11. Retorne a superfície, descanse, compense na superfície, tentando identificar se os dois ouvidos estão liberados. Somente após isto reinicie o mergulho;
12. Jamais use tampões no ouvido para mergulhar!
13. Use capuz para manter a região dos ouvidos aquecida e sem tensão;
14. Fique atento para a região externa do ouvido, onde poderá ocorrer um bloqueio com o próprio capuz. Basta deixar a água entrar antes ou durante o mergulho!
15. Durma bem;
16. Evite laticínios;
17. Hidrate-se;
18. Não mergulhe gripado, com sinusite ou rinite, problemas de refluxo gástrico;
19. Evite enjoos e vômitos, a acidez na região das vias aéreas aumentará o muco e a dificuldade para compensar.
Este texto foi escrito por: Karol Meyer
Last modified: outubro 30, 2017