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Rafael, da Quasar Lontra, conta com detalhes a desistência da equipe

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Rafael e Xuxa descem rappel nos Vulcões 2005 (foto: Tico Utiyama)
Rafael e Xuxa descem rappel nos Vulcões 2005 (foto: Tico Utiyama)

A melhor equipe brasileira de corridas de aventura não conseguiu avançar na competição Desafio dos Vulcões, que termina sábado (05/02) em Valdívia, no Chile. A Mitsubishi Salomon Quasar Lontra, dos integrantes Rafael Campos, Marina Verdini, Fabrizio Giovaninni e Vinícius Cruz desistiram no PC 25, após a segunda parada obrigatória da competição, por problemas de saúde da atleta Marina.

“A Marina já largou gripada e sentiu muito durante a primeira etapa de canoagem”, disse Rafael Campos, capitão da equipe em entrevista exclusiva ao Webventure, direto de Valdívia, no Chile. “Entramos na segunda etapa da prova, um trekking, de madrugada, o que só piorou a situação de saúde dela”.

A atleta Marina Verdini (considerada uma das melhores atletas de corrida do país) estava sem energia, e com dificuldade de respirar, associada a dor nos pulmões, segundo Rafael. “Para somar, chegamos na base da montanha do final do trekking e fizemos um caminho que deveria ser feito segundo o mapa, porque não sabíamos que havia um atalho, um corte na prova. E isso não foi comunicado no briefing antes da prova. Isso nos atrasou em uma hora, e os argentinos fizeram o caminho alternativo”.

Ritmo fraco – O ritmo da equipe foi diminuindo conforme venciam as etapas. Rafael conta que havia momentos de pico de energia de Marina, mas logo caía sua disposição para um nível bem baixo. Na primeira parada obrigatória, após o trekking de 36 quilômetros subindo e descendo o Cerro Mallo, Marina achava que não agüentaria.

“Ela disse que estava muito fraca e queria parar. Eu perguntei se ela poderia descansar as cinco horas obrigatórias e seguiríamos pela perna de mountain bike, 82 km, um esporte que ela vai muito bem, e depois ela avaliaria se poderia continuar”, disse Rafael. Quando acordaram deste descanso obrigatório, ficaram por mais uma hora e meia no local para recuperação de Marina.

Marina já havia sofrido antes com o Desafio dos Vulcões. Em 2001, a atleta teve sérios problemas de tendinite no tornozelo e teve de ser carregada de cavalinho pelo marido Rafael Campos durante um longo trecho de trekking. Na época, a equipe era formada por três integrantes: Rafael, Marina e Said Aiach Neto, que organiza o circuito Ecomotion.

“Após o descanso, seguimos de bike, mas ela ainda não estava bem e dava sinais de piora. O Fabrizio teve de rebocá-la na bike (estratégia de amarrar uma bike na outra através de cordão elástico para rebocar o atleta cansado)”, explica Rafael. Terminando o trecho, ainda fizeram outro trecho de trekking (39 km) e remaram pelo Lago Lácar por 28 quilômetros.

“Este trekking foi muito difícil para todos, principalmente porque a navegação era muito complicada, sem trilha, um rasga mato sem fim. Fizemos o trekking lento, por causa do estado da Marina, com duração de 14 horas”. Rafael conta que a cada vez mais avaliava a participação da equipe na prova, já que o objetivo era de ficar entre os 10 primeiros e eles tinham caído bem na classificação.

Momento difícil – Na segunda parada obrigatória, após a canoagem, Marina estava bem mal. Num comum acordo, a equipe decidiu parar. Segundo Rafael, os picos de melhora de Marina não fariam eles avançarem mais e cada vez mais eles ficavam para trás. A prova tinha perdido o sentido e Marina não melhorava com antibióticos e antinflamatórios medicados pela equipe médica da organização durante a corrida. Para piorar, seu problema de tendinite no tornozelo voltou.

