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Serra Geral: mais um Parque Nacional fechado

Redação Webventure/ Aventura brasil

Ponte que atravessa o Parque Nacional do Itatiaia. (foto: Divulgação.)
Ponte que atravessa o Parque Nacional do Itatiaia. (foto: Divulgação.)

Quem não conhece o Parque Nacional da Serra Geral, pode imaginá-lo. Como uma continuação do Parque Nacional dos Aparados da Serra, ele possui uma área de 17.300 hectares. Está localizado nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e a cidade mais próxima da unidade é Cambará do Sul, que fica a 190 Km de Porto Alegre(RS).

A grande atração do Parque Nacional da Serra Geral são os mais de 60 cânions, entre eles o Malacara e o Fortaleza, este com sete quilômetros de extensão, um dos mais conhecidos do país. O Parque também tem lindas cachoeiras e espécies raras da fauna e flora.

De acordo com João Paulo Lucena, diretor da ACASERG (Associação Cânion da Serra Geral) o Parque Nacional dos Aparados da Serra possui um sistema rigoroso de fiscalização por parte do Ibama, e o camping na área da unidade, por exemplo, é proibido. Mas com a forte repressão por parte dos fiscais, os visitantes que buscam maior liberdade vão ao vizinho Serra Geral. Lá a fiscalização por parte do Ibama praticamente não existe.

A área do Parque, até hoje, desde sua fundação em 20 de maio de 1992, não foi totalmente desapropriada. Com isso, os proprietários que ainda restam no local, não impedem que os visitantes adentrem ao Parque, mas não deixam que o Ibama faça a fiscalização. Sendo assim, os visitantes muitas vezes aproveitam o excesso de liberdade para deixar lixo nas trilhas e fazer fogueiras. Atividades de caça, incêndios e desmatamentos são os principais problemas que o Parque enfrenta no momento. “O Ibama alega falta de verba para deslocar funcionários para a o Parque Nacional da Serra Geral”, diz João Paulo.

O chefe do Ibama no Parque Nacional dos Aparados da Serra e da Serra Geral, Fernando Athayde Nóbrega, diz que sempre existiram fiscais nas áreas, mesmo quando os proprietários não permitem. “Quando há necessidade nós entramos na área, sim”, diz o chefe do Parque.

“Algumas atividades e alguns locais foram fechados para a proteção do ecossistema, pois a natureza está sendo muita agredida, com lixo e queimadas. O Parque foi fechado independente do comportamento dos proprietários”, completa.

Acidentes no Serra Geral – No verão deste ano, um turista holandês, que estava hospedado próximo ao cânion Malacara, saiu para fazer um passeio sozinho, sem o acompanhamento de um guia e sem equipamentos de segurança. Ele se acidentou e morreu. Pouco tempo depois, menos de um mês, um estudante estava acampando com uns amigos no Parque, se embriagou e também saiu sem guia e equipamentos de segurança. Ele caiu, sofreu lesões graves e precisou ser resgatado pelos bombeiros.

Segundo freqüentadores do Parque, os acidentes ocorreram em locais onde os fiscais não conseguem entrar, porque os proprietários da terra não permitem. Mas, segundo o chefe do Ibama na unidade, existem 42 funcionários trabalhando no Parque da Serra Geral e, no cânion Fortaleza, dois guardas-parque do Ibama fazem a proteção e dão instruções 24 horas por dia aos visitantes.

O Ibama achou como medida mais adequada fechar o Parque. Ele ficará fechado por 180 dias, a partir do dia 7 de agosto passado. O acesso ao Parque, desde que foi fechado, está permitido por apenas uma estrada. No momento existe somente uma casinha no Serra Geral, que funciona como posto do Ibama.

Plano de Manejo – O Parque Nacional dos Aparados da Serra e da Serra Geral sempre foram tratados pelo Ibama como sendo um só. Mas agora está sendo estruturado um novo plano de manejo para o Parque Nacional da Serra Geral. “Este novo plano de manejo vai dar uma melhor adequação à infra-estrutura do Parque. Ele vai nortear as ações do Ibama e mostrar qual o melhor local que pode ser construído um posto de fiscalização, por exemplo”, disse o chefe do Parque.

Segundo ele, os visitantes acham que o Parque Nacional da Serra Geral está abandonado porque, ao contrário do Parque Nacional dos Aparados da Serra lá não existem construções arquitetônicas, é tudo muito livre e não tem nem banheiro público. Mas o plano de manejo vai mudar esta situação, e até uma guarita maior será construída para os fiscais do Ibama.

Os integrantes da ACASERG, que tem como objetivo a preservação e conscientização ambiental e a divulgação do canionismo, têm ajudado voluntariamente o Ibama, fazendo o levantamento topográfico da região. Isso porque eles entram sem controle por parte dos proprietários nas áreas em que os fiscais do Ibama não conseguem entrar. No dia 15 de novembro o Parque iria receber o 3º Encontro Nacional de Canionismo. Resta saber se isso será possível.

Fogo no Itatiaia – No dia 17 de julho do ano passado, o paulista Rodrigo Florio Moser, de 22 anos, e um menor de 14 anos que o acompanhava, atearam fogo na mata no Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro, porque estavam perdidos e resolveram acender uma tocha para chamar a atenção. O incêndio destruiu 600 hectares do Parque. Rodrigo foi multado em R$ 900 mil pelo Ibama.

O mais interessante é que os garotos usaram os panfletos do projeto Montanha Limpa, no qual estavam escritos os procedimentos corretos na mata, para fazer a chama. O fogo se alastrou durante uma semana, e só foi controlado pela ação dos bombeiros e pela forte chuva que caiu na região.

A área que foi atingida pelo incêndio, que corresponde a 10% do Parque e é onde estão localizadas as Prateleiras, ficou fechada por seis meses. O chefe do Ibama em Itatiaia, Léo Nascimento, disse que durante este tempo a área ficou lacrada, servindo apenas como objeto de estudo. “Hoje, visualmente, a área está recuperada, mas perdemos muitas espécies”, lamenta Nascimento.

O Parque Nacional do Itatiaia recebe cerca de 72.000 visitantes por ano. Segundo o chefe do Parque, 90% das pessoas que freqüentam a unidade respeitam o ecossistema e 10%, não. “Geralmente as pessoas que não respeitam a natureza são da classe média-alta ou alta, que têm acesso à cultura, à informação, e fazem isso por maldade”, completa Nascimento.

O Parque Nacional do Itatiaia tem 14 funcionários públicos e quatro fiscais, e faz divisa com os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Segundo o chefe do Parque, 80% dos funcionários já poderiam se aposentar, mas não o fazem por amor à natureza. “Eles são os verdadeiros heróis deste ecossistema”, diz.

“Protegemos a fauna, a flora, a água em benefício do ser humano. Mas, infelizmente, ele é o próprio predador”, lamenta o chefe do Parque Nacional do Itatiaia. Léo Nascimento sente falta das propagandas governamentais de conscientização à população. “Ainda temos esperança de que um dia isso irá mudar”, completa.

Este texto foi escrito por: Camila Christianini

Last modified: agosto 30, 2002

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