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Volta a Ilha de Santa Catarina a nado

Redação Webventure/ Outros

Gustavo foi um dos nadadores que participaram do desafio de contornar a ilha de Santa Catarina nadando. A história, contada por ele em detalhes, fala de águas ora calmas e ora como um liqüidificador, e até do encontro com uma baleia. Confira e faça como ele, mande sua história também!!

O desafio consistia em dar a volta à Ilha de Santa Catarina (145 km), fazendo revezamentos entre os dez nadadores e os seis caiaqueiros, os quais acompanhavam em dupla cada nadador. A equipe foi formada pôr três nadadores com mais de 30 anos (Sadan, Zico e Luiz Fernando), três nadadoras (Isabela, Isabel e Janaina) e mais quatro de livre escolha (Caique, Bernardo, Dayan e Gustavo), os seis caiaqueiros (Alexei, Chris, Gissu, Dudu, Wedekin e Gustavo), três organizadores (Vitor, Marcos e Fábio), dois responsáveis pelo auxílio terrestre (Walter e Cássio), duas barqueiras (Fernanda e Janice) e mais duas que ajudavam na cozinha (Andresa e Beth).

Foram dois meses de preparação antes da prova ser realizada. Nós tínhamos que conseguir dois caiaques, um barco e patrocínios, além da própria equipe, para a qual ainda faltavam alguns integrantes. Cinco dias antes, nossa equipe ficou completa e conseguimos ajuda da FCDU (Federação Catarinense de Desportos Universitários), da Sócio Ambiental e do Zoca, que cedeu um caiaque oceânico.

A prova começou no dia 29 de dezembro de 2000, às 9h, em frente à avenida Beira Mar Norte, bem no centro de Floripa, e seguiu o sentido anti-horário da Ilha, passando pela Baía Sul, toda costa Leste e, por fim, entrando pela Baía Norte. O dia estava ensolarado, sem vento, a água era quente e com pouca corrente: perfeito para o início da prova. Todos estavam ansiosos pela largada.

Ponte e água-viva – O primeiro trecho passou pôr baixo da ponte Ercílio Luz, que liga a ilha ao continente. Segundo Isabela, a maior dificuldade foi nadar os 5,5 km no meio da poluição. Já o segundo trecho pareceu ser mais tranqüilo, apesar da distância de 9,2 km. Os nadadores Bernardo e Zico puderam se revezar na embarcação. Nos dois trechos, a dupla Alexei e Chris acompanhou os nadadores.

O terceiro trecho foi o mais curto de toda prova, com 3,4 km, e foi realizado pelo nosso nadador mais velho, o “Sadan” (40 anos), que foi o primeiro a sentir as águas-vivas queimando pelo caminho. Logo em seguida, entrou a nadadora mais jovem da equipe, Janaína (18), e ela fez o trecho de 4,5 km. Nesses trechos trocou-se os caiaqueiros e entraram o Dudu e a Gissu.

O quinto trecho foi um dos mais longos da prova – tinha 7,3 Km -, feito pôr apenas um nadador. A Isabel então fechou a Baía Sul. A partir dali, veio a curva de Naufragados. Este trecho é muito estreito e profundo, com fortes correntezas atuando.

Liqüidificador – O Caíque pegou este trecho de 4,5 km e a correnteza estava em maré de vazante -0.8, o que tornou a primeira metade uma verdadeira corredeira. Ao fazer a curva (a parte mais estreita do trajeto), as águas da Baía e a ondulação oceânica de sudeste, que estava atuando, se encontraram tornando o trecho igual a um liqüidificador, onde tanto os nadadores como os caiaqueiros (Wedekin e Gustavo) penaram para passar.

A próxima metade parecia uma piscina… as águas já estavam protegidas pela praia. O trecho seguinte foi noturno e começou em torno das 8h30. Tive que vestir a roupa de neoprene comprida porque as águas da parte leste estavam mais frias e o trecho possuía 6,2 km só beirando o costão rochoso.

Passada metade da prova, começou a trovejar e cair muitos raios e não demorou para começar a desabar um tremendo pé-d’água. O trecho começou a complicar principalmente para os caiaqueiros (Alexei e Chris), que sofriam com o vento e a ondulação, e eles vomitaram por boa parte do trecho. Devido as más condições do tempo, a etapa aumentou em 1,8 Km para que chegássemos a uma praia mais protegida. O caiaque do Alexei virou para vencer a arrebentação e o da Chris quebrou o leme.