Assim, Rafael seguiu sozinho no trekking, já fora da competição. O trecho compreendia 46 quilômetros de percurso na subida e descida do Vulcão Mocho, um dos mais difíceis da prova. Depois ele retornou ao acampamento, onde Marina estava descansando. Os integrantes Fabrizio e Vinícius seguiram para o Brasil. Marina está bem agora, em recuperação, e o diagnóstico dos médicos é de bronquite com inflamação na garganta.

Uma prova de 500 quilômetros pela rota dos vulcões na divisa da Argentina com o Chile, em plena Cordilheira dos Andes, não pode ser uma competição fácil. E nem para os apoios. A equipe Mitsubishi Salomon Quasar Lontra levou dois apoios do Brasil, o preparador físico Aullus Selmer e o mecânico de bicicletas Djalma Dutra. Além de empresários em seu negócio, esses dois brasileiros têm em comum a paixão pelas corridas de aventura e o carinho pela equipe de Rafael Campos.

E foi graças à criatividade deles que a corrida não foi pior para a equipe Quasar. Após a largada, o carro de apoio da equipe, de um voluntário argentino na competição, quebrou um dos eixos da carreta. Ou seja, as bikes não poderiam mais ser transportadas ali.

“Ainda bem que Aullus estava atrás, seguindo em um carro emprestado, e colocamos as bikes lá”, conta Rafael, dizendo que o apoio até tentou soldar na hora o problema. Seguindo com esses dois carros, a equipe de apoio de Rafael teve mais uma surpresa: o carro de apoio tinha quebrado de vez.

“Quando pegamos o caiaque surgiu o segundo problema do apoio. Soubemos que o carro quebrou de vez e que o Djalma a muito custo conseguiu deixar os caiaques no lago”, conta Rafael. “Não culpo a organização de nada, eles oferecem um apoio que sempre é voluntário, como em outra prova do mundo e aqui no Brasil também. Nosso apoio era super prestativo e tivemos esses dois incidentes com o carro. Acontece”.

Outro problema envolvendo a equipe foi a quebra do leme no caiaque de Fabrizio, apenas a cinco quilômetros da largada.

Entrevista exclusiva, concedida direto de Valdívia, na Argentina, para a redação do Webventure.

Webventure A decisão de parar a corrida é muito difícil para o capitão. Qual é o momento de parar na corrida?
Rafael – Olha, logo no início a Marina estava se sentindo muito mal e queria parar. Eu disse para ela aguardar a parada obrigatória e ver se conseguia seguir depois. Mas estávamos percebendo que por mais que ela se esforçasse, estava cada vez se sensibilizando mais para não atingir o que esperávamos atingir. Já com a experiência de ter visto muita gente passando mal, o caso do Alexandre (Freitas, que teve um incidente quase fatal no Eco-Challenge Fiji), e outros corredores, achei que não valia a pena comprometer a saúde da atleta em vista das provas que temos no calendário nacional. É difícil, mas tem de acontecer.

Webventure Qual sua avaliação da prova este ano?
Rafael – Foi uma prova com um desenho muito legal, também bastante desgastante pelas pernadas (trechos longos), pelo climas contrastantes e pelo terrenos que temos de enfrentar. Uma prova que exige uma logística boa, em que as pessoas de fora têm visíveis diferenças entre as locais, pelo conhecimento dos locais de apoio.

Webventure Os mapas continuam complicados?
Rafael – Sim, eles ainda não resolveram os problemas de mapas. Em dois locais no trecho de bike fiquei com dúvida e foi uma loteria. Encontrei hoje de manhã com o Antonio de La Rosa e ele me disse a mesma coisa, que era um sorteio, do tipo acho que é para cá e vamos. Para piorar ainda recebemos um mapa sem legenda, então tinha de adivinhar o que era, um rio, uma estrada.

Webventure Qual foi o melhor momento da prova para você?
Rafael – Após a parada obrigatória fizemos um trecho de bike maravilhoso. Posso dizer que foi o downhill mais lindo que fiz na minha vida. Era descendo em direção à base do Lago Lácar, uns 100 metros de desnível para a subida e aproximadamente uns 300 de descida. Um espetáculo.

Este texto foi escrito por: Cristina Degani

Last modified: fevereiro 4, 2005

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