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Parque Nacional da Serra do Cipó

Redação Webventure/ Destino Aventura

Pôr-do-sol na Cachoeira da Capivara. (foto: Jurandir Lima/TrilhaTrilhas)
Pôr-do-sol na Cachoeira da Capivara. (foto: Jurandir Lima/TrilhaTrilhas)

O título de “Jardim do Brasil” dado pelo paisagista Burle Max a Serra do Cipó, em 1950, faz jus a um dos conjuntos naturais mais exuberantes do planeta. Extremamente variada e diversa, a vegetação da região apresenta alto grau de endemismo, um dos maiores do mundo, e ainda abriga a mais extraordinária amostra de Campos Rupestres do Brasil, além de uma fauna representativa e composta de várias espécies ameaçadas de extinção.

A topografia acidentada e a grande quantidade de nascentes formam diversos rios, cachoeiras, cânions e cavernas de excepcional beleza natural. Por ser rica em cursos d’água, a Serra do Espinhaço, onde está assentada a do Cipó, divide duas importantes bacias hidrográficas brasileiras: a do São Francisco e a do Rio Doce.

A história geológica da região é complexa e data do período pré-cambriano. Suas rochas arenosas tiveram início por depósitos marinhos constituídos há cerca de 1.7 bilhão de anos. Formada principalmente por quartzitos, conta também com rochas calcárias, onde ficaram registrados fósseis de eras passadas. São as chamadas rochas em dobramento, características da área, todas apontadas para a mesma direção, no sentido leste/oeste, surgidas com as altas pressões e temperaturas de movimentos tectônicos que deformaram a crosta terrestre.

Para preservar toda esta riqueza natural, foi criado o Parque Nacional da Serra do Cipó em setembro de 1984, com uma área de 33.800 hectares, entre os municípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e Conceição do Mato Dentro; ao norte da capital mineira, Belo Horizonte.

A Serra do Cipó, que já foi chamada de Serra da Vacaria, tornou-se conhecida na época das bandeiras paulistas. Os bandeirantes chegaram na região no início do século XVII, embrenhando-se pelo nordeste mineiro em busca de ouro e pedras preciosas, abrindo caminhos para a Vila do Serro Frio e ao Arraial do Tejuco, atuais cidades do Serro e Diamantina.

A sua importância histórica também se reflete na existência de sítios arqueológicos com registros do cotidiano dos homens pré-históricos, através de desenhos e pinturas rupestres, com idade estimada entre 8.000 e 10.000 anos.

Visando dar uma maior proteção aos ecossistemas da região, em janeiro de 1990 o governo federal criou a área de proteção ambiental denominada APA Morro da Pedreira, que circunda todo o Parque, englobando uma área de 66.200 hectares.

Vista de longe, parece ressecada e morta, mas, à medida que se aproxima dos Campos Rupestres, percebe-se que a paisagem se transforma num verdadeiro berçário de vida. No alto da serra, flores rupestres como as Canelas-de-ema, as Orquídeas e a Sempre-vivas somam cerca de 1.600 espécies de plantas, muitas delas só encontradas aqui.

Com um relevo acidentado, variando entre 700 e 1.600 metros de altitude, o Parque apresenta outros atrativos naturais que embelezam a sua paisagem: a Cachoeira da Farofa com uma sucessão de quedas d’água e o Cânion Bandeirinhas, com 80 metros de altura, formando diversas cascatas e piscinas naturais.

Desde o século passado a Serra do Cipó vem sendo observada com muito interesse por diversos estudiosos. Segundo os botânicos, as 1.600 espécies já catalogadas não devem representar nem a metade do que deve existir na região e se tem notícia de que atualmente, mais de trinta dessas espécies estão sendo objeto de pesquisa em laboratórios do país e do exterior.

Aqui aparecem três diferentes conjuntos de vegetação: A mata de galeria, circundando os vales e ao longo dos cursos d’água, sendo suas principais espécies o Pau-pombo, a Copaíba e as Samambaiaçus; na parte baixa predomina a vegetação de Cerrado com suas árvores tortuosas; enquanto na região mais alta, geralmente acima dos 900 metros, são encontrados os Campos Rupestres de elevadíssima diversidade florística.

Dentre as plantas destaca-se a ocorrência das Sempre-vivas cujas flores secas, pelo fato de não murcharem nem perderem a cor, constitui-se numa das marcas registradas desse território. Bastante freqüentes são as curiosas Canelas-de-ema gigantes, que podem atingir até seis metros de altura e um metro de circunferência na base do tronco.

