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Professora morre após cair de rapel no Petar

Redação Webventure/ Destino Aventura, Expedições, Montanhismo

Massimo: a normalização das atividades é para evitar esse tipo de acidente (foto: Cristina Degani/ www.webventure.com.br)
Massimo: a normalização das atividades é para evitar esse tipo de acidente (foto: Cristina Degani/ www.webventure.com.br)

Morreu na semana passada a professora de educação física Catarina Araújo, 25 anos, vítima de complicações após uma queda de rapel feito em caverna no Parque Estadual do Alto Vale do Ribeira (Petar). A professora fazia o rapel da caverna Água Suja, que sai da entrada de caverna Dívida Externa, de 95 metros, nas proximidades do núcleo Santana, município de Iporanga (SP).

A jovem ficou em coma induzida no hospital Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, durante um mês e 15 dias, mas não resistiu e morreu no sábado passado. Catarina era professora da Companhia Athletica do Morumbi e sofreu fraturas sérias na perna e na bacia, além de hemorragia interna.

O acidente aconteceu no dia 23 de julho. Segundo o boletim de ocorrência registrado na delegacia da Polícia Civil de Iporanga, Catarina caiu de uma altura de 8 metros. O instrutor e proprietário da agência de turismo No Limits Adventure Club, Oswaldo Fazio, fazia segurança na base do rapel e, devido a um enrosco de cordas, soltou a corda de segurança e a garota caiu.

No informativo da Redespelo Brasil, grupo de interessados em ambientes de cavernas (www.redespeleo.org), consta que o acidente foi aproximadamente às 16 horas e somente às 22h30 ela foi resgatada. No informativo consta ainda que ela foi retirada da caverna com a ajuda do corpo de bombeiros de Apiaí e o apoio de 27 monitores locais.

“Pela seriedade das lesões que a garota sofreu ela caiu de uma queda de mais de 20 metros, no mínimo”, acredita o tenente do corpo de bombeiros Renato Natale Júnior, que trabalha com salvamento desde 1992 e é instrutor de técnicas verticais. “Já montei diversas descidas para corrida de aventura, inclusive na Dívida Externa, onde passaram mais de 40 pessoas, e não houve nenhum acidente.”

Mais segurança – Para Natale, a descida deste rapel é muito segura, desde que se tenha o material apropriado. “Um instrutor responsável e uma equipe de apoio é o mínimo que se deve ter. Se for fazer com amadores, que não usam o material correto e não têm noção do que pode dar errado, ocorrem acidentes mesmo.”

A visitação na caverna da Água Suja requer autorização da direção do Petar. A recepcionista da sede do Petar em Apiaí Nilza informa por telefone que o procedimento requer apenas um fax com nome e R.G. das pessoas que vão visitar e a informação sobre a atividade realizada. Não é feito nenhum tipo de seleção sobre operadoras e agências competentes para a prática de esportes de aventura.

“A exploração em caverna exige experiência e não pode ser realizada com pessoas que nunca fizeram esse tipo de atividade antes. É preciso fazer um treinamento amplo. Infelizmente isso ainda não está escrito em nenhum lugar”, explica Natale.

Oswaldo Fazio Júnior, da No Limits Adventure Club, acompanhava a descida de Catarina. Procurado pela redação do Webventure, ele informou que foi proibido de falar pela família da vitima, com ameaça de processo. “A No Limits não é uma operadora, todas as informações que estão circulando estão erradas. Somos uma entidade voltada para o desenvolvimento sustentável.”

“Aquilo não era um passeio. Era um trabalho institucional voltado para educação ambiental. Houve uma fatalidade no evento”, defendeu. O guia do Petar que monitorava a expedição, Sebastião Lopes, também se recusou a conceder uma entrevista, afirmando que tinha que falar primeiro com Fazio.

A assessoria de imprensa da Companhia Athletica informou que a família não quer se pronunciar a respeito. Após o ocorrido, está proibida a prática de rapel no Petar, de acordo com um decreto do prefeito da cidade, Ariovaldo Pereira (PMDB).

Impacto – O acidente mostra a necessidade de credenciamento e fiscalização das operadoras, que hoje em dia organizam aventuras sem nenhum órgão regulador. É o que acredita Marcelo Augusto Rasteiro, secretário da Sociedade Brasileira de Espeleologia. “Não se tem como avaliar o nível de segurança, não existe nenhum tipo de certificação. O melhor a ser feito pelo turista é verificar o currículo da empresa e do instrutor. As pessoas têm que ter em mente que estão em um ambiente natural e que acidentes podem acontecer”, conta o espeleólogo.

Já o secretário de turismo de Iporanga Valmir dos Santos disse que esse incidente não irá atrapalhar o turismo de aventura em Iporanga e no Petar. “Ficou caracterizado para todos que a falha foi humana. Acidentes ocorrem em todo lugar, principalmente com atividades de risco, como essa”.

O projeto de regulamentação da prática do ecoturismo e do turismo de aventura está sendo feito pela Associação Brasileiro de Empresas de Turismo de Aventura (Abeta), em parceria com o Ministério do Turismo.

“Estamos fazendo a normalização dessas atividades para evitar esse tipo de acidente. Hoje não existe nenhuma regra, lei ou norma para o turismo de aventura, mas elas estão sendo produzidas”, disse Massimo Desiati, diretor de marketing e coordenador da comissão de estudos da norma de rafting da Abeta.

“As normas da ABNT (Associação Brasileira de Norma Técnicas) estão sendo feitas há algum tempo por pessoas engajadas nas atividades. Até o meio do ano que vem devemos ter 19 normas que balizam o turismo de aventura. Estão sendo criadas para quem vende o produto. Tem muita gente trabalhando sem estar habilitado, pessoas que vendem produtos como o rapel turístico sem preparo. Como em toda a atividade comercial há muitas pessoas sérias, mas tem gente que opera sem nenhum critério”.

O que é a Abeta – Criada na edição 2004 da Adventure Fair, com uma assembléia de empresários de turismo de aventura e ecoturismo, a Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura) quer posionar o Brasil entre os melhores e mais seguros destinos de turismo de aventura do mundo.

O objetivo da Abeta é levar a qualidade total para o turismo de aventura, torná-lo uma das referências mundiais nesta atividade e prevenir acidentes. Para isso, o primeiro passo é a normalização das atividades de esportes de aventura no destinos ecoturísticos, explica Massimo.

“A criação de normas técnicas é necessária para dar qualidade e segurança aos clientes das agências e operadoras que procuram atividades ao ar livre, e que desejam emoção e contato com a natureza com segurança”.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: setembro 16, 2005

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