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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2001: Segredo guardado a sete chaves

Redação Webventure/ Parceiros

Quando nos preparávamos para a estréia no Rali Paris-Dakar, no final de 1987, conseguimos garimpar uma fita de vídeo com imagens da prova de janeiro daquele ano. Naturalmente os vencedores nas três categorias chamavam a atenção, mas um, em particular, era um show à parte. O filme mostrava que, apesar de ser finlandês, era um grande ídolo na França: Ari Vatanen.

Logo no início da fita, no prólogo nas vizinhanças de Paris, seu Peugeot teve o triângulo da suspensão dianteira quebrado. Ele cruzou a linha de chegada entre os últimos daquela etapa. Mas como num lance de futebol, quando a torcida de um time ainda está comemorando um gol e se cala no instante seguinte ao ver o adversário descontar o placar, já na primeira etapa africana Vatanen reverteu a situação. Pilotando no seu estilo, muito rápido, dominou toda a prova.

No dia 1º de janeiro de 1988 lá estávamos nós, ao lado daquele campeão mundial de rali. Por onde ele passava era impossível contar o número de flashes disparados. Logo Vatanen dominou o rali, cheio de concorrentes à altura, inclusive dentro da própria equipe. Nós não terminamos aquela edição, até hoje considerada uma das mais difíceis da história do Dakar.

Foi pela televisão que assistimos algo inesperado. Faltando poucas etapas para o final, numa linda manhã do deserto, a equipe Peugeot se deu conta de que o carro de Vatanen havia sido roubado. Poucas horas depois já não se tratava de um roubo, mas de um seqüestro.

Incrível! Nunca acontecera nada parecido na prova, mas de repente uma máquina havia sido “seqüestrada”. Era como se o carro de Michael Schumacher tivesse desaparecido do box sem ninguém dar conta do “pequeno detalhe”. A história parecia tão mal contada, tão maluca, que o final da versão nunca nos convenceu. Um antigo mecânico da equipe, insatisfeito, foi à África descontar sua mágoa.

Pediu um valor, não sabemos se foi pago, mas no meio daquela mesma manhã o carro reaparecera e Vatanen voltou à prova, mas por pouco tempo. O regulamento do Dakar é claro: qualquer concorrente tem no máximo 30 minutos de tolerância para dar a largada e, caso isso não aconteça, ele está desclassificado. Vatanen se atrasara mais de duas horas para a largada. O líder estava fora.

Durante todos estes anos que sucederam o fato, bancando os policiais para achar a verdade, nos pareceu que o carro de Vatanen precisava de peças que não estavam no caminhão de apoio. No Dakar é proibido contar com assistência externa. A equipe, querendo dar uma de esperta, conseguiu que a peça viesse por fora da caravana e a escondeu em algum lugar, para onde enviou o carro durante a noite.

Como os concorrentes não eram, digamos, fracos e tinham realizado altos investimentos para alcançar a vitória, perceberam o “sumiço” do carro e colocaram a boca no trombone. Para não ser desclassificada do rali, a equipe do finlandês inventou toda esta história. Repetimos: este raciocínio não passa de imaginação.

Mas uma coisa podemos garantir: durante todos estes anos tentamos entender o mistério, mas infelizmente só descobrimos que estávamos diante de um segredo guardado a sete chaves.

André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.

Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax

Last modified: dezembro 15, 2000

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