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Velejador faz sozinho rota Noronha a Natal de windsurf

Redação Webventure/ Vela

Recepção na chegada (foto: Arquivo Pessoal/ Diogo Guerreiro)
Recepção na chegada (foto: Arquivo Pessoal/ Diogo Guerreiro)

Diogo Guerreiro realizou nos dias 26 e 27 de setembro uma travessia de 370 km de Fernando de Noronha a Natal a bordo de uma prancha a vela sem barco de apoio. Essa foi mais uma aventura do velejador, que junto com Flávio Jardim já cruzou do Chuí ao Oiapoque em uma prancha de windsurf em 2004.

A viagem inicialmente estava planejada para ser feita junto com Flávio, mas no dia anterior à partida, ele foi mordido por um pastor alemão e ficou impossibilitado de acompanhar o amigo.

Com esse imprevisto, Diogo teve que refazer o planejamento para apenas uma pessoa e imaginar quais seriam as dificuldades de uma viagem como essa. “Fazer solitário é completamente diferente, isso mexeu comigo, comecei a mentalizar como seria não ter o Flávio junto e pensei que na verdade era possível fazer”, comentou o velejador.

Difícil decisão – Em princípio ele pensou em desistir, imaginou que se acontecesse qualquer imprevisto com ele seria complicado alguém ajudá-lo principalmente durante a noite, mas a vontade de realizar esse feito foi maior. “Eu estava me sentindo bem fisicamente, estava confiante, tinha treinado muito para fazer a travessia e estava com o equipamento certo”, contou Diogo. Com a previsão do tempo favorável ele achou que não valia a pena abrir mão de um planejamento de mais de um ano e seguiu em frente.

Porém, ele não imaginou que a ausência do companheiro seria o menor dos problemas que ele enfrentaria na travessia. Uma ondulação de norte e outra de sudeste se formaram e se chocaram durante o período em que ele estava velejando, deixando o mar muito agitado. “As duas ondulações quebravam e formavam ondas fortes, fazendo a prancha balançar muito. Eu não conseguia manter o ritmo e tudo o que eu comia vomitava”, lembrou Guerreiro, que disse ter conseguido comer apenas meia barra de cereal durante as 31 horas que passou no mar.

Na escuridão da primeira noite, sem a lua para iluminar o caminho e já cansado, o aventureiro disse que olhava para o horizonte e pensava em desistir. Assim, ele adotou uma estratégia sempre tentar um pouco mais do que o limite e conquistar cada trecho aos poucos.

O frio também foi um companheiro assíduo durante a noite, contrastando com o forte calor que fazia durante o dia. “Como estava muito frio eu urinei algumas vezes dentro da roupa para me aquecer. Aí o calor da urina me ajudou a manter a temperatura do corpo”, comentou Diogo. Na tentativa de descansar um pouco ele deitou na prancha para tentar tirar um cochilo, mas as fortes ondas o derrubavam a todo momento.

Outro problema foi a perda de algumas garrafas de água potável, o que o impossibilitaria de passar uma segunda noite no mar. “No segundo dia as duas garrafas que ficavam presas na vela estouraram”, lamentou Diogo, que teve que aumentar o ritmo para chegar a tempo.

A insolação foi outro fator que deixou o velejador muito debilitado durante a viagem, pois ele não tinha onde se abrigar e teve que conviver dois dias com sol forte. “O calor foi me sufocando e por mais que eu passasse protetor solar a água do mar tirava. Começou a ficar insuportável”, lembrou Diogo.

Previsão do tempo – Segundo ele, de acordo com a previsão do tempo os ventos seriam bons e as ondulações do mar talvez durassem apenas um dia. “Achei que uma delas iria terminar, mas não, ficaram em conflito do inicio ao fim da viagem”, disse. Para completar a complicada expedição, ele sofreu também com o peso da mochila, de cerca de 15 kg.

A bagagem continha uma roupa especial inflável, dois GPS, um telefone via satélite, alimentos, três litros de água, um rádio para se comunicar com outras embarcações, algumas ferramentas para consertar a vela, outra retranca, foguetes de sinalização, lanterna e medicamentos, além de equipamento fotográfico. O GPS e o rádio, por exemplo, ficariam inicialmente com o companheiro Flávio e ele levaria o telefone, para aliviar o peso. Mas a ausência do outro velejador obrigou Diogo a carregar o fardo sozinho.

No segundo dia, ao acordar, ele se sentia tão fraco que mal conseguia levantar a vela. Faltando ainda cerca de 200 quilômetros para o destino final, conseguiu vencer o cansaço e começou a intercalar algumas horas de velejada com outras de descanso. “Faltando 1h20 para chegar eu já vi terra e os prédios e comecei a pensar em tomar um banho quente, encontrar minha namorada e meus amigos”, disse.

Finalmente, após 370 quilômetros de sofrimento, Diogo Guerreiro pisou em terra firme e só pensava em deitar na areia e ficar escondido na sombra. Porém, o sucesso da travessia foi motivo de festa na cidade e o descanso teve que ser adiado. “A prefeitura de Natal organizou um show de rock na praia, tinham vários velejadores, a imprensa e os meus amigos, foi uma grande recepção”, contou o velejador.

Aliviado, enquanto tomava uma água de coco para repor as energias, Diogo chorava e pensava consigo mesmo: “nunca mais quero fazer esporte na vida, quero ser um cara sedentário, ficar sentado vendo televisão e comendo pipoca o dia inteiro”. Porém, como bom aventureiro, após ter se recuperado já pensa em projetos futuros.

“Assim como a gente conquistou trechinho a trechinho até completar os 8.120 km do Chuí ao Oiapoque, e essa viagem eu conquistei cada hora, tenho algumas aventuras que ainda quero fazer, mas passo a passo”, comentou Diogo.

Entre os possíveis projetos está o contorno do Cabo Horn a remo e dar a volta ao mundo em um veleiro aliando o esporte a um projeto educacional. “Para quem cruzou Noronha/ Natal de windsurf, cruzar o mundo de veleiro é como se fossem férias”, brincou Diogo.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda

Last modified: outubro 4, 2006

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