São encontradas também Orquídeas de várias espécies, Bromélias, Margaridas, Cactos, Ipês e Quaresmeiras, além de fascinantes líquenes coloridos que brotam sobre as pedras. Enfim, o mosaico de espécies vegetais é tão grande que a região encontra-se permanentemente florida durante todas as estações do ano, sendo considerada um verdadeiro laboratório a céu aberto – um paraíso para os botânicos.

São curiosos os recursos utilizados pelas plantas para sobreviver na serra. Para economizar água, por exemplo, espécies como os cactos e as orquídeas tornam-se carnosas. Com isso, durante a noite, elas fixam nas folhas o CO2 atmosférico, vital para as plantas clorofiladas e indispensável para a fotossíntese.

Assim, durante o período diurno, quando a fotossíntese será realizada, elas já possuem armazenado o suprimento de gás necessário ficando dispensadas de abrir pequenos poros da folha para coletá-los; processo natural que certamente as obrigaria a perder parte da água que lhes assegura a vida.

A fauna do Parque é bastante rica, sendo encontradas dezenas de espécies de mamíferos, aves, anfíbios e insetos. Destacam-se os Tamanduás-bandeira, as Jaguatiricas, os Cachorros-do-mato, os Lobos-guará e as Capivaras.

Dentre as aves pode-se avistar com freqüência Tucanos, Gaviões, Codornas, Perdizes, Pica-paus e espécies raras, como o Beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus), endêmico da serra, despertando grande interesse em ornitólogos de várias partes do mundo.

Vale ressaltar que por garantir a reprodução das plantas, os Beija-flores são essenciais para o ciclo da biodiversidade. Outra espécie endêmica e curiosa é a rã popularmente conhecida como Perereca-de-pijama, que, ao contrário de outras, apresenta um colorido que ressalta aos olhos.

O Clima – A região apresenta clima tropical de altitude, com temperatura média anual em torno de 21°C. O inverno é seco e o verão chuvoso. De abril a novembro, é a melhor época para se cruzar os rios, tomar banhos de cachoeiras e praticar atividades de aventura como rapel e cascading. No restante do ano, devido às chuvas, as cachoeiras ficam mais cheias e a vegetação mais florida, porém com risco de trombas d’água.

Cachoeira Grande – Considerada um dos cartões postais da Serra do Cipó, a cachoeira tem uma queda com 10 metros de altura e um paredão de pedras de aproximadamente 60 metros de largura, encoberto por gramíneas. O acesso é por uma estrada de terra com 2 km, passando por várias pousadas e fazendas.

Cachoeira da Farofa – Localizada na Serra da Bandeirinha, é um dos atrativos mais procurados pelos visitantes do Parque Nacional. Possui uma sucessão de quedas d’água com 07 cachoeiras, até atingir um poço em meio a um paredão de rocha quartzítica, cercado de gramíneas e orquídeas que decoram a paisagem local. O acesso pela parte baixa da Serra, será por uma trilha plana de aproximadamente 7 Km, onde é possível observar o Córrego das Pedras, a Lagoa Comprida e o Ribeirão Mascates.

Cachoeira Véu da Noiva – É um dos atrativos mais conhecidos da região e se encontra dentro da propriedade da ACM, fora dos limites do Parque. São três quedas imensas, sendo a última com aproximadamente 120 metros formando um poço de acesso íngreme. No local é possível praticar rapel por pessoas experientes. Seu acesso é pela rodovia MG-010, passando por dentro do distrito de Cardeal Mota.

Cachoeiras Congonhas Situa-se na parte de cima do Parque, possuindo duas quedas de águas cristalinas e muito usadas para a prática de canyoning. São acessíveis pelo mesmo caminho do Travessão percorrendo-se 17 Km a pé. Recomenda-se acompanhamento de guia credenciado pelo Parque.

Cachoeiras do Gavião e das Andorinhas – A Cachoeira do Gavião recebe este nome pelo formato da serra que lembra a envergadura de um gavião. Já a das Andorinhas é um abrigo de andorinhões. Podem ser visitadas seguindo a mesma trilha que margeia o Ribeirão Bocaina e passa por um paredão com pinturas rupestres. São 9 Km de veículo e mais 6 Km caminhando até a primeira cachoeira. Para chegar nas Andorinhas percorre-se mais 3 Km a pé.

