Por Bruna Moraes
A comparação entre o Havaí e a Ilhabela nunca foi tão assertiva como no caso da surfista de ondas gigantes Andréa Möller. Nascida em São Paulo-SP, ela foi morar ainda criança no arquipélago brasileiro e vive há 15 anos em Maui, no Havaí, onde surfou a onda que lhe garantiu o prêmio de “maior onda surfada por uma mulher na remada (sem o auxílio do jet-ski)” e a entrada para o Guiness Book.
De volta à terra natal durante as férias escolares da filha, Andréa conversou com a reportagem do WebVenture em um quiosque de frente para o mar na praia de Itaquanduba, onde está localizada a Marina Porto Ilhabela, negócio da família, que sempre incentivou o seu amor pelo mar.
“A Ilhabela me proporcionou momentos que poucas crianças tiveram. Para uma criança que cresce em um apartamento de grande metrópole, precisa ir para academia, ter um técnico ensinando, aqui a natureza me ensinava”, lembra.
Antes de começar a se aventurar nas ondas gigantes, Andréa praticou diversos outros esportes. Na infância, explorou todo o potencial da Ilhabela, tanto por mar quanto na terra, se tornou remadora de canoa polinésia e, já no Havaí, ajudou a dar início a uma atividade muito popular atualmente, o Stand up Paddle.“Comecei com uma aventura, pedimos para um shapista colar dois blocos de pranchas de surfe. Na época foram 13 pés, as pessoas tiravam sarro porque era muito grande e nem caberia no carro, mas hoje as pranchas de downwind para canal são de 18 pés”, relembra.
A aventura deu certo e mesmo com uma prancha improvisada, Andréa e os amigos conseguiram concluir o desafio de cruzar o canal de Molokai 2 Oahu, feito que ela repetiu muitas vezes depois: “fizemos a parte de cima com antigrip de vidro, o pé machucava, mas queríamos fazer essa aventura. Quando ainda ninguém fez, você tem essa vontade de desbravar. Isso foi em 2005, a primeira travessia. Depois, fiz todo ano até 2016”.Na mesma época em que improvisou a prancha de SUP, Andréa começava também a se aventurar como big rider, já que para surfar no Havaí, especialmente entre outubro e janeiro, é preciso encarar as famosas ondas gigantes.
“Lembro de ter visto os homens fazendo tow-in e quem me influenciou muito a começar foi a brasileira Maria Souza, ex-mulher do Fred Hamilton, famoso por ondas grandes e que na época era o top do top. Os homens não queriam nos levar junto, no máximo deixavam a gente pegar o rabinho do rabinho da onda”, lembra.
O tow-in é a modalidade de surfe de ondas gigantes com o auxílio de um jet-ski, que ela e a amiga Maria fizeram uma vaquinha para comprar. No entanto, quando as ondas não estavam tão grandes, não era possível utilizar a moto aquática e foi em um dia assim que Andréa deu o primeiro passo para entrar na história do surfe mundial.
“Quando o mar não está tão grande, as pessoas não queriam cair de jet-ski. Lembro de ter ligado uma vez pra Maria, ela não podia surfar, liguei para o Yuri Soeldad, um brasileiro big rider, e perguntei onde ele iria. Ele falou que iria pra Jaws cair na remada, passei na casa dele com uma pranchinha, ele falou que não era a prancha ideal, me emprestou a dele, fui a primeira mulher a cair em Jaws e, a partir daí, vi que realmente era possível”, afirma.
Quase 10 anos depois, na mesma Jaws, Andréa surfou uma onda que em 2019 lhe renderia o prêmio de “Maior onda surfada na Remada” no Big Wave Awards, premiação organizada pela World Surf League.“Quando o Bill Charter (criador do prêmio) me avisou que teria a categoria de maior onda surfada na remada, eu mandei uma foto. Ele me disse para não mandar muitas fotos, só mesmo a da maior onda que eu tivesse surfado. Ele procurou no mundo todo, as meninas mandaram várias fotos e eu nem me empenhei tanto, só queria mesmo ver no que ia dar”, conta.
A foto que Andréa enviou foi de uma onda de 14 metros surfada no inverno de 2016 na praia de Jaws, no Havaí. Além do prêmio inédito concedido pela World Surf League, ela também entrou para o Livro dos Recordes pela maior onda surfada na remada por uma mulher.
Embora nunca tenha pensando em prêmios quando começou, Andréa acredita que o reconhecimento aliado ao seu pioneirismo e ativismo no esporte podem ajudar as mulheres das próximas gerações: “como mulher eu sabia que não conseguiria viver do esporte, talvez a geração que vai crescer agora, depois de tanta luta, consiga”.Como sabia que não seria possível viver do esporte, Andréa foi para a faculdade, se formou e hoje em dia trabalha como paramédica no arquipélago norte-americano. Com uma rotina corrida, em que intercala plantões de 48h com folgas de quatro dias, em que consegue se dedicar não só ao surfe, como a sua outra paixão: a canoa polinésia.
“O meu estilo de vida é multiesportes, é quem eu sou. Meu ano é em blocos: fevereiro a março é canoagem de uma pessoa, no canal de Molokai 2 Oahu, e campeonatos quase todo fim de semana. Em junho, julho, agosto e setembro é stand up e canoa de 6. Em outubro, tiro folga do remo e foco no surfe, época em que as ondas começam a chegar. Outubro, novembro, dezembro e janeiro eu foco no surfe, apneia e alongamento para me manter ágil e rápida”, conta.
Além do trabalho e do calendário multiesportivo, Andréa separa sempre duas semanas por ano para visitar a família em Ilhabela, que ela concorda ser o Havaí brasileiro. “Volto todo ano e ficaria mais se pudesse. Ilhabela é o Havaí brasileiro, proporciona várias condições, tem águas abertas, ondas no Bonete, Castelhanos e muito mais”, finaliza.Last modified: julho 23, 2019