O próximo trecho passou a ser o mais curto, com apenas 2,5 km, em águas abrigadas, e teve a largada perto da meia-noite. O Dayan foi quem “se deu bem”. Já o nono trajeto começou à 1h e foi uma das mais difíceis, em torno de 10,6 km. Os nadadores Luiz Fernando e Zico tiveram de enfrentar a forte ondulação, maré de retorno, muitas águas-vivas que causaram desmaios e vômitos aos nadadores, sem contar as redes de pesca que atrapalharam o trajeto. Neste trecho, a dupla Dudu e Gissu teve muita preocupação com os nadadores.

No trecho seguinte, de 6,7km, teve-se o privilégio de ver o sol nascer em meio às nuvens. O que parecia paradisíaco se tornou difícil devido à enchente da maré, que dificultou a natação do Bernardo e a remada da dupla Gustavo e Wedekin. Logo depois o Caíque, acompanhado pelo Alexei e pela Chris, seguiu até a praia da Joaquina, percorrendo desgastantes 7,3 km.

O vento toma conta – Logo após entrou a Isabela, revezando comigo, começando no costão da Joaquina e passando pelas praias Mole e Galhetas, com chegada na Barra da Lagoa. Foi aí que o vento sul começou a apertar arrancando as bandeiras de identificação dos caiaques da Gissu e do Dudu e aumentando a ondulação para um metro de desnível entre a crista e a base da onda, no total foram 9,2 km.

Daquele ponto em diante, o vento não parou até o fim do dia e, no trecho seguinte, a ondulação já chegava a dois metros e os caiaqueiros Gustavo e Wedekin apanharam para conseguir se manter acima da água. As nadadoras Isabel e Janaina se revezaram neste trecho de 10,6 km e tiveram o privilégio de nadar ao lado de uma baleia Minke, de aproximadamente nove metros – no início, todos pararam e ninguém queria cair na água…

A etapa que se seguiu teve 3,5 km a menos devido à maré de retorno que empurrava para as rochas do costão. Sendo assim, o Sadan teve que encarar um trecho de 5,5 km sozinho e com muitas águas-vivas, que tinham que ser tiradas do meio do caminho para se poder nadar. Devido à ondulação, os caiaques do Alexei e da Chris chegaram cheios d’água e o dela ainda teve que ser rebocado pelo bote até a praia.

Foi durante este trecho que um dos botes dos bombeiros, no qual estavam um bombeiro e um nadador, apagou o motor e não conseguiu chamar por socorro. O bote ficou à deriva durante 18 horas e, pôr motivo de segurança, a prova teve que ser paralisada e recomeçada somente no dia primeiro de janeiro de 2001, às 8 horas, quando eles foram reencontrados.

Os últimos na água – Faltavam apenas sete nadadores caírem na água para acabar o percurso. Só restava a Baía Norte, onde as águas são abrigadas e praticamente sem correnteza. O primeiro a nadar foi o Zico, completando um trecho de 4,2 km. Logo após foram para a água o Caíque e o Bernardo, nadando em revezamentos curtos, forçando muito o ritmo da natação. O percurso foi de 8,2 km. E nestes dois trechos a Gissu e o Gustavo acompanharam os nadadores.

Logo depois caímos a Isabel e eu, junto com o Alexei e o Wedekin, que não se revezaram mais, para fazer um trecho de 9 km. Este foi o trecho mais raso da prova, devido à enorme quantidade de bancos de areia, e teve a chegada mais emocionante com apenas 20 segundos de diferença entre nós e o terceiro colocado.

No penúltimo trajeto, o mar começou a ficar mais poluído. Foi o Sadan quem encarou este que era o maior trecho individual do dia, com 5,7 km e repleto de águas-vivas. Daí para frente era só esperar a Isabela chegar na praia da avenida Beira Mar Norte, nadando o último trajeto de 4,9 km e chegando ao entardecer.

Foi uma emoção muito grande para todos poderem ter nadado trechos que, somados, percorreram os 145 km do perímetro da Ilha de Florianópolis e cumprido o objetivo com apenas bons momentos entre amigos. O nosso último desafio do milênio nós fizemos e só estamos aguardando para participar do próximo, em novembro de 2001.

Agradecemos a todos que estiveram juntos e acompanharam os quatro dias do desafio, porque a maior satisfação não foi dar a volta a nado ou de caiaque e sim formar amigos que, a qualquer momento, estavam prontos para ajudar.

Este texto foi escrito por: Gustavo Fonseca

Last modified: abril 27, 2001

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