Cachoeira da Capivara – Localizada próxima à Serra Morena, esta cachoeira é uma das maiores da região. O acesso é feito pela MG-010, em um trecho de aproximadamente 20 Km de estrada de terra, logo após a estátua do Juquinha, lendário morador da região. Durante o percurso é possível observar as inúmeras serras existentes na Cordilheira do Espinhaço, vários cursos d’água que cruzam a estrada e a presença de várias flores que decoram o caminho seguido pelos ecoturistas.

Cachoeira da Lagoa Dourada Encontra-se numa região alta do Parque e possui duas quedas de fácil acesso e uma terceira mais difícil. Dependendo da época do ano, a luz solar reflete a tonalidade da vegetação do seu entorno dando um tom dourado à água da Lagoa de mesmo nome. Para quem pretende visitar a terceira queda, recomenda-se alugar um cavalo. Durante o trajeto é possível ter uma panorâmica da região de São José da Serra e do Capão dos Palmitos.

Cânion das Bandeirinhas – Formado por uma abertura existente entre a Serra da Bandeirinha e a Serra dos Confins, este cânion com 6 Km de extensão está localizado no interior do Parque, formando uma sucessão de cascatas e piscinas naturais. Para chegar lá, caminha-se por uma trilha plana com aproximadamente 12 Km. No caminho deve-se atravessar o ribeirão Mascate com o fundo coberto de pedras escorregadias. No local é possível fazer canyoning com autorização do IBAMA.

Nascente do rio Cipó – É o mais importante curso d’água da região. Nasce a partir do encontro dos ribeirões Mascate e Gavião, sendo que o Mascate desce do cânion das Bandeirinhas enquanto o Gavião a serra da Bocaina, ambos no interior do Parque Nacional.

Trilha do Travessão – Uma das caminhadas mais gratificantes do Parque, por um penhasco monumental que divide as bacias do Rio São Francisco e Rio Doce. Durante o percurso há afloramentos rochosos que abrigam pinturas rupestres, várias espécies de sempre vivas, campos de samambaias de altitude, algumas nascentes, uma cachoeira e panorâmicas deslumbrantes. Percorre-se 17 Km de carro por estrada de terra e 12 Km de caminhada.

Velósias Gigantes – As velósias gigantes são plantas com até 6 metros de altura e crescem cerca de 1 metro a cada século. São consideradas fósseis vivos. Várias orquídeas, bromélias e fungos abrigam-se nos troncos das canelas-de-ema. No mesmo roteiro da Estátua do Juquinha.

Poço Azul – O nome Poço Azul é devido ao reflexo do sol incidindo na superfície da água durante determinadas épocas do ano. Possui uma queda de aproximadamente 6 metros de altura e o acesso se dá por uma trilha de 2 Km com trechos planos e acidentados, sendo bastante comum à presença de matas, capões e paredes rochosas margeando o Córrego Gordurinhas. Transformou-se num dos atrativos naturais mais próximo da portaria do Parque.

Lapinha e Pico do Breu – O Pico do Breu é o mais alto da Serra do Cipó. No caminho há uma represa, localizada no povoado da Lapinha, ao pé da Serra. Há também algumas quedas d’água de grande beleza cênica e o Córrego das Pedras, próximo ao Pico, com várias corredeiras.

Recomendações aos visitantes – Esta Unidade de Conservação representa amostras de indescritível beleza natural. Portanto, cabe a cada um de nós preservá-las para as gerações futuras, seguindo sempre as recomendações.

1.Conhecer a legislação ambiental e os conceitos de mínimo impacto;
2.Caminhar somente acompanhado com guia que conheça bem a região;
3.Não jogar pontas de cigarros no chão ou nas gramíneas, sob o risco de causar incêndios;
4.Não apanhar flores, frutos ou plantas, já que elas são as maiores belezas deste ambiente;
5.Obedecer às sinalizações e demarcações, mantendo-se nas trilhas e estradas de acesso;
6.Não dirigir com velocidade acima de 30 km/h, sob o risco de atropelar animais;
7.Deixar o Parque conforme o encontrou, para que seus descendentes tenham o privilégio de conhecê-lo e contemplá-lo como você o viu;
8.Lembre-se de recolher e trazer todo o seu lixo de volta.

Como chegar – Localizado a 110 quilômetros de Belo Horizonte, o acesso é feito pela rodovia MG-010, sentido Conceição do Mato Dentro. No km 94, seguir à direita por 03 quilômetros em estrada de terra até a portaria do Parque.

Este texto foi escrito por: Jurandir Lima (arquivo)

Last modified: novembro 3, 2004

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