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Conquista da Pedra do Colégio (RJ)

Redação Webventure/ Montanhismo

Via traçada pelos conquistadores da Pedra do Colégio. (foto: Arquivo pessoal)
Via traçada pelos conquistadores da Pedra do Colégio. (foto: Arquivo pessoal)

Neste texto, Luciano Bender, autor do Guia de Escaladas em Petrópolis conta com detalhes todo o feito para conquistar a Pedra do Colégio, que fica em Cachoeiras do Macacu, no Rio de Janeiro.

Após retornar de Jacinto (MG) onde, junto a Antônio Carlos Magalhães (Tonico), Leandro Reis e Paulo Bandeira, conquistamos quatro cumes virgens, resolvi esticar um pouquinho mais minhas “férias” e estrear o meu portaledge duplo (platô portátil), recém-adquirido… Já não agüentava mais somente montá-lo e desmontá-lo dentro do meu próprio quarto!

Logo no dia seguinte após o retorno de minha viagem a Minas Gerais, parti direto com o amigo Amarildo Chermont (que não é parente do lendário escalador Rodolfo Chermont) para a Pedra do Colégio, principal símbolo da cidade de Cachoeiras de Macacu (interior do Estado do Rio de Janeiro, a cerca de 100 km da capital) e que possui este nome pois a história diz que aquela região próxima à montanha fora utilizada por padres jesuítas para a catequização de índios, tratando-se, portanto, de um “colégio indígena”.

Conquistamos, no dia 14/10, a via “Deus é Brasileiro” (7º VIIa A2+) – 350 metros, sendo 99% da via feitos inteiramente em livres, com fendas da base ao cume (de entalamentos de dedos a offwidths), salvo em três pequenas trocas de uma fenda para outra, que foram vencidas em escalada artificial curtíssima e bastante fácil/simples. Foram 5 dias de conquista, dos quais três foram pernoitados na própria parede, no portaledge (por opção nossa, apesar de desnecessário devido à pouca extensão da rota).

Acreditamos que a escalada, agora, se feita totalmente livre, pode ser realizada em um dia e meio, sem a necessidade de portaledge, pois há um bom platô para bivaque ao final do 4º esticão.

A conquista foi emocionante não só pelo fato em si, mas pela grande expectativa que gerou na população de Cachoeiras de Macacu, a qual ficou inteiramente sintonizada na principal rádio local, que fez a cobertura completa da escalada. Levamos rádios Talkabout para a conquista e fizemos várias entradas ao vivo na rádio, além de passarmos boletins diários à noite sobre o rendimento do dia.

As pessoas na ruas paravam nos pontos onde a rádio estava sintonizada, para ouvirem notícias da conquista, e vibravam conosco. Para se ter uma idéia, chegamos a ser presenteados, pelo povo local, em dois dos pernoites na parede… Em um deles, acreditem, com uma porção de churrasquinho (incluindo farofa…) e, no dia seguinte, com uma pizza tamanho família!

Nosso “acampamento-base” vertical estava a menos de 100 metros da base, o que nos permitia emendar duas cordas, mandá-las para baixo e rebocar nossos “presentes”… Optamos por montar um acampamento ali mesmo e conquistar o restante da via deixando cordas fixas, pois levar nossos barris superpesados até o cume consumiria pelo menos um dia a mais de escalada.

Para se ter uma idéia, estávamos levando mais de três horas para içar, a cada 50 metros, cerca de 150 kg de equipamento, incluindo água com repositores hidroeletrolíticos e alimentos… Aliás, diga-se de passagem, levamos também um barril menor para transportar o lixo que gerávamos, incluindo nossas fezes!

Concordamos em batizar a via com este nome em função da sucessão de fatos positivos que foram acontecendo no decorrer da conquista, a começar pelo bom tempo que contrariou integralmente, durante 5 dias, todas a previsões, que só indicavam chuva. No entanto, foi no exatíssimo momento em que fiz o último lance de escalada e pisei no cume que a chuva desabou. Mas foi só uma pancada forte.

Consideramos aquilo como um presente divino, por nossa conquista! Soltamos rojões, apesar da dificuldade em acender os pavios, tiramos fotos, comemoramos e nos preparamos para fazer o longo caminho de retorno pela própria parede, e desmontarmos todo nosso acampamento, recuperarmos as cordas fixas etc. O nome da via também faz alusão ao processo de persuasão feito pelos padres jesuítas nos índios que, se bobeassem, deviam escutar também que Deus seria brasileiro…

Gostaríamos de agradecer a todos aqueles que apoiaram e patrocinaram esta conquista, entre eles ao Adilson Celta, Felipe e à Mariza (Macacu Adventures), à Mônica Pranzel e ao Marcello Ramos (Equinox), ao Edmilson Padilha (Conquista), ao Ismael (Snake), ao Marcel Maia e à Sonia Seara (Academia Sonia Seara), à Drogaria Tokio, ao Gustavo (Plantar e Colher) e também aos amigos Alexandre Wenderroscky, Carlos Augusto Fontão “Gutinho”, Heraldo Scott, Anderson Côrtes “Sorvete” e Rodigo Amaral (Grupo de Montanhismo de Cachoeiras de Macacu – GMont), “Riquinho”, “Mudinho”, Damião, Fernando Moura (Pizzas Moura), Rafael Souza e Alexandre Bug (Rádio Nova Serrana FM), Marcelo Ferraz e Tião Coronha.

Este texto foi escrito por: Luciano Bender

Last modified: novembro 3, 2004

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