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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2001: Comida é Pasto

Redação Webventure/ Parceiros

Fãs do grupo de rock Titãs, gostamos de levar para o rali Paris-Dakar alguma música para descontrair ou para matar as saudades da terrinha. Um dos grandes sucessos do grupo, a música “Comida”, fala um pouco deste item imprescindível para nossa caravana pelo deserto do Saara.

Na primeira edição da prova, em janeiro de 1978, as equipes não souberam se estruturar corretamente e partiram rumo à África com um certo despreparo, tudo no improviso. No meio da competição, começaram a se alimentar dos produtos e fornecedores locais. Resultado: quase acabou a prova. Afinal, todos ficaram doentes devido à falta de qualquer tipo de saneamento básico nos vilarejos do deserto. A contaminação foi geral.

Para corrigir esse erro, o Deus criador do Dakar, Thierry Sabine, contratou uma empresa especializada em alimentação, a Africatours. Esta companhia ficou responsável por abastecer pilotos, equipes e organização até o Dakar de 1993.

Em 1988, na estréia da Equipe Petrobras Lubrax, fomos, sem medo de falar mal do restaurante ambulante, obrigados a provar o cardápio Africatours. Era exatamente o que a música do Titãs diz: “Bebida é água, comida é pasto”.

Hoje damos graças a Deus que esta fase já acabou. Para quem estuda estratégias militares, a alimentação é um dos principais itens para manter o moral da tropa. O programa “No Limite”, da TV Globo, que o diga. Naquela época, durante a madrugada, era servido um café da manhã militar, que não era dos piores se os seus dentes não quebrassem ao morder um pão saído do forno há 15 dias. Almoço? Essa refeição nunca existiu. Até hoje recebemos um pequeno embrulho com barras energéticas, um suco ou achocolatado (seria melhor um hidratante), algumas frutas secas ou cristalizadas, bolachas e doces. Tudo para repor as energias rapidamente.

Nossa grande esperança sempre foi o jantar, mas só para aqueles que conseguem chegar ao acampamento depois de um duro dia pelo deserto africano. Para fechar o dia com chave de ouro, a Africatours nos fornecia nada mais, nada menos, do que uma latinha, muito parecida com aquelas de sardinha. Eram três opções: carne bovina, frango ou porco. Mas nem adiantava variar. O gosto da conserva e o cheiro eram tão ruins que você não conseguia distinguir nada. Respirávamos fundo e engolíamos mais uma garfada, lembrando aqueles momentos de infância quando nossos pais nos davam algo do tipo óleo de fígado de bacalhau.

A situação mudou bastante. Agora o cardápio já é feito na hora e às vezes até com opção de cozinha internacional. Normalmente segue uma tendência francesa. Pena que uma porção, digamos, está mais para “Nouvelle Cuisine” do que para quem está enfrentando o desafio do Saara. Eles precisavam ouvir o final da música do Titãs: “A gente quer inteiro e não pela metade”.

André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.

Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax

Last modified: dezembro 17, 2000

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