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Alpinistas são vítimas de enxame de abelhas no Cuscuzeiro

Redação Webventure/ Montanhismo

Mau tempo, pedras escorregadias e equipamentos inseguros não são as únicas ameaças aos alpinistas. No último domingo, um grupo de paulistas descobriu que é preciso tomar muito cuidado com abelhas. O que começou com algumas picadas terminou em fraturas e um resgaste dramático.

Os escaladores estavam na pedra do Cuscuzeiro, em Analândia (SP), quando o acidente aconteceu. “Eram 23 pessoas, todas experientes em escalada, exceto seis alunos e um visitante”, conta o alpinista Maurício Clauzet, o Tonto. “Eu ouví um grito, vindo do Allan (outro alpinista), que tinha acabado de chegar na cabeça da primeira enfiada da 97 Bons Motivos (via): “Abelha!” e já sentí a primeira picada.”

Ao chegar à base da 97, Allan foi atacado por um cacho, que teria
substituído a colméia retirada semanas atrás. “Desesperado e sendo atacado em massa, ele se debateu e gritou, deixando as
abelhas mais enfurecidas.” A situação piorou com a chegada de outra turma. “Eu e um colega corremos para o Bambuzal e despistamos a maioria das abelhas. Nisso ouvimos alguém subindo a trilha da Carteirinha. Sem poder gritar, esperamos eles aparecerem perto do cume para avisá-los. Conforme eles desciam, percebemos pelos barulho que as abelhas já estavam pegando eles”, narra Tonto.

“Continuamos atrás do bambuzal. Coração batendo no pescoço, um tempo que eu não sei se foram 5 ou 15 minutos. O Luiz, que estava com a mochila dele, tirou um agasalho e cobriu cabeça e pescoço. Me jogou uma calça e fiz o mesmo. Ficamos lá, estáticos.”

Depois de um tempo, Tonto e o companheiro decidiram descer a Carterinha. “A visão mais linda foi chegar à árvore e ter uma corda meiada passando pela raiz, abandonada pelo Lucas e esperando por
nós. Descemos na mão os 12m. O Luiz estava meio desesperado e quase caiu em cima de mim umas 2 vezes. Corremos a trilha abaixo, e só nos livramos das abelhas quando entramos na matinha”, lembra.

Resgate improvisado – Ao chegar no pasto, a dupla percebeu a dimensão do acidente. “Entre muitas picadas, haviam duas pessoas com perna quebrada, uma com o tornozelo torcido e outra, o Finotti, que havia caído de cima da Transamazônica (25m) e estava em algum ponto da trilha para a face norte, precisando resgate”, conta o alpinista. “Subi para procurar o Finotti. Ele estava caído no mato, já alguns metros dentro da matinha. Estava com a cabeça para baixo, consciente, e não queríamos mexer nele sem um colar cervical.”

A ambulância de Analândia chegou em poucos minutos, mas não havia colar cervical. “Pegamos a maca e num revezamento com a galera do curso corremos com a maca para cima. Um colega tinha um silver tape
que, somado à lona enrolada, virou um colar cervical. Em um revezamento de sete pessoas descemos a maca.”

No hospital, suspeitouse que Finotti estivesse com uma hemorragia interna no abdômem. “Mas os colegas da cidade avisam que ele já está se recuperando.”

À noite, o grupo retornou ao Cuscuzeiro para recuperar os equipamentos. “Muito estranho, uma sensação horrível, ir subindo a
trilha e encontrando mochilas, capacete, uma cadeirinha ainda
enconrdada…. Parecia que havia rolado uma guerra.”

“Este relato serve para a gente pensar sobre muita coisa.
Em 10 anos de Cuscuzeiro, nunca vi algo parecido, seja pela quantidade de abelhas (tinha gente tomando picada na face norte, no cume e na carteirinha), seja pela agressividade e violência. Acho que foi a situação mais próxima que eu já estive de uma desgraça coletiva – poderia ter sido muito pior, se tivesse acontecido 30 minutos antes, quando haviam ainda umas 10 pessoas no cume ao lado de onde tudo começou”, desabafa Tonto.

“Vale lembrar também que apesar de toda disposição, a cidade de Analândia vem demonstrando que é completamente despreparada para situações de resgate. É uma vergonha uma cidade que se diz ‘de turismo de aventura’ não ter um colar cervical e uma maca de resgate, entre outras coisas.”

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: fevereiro 21, 2017

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