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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2001: O Tubarão do Deserto

Redação Webventure/ Parceiros

Estávamos no Senegal na chegada do rali Paris-Dakar de 1993. No início da cerimônia de entrega de prêmios, a organização da prova presenteou os competidores com uma pequena edição de vídeo. A imagem começou a aparecer no telão, com toneladas e mais toneladas de areia. Aos poucos o volume da trilha sonora foi subindo. Era a clássica música do filme Tubarão, aquela que provoca enorme suspense quando a fera está prestes a atacar.

O tubarão do deserto são as dunas, capazes de engolir os concorrentes. Poderíamos mencionar várias etapas em que uma passagem pelas montanhas de areia eliminaram metade dos competidores, o que aconteceu naquele ano de 93. Em apenas uma etapa, 65% foram eliminados. A música fazia todo o sentido.

Nós, da Equipe Petrobras Lubrax, queremos passar longe deste risco. E mais que isso: sabemos que o problema pode ser transformado numa oportunidade. Ou seja, termos uma performance excelente nas dunas e lá fazer a diferença de alguns concorrentes, já que é neste tipo de trecho de terra fofa que as grandes vantagens acontecem. Você pode gastar 60 minutos para atravessar 50 quilômetros de dunas, enquanto seu adversário, que atolou várias vezes, pode perder mais de cinco horas. Muitas vezes a prova é decidida neste tipo de terreno.

Mas nós já estivemos naquele grupo de participantes que não está preocupado com a performance nas dunas, e sim em conseguir superá-las. Não é fácil. E pior: ficar encalhado nelas pode significar a perda do veículo, já que a organização não tem nenhum compromisso com o resgate das máquinas, apenas dos pilotos.

Mesmo para os afortunados que têm um caminhão de apoio, que em último caso poderia rebocá-lo, é comum o caminhão, sem querer, tomar uma rota diferente nas dunas e não avistar seu piloto no meio de um emaranhado de traços na areia, que olhando de cima mais parece uma teia de aranha.

A própria ordem de chagada nas dunas é importante para o resultado. Quanto mais concorrentes passam à sua frente, mais a areia fica fofa e mais fácil fica de você parar preso por lá. Às vezes são os próprios concorrentes atolados à sua frente que dificultam ou impossibilitam a passagem. É preciso ser paciente e persistente.

As dunas, como qualquer animal, podem ser traiçoeiras, mesmo parecendo um cachorrinho manso. No edição anterior do Dakar, quando cruzávamos uma série de dunas baleia, o tipo mais fácil e tranqüilo delas, onde é possível desenvolver altas velocidades já que não apresentam riscos, aconteceu um dos piores acidentes do Dakar. Quatro carros saíram voando quando foram surpreendidos por uma pedaço de duna desmoronado. Foram oito fraturas de coluna, sendo que dos oito acidentados, um não pode mais participar de corridas. E um português luta até hoje para recuperar os movimentos. E todos eram de equipes de ponta – não havia nenhum marinheiro de primeira viagem.

André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.

Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax

Last modified: novembro 19, 2000

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