Conscientização, organização, respeito. Essas são as palavras de ordem para que o Brasil consiga manter de forma adequada os seus recursos naturais. O autor desta frase tão objetiva entende do assunto. Fábio Feldman,secretário executivo do Fórum de Mudanças Climáticas, presidente do Instituto Pro-Sustentabilidade (IPSUS), já foi deputado federal e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo na gestão de Mário Covas.
Sempre ligado à causas ambientais, Feldman luta pela aprovação de duas leis de proteção, uma dos patrimônio espeleológico (as cavernas brasileiras) e outra para a preservação do que ainda existe de Mata Atlântica no Brasil.
Na Semana do Meio Ambiente, Fábio Feldman, em entrevista especial ao Webventure fala da crise de energia, de como a sociedade está se mobilizando em relação aos problemas ambientais do país, da importância da prática de esportes de aventura para uma maior conscientização, da prática correta do ecoturismo e das alternativas para que, nos próximos anos, tenhamos algo de concreto para comemorar.
Acompanhe, a partir de agora, esta entrevista que é uma aula sobre a importância que cada um de nós tem na preservação do habitat natural da nossa própria espécie.
Há quem acredite que os momentos de crise são ótimos para que as sociedades aprendam a resolver problemas com criatividade. Para Fábio Feldman, a atual crise de energia vai além disso: é uma importante fonte de discussão que pode gerar, além de polêmica, maior conscientização ambiental
Webventure – Fábio Feldman, quais você acha que são hoje os principais desafios para a preservação do meio ambiente no Brasil?
Fábio Feldman – Eu acredito que o principal problema ainda é a postura da sociedade em geral em relação às questões ambientais. Discute-se muito pouco o assunto, pensa-se menos em alternativas e soluções do que se deveria. O maior desafio é, sem dúvida, desenvolver uma maior consciência ambiental, a idéia de que é preciso conhecer os recursos naturais, desfrutar de tudo o que eles podem oferecer e, ao mesmo tempo, preservá-los.
Webventure De que maneira esta conscientização poderia se transformar em algo mais efetivo no país?
Feldman – Eu acredito que estamos passando por um processo muito importante neste sentido, com a crise de energia. As pessoas, muitas pela primeira vez, têm de pensar em economizar, pois os recursos naturais existentes para a geração desta energia são finitos. Sempre se soube disso, mas, a partir deste problema, as pessoas estão percebendo que é real. E que, somente usando adequadamente os recursos naturais, sem exageros, é que evitaremos problemas muito sérios, para nós mesmos, no futuro.
Webventure – Este seria o lado bom do racionamento de energia…
Feldman – Exatamente. Temos de economizar vinte por cento do que gastávamos, e isso não é pouco. Porém, com atitudes simples, está se tornando possível. Mesmo que as pessoas não percebam, esta é uma atitude concreta na proteção ao meio ambiente.
Webventure – O que você acha dessas opções de geração de energia que estão sendo apresentadas, como a criação de mais termelétricas?
Feldman – É uma coisa complicada, porque as termelétricas, especificamente, ajudam no processo de superaquecimento da terra, o chamado efeito estufa. E o efeito estufa é apontado pelos ambientalistas como um dos principais problemas do planeta hoje. Não podemos esquecer, porém, que mesmo as hidrelétricas, tão amplamente utilizadas, também causam grande impacto ambiental pelas áreas que são alagadas para que elas possam ser construídas. É por isso que economizar energia acaba sendo uma ação ecologicamente importante.
Conhecer parques, cachoeiras, praias, belos rios e se aventurar. Para que isso seja possível é necessário muito respeito e noção da responsabilidade que se tem ao usufruir desses lugares. É deste contato, porém, segundo Feldman, que nasce a importante relação entre o os cidadãos e os riquezas naturais que também os pertencem
Webventure Qual você acha que é a importância dos esportes de aventura para a consciência ambiental?
Feldman – Acho esses esportes muito interessantes, porque representam a procura por um novo estilo de vida. As pessoas, principalmente as que vivem nas grandes cidades, estão percebendo que podem se sentir mais felizes e tranqüilas em ambientes sem poluição, com bastante verde e belas paisagens. Acredito que, provando desta sensação, elas se preocuparão em manter esses lugares. Também porque, se o ambiente for degradado, a prática dos esportes fica impossibilitada.
Webventure – Como você enxerga o impacto ambiental provocado por esses esportes?
Feldman – As pessoas que praticam esse tipo de esporte deveriam ter uma consciência da importância da preservação desses locais. Se isso não acontece, elas estão se prejudicando. Eu acredito, porém, que esta nova geração que está, inclusive, procurando mais pelos esportes de aventura, sabe utilizar bem os recursos, se preocupa com isso. O impacto, na minha opinião, é mínimo.
Webventure – E o ecoturismo, na sua opinião ele tem um saldo positivo ou negativo para o meio ambiente
Feldman – Mais uma vez, tudo depende da maneira como é feito. Como nos esportes de aventura, o contato com a natureza ajuda muito. Trata-se de uma verdadeira terapia e isso está ficando cada vez mais perceptível para uma faixa da população. O mercado de ecoturismo no Brasil está se trasnformando em algo cada vez mais profissional e as próprias comunidades dos locais visitados estão desenvolvendo uma visão muito interessante.
No final do ano passado, estive em Lençóis Maranhenses, uma das mais importantes atrações acoturísticas do estado do Maranhão. Apesar das condições precárias de vida, a população local mostrou-se muito preocupada em manter o local, porque sabe que desta manutenção depende o seu sustento.
Cabe também ao ecoturista saber respeitar o lugar visitado e isso inclui os costumes e tradições locais. É importante também que a pessoa que vai para uma viagem dessas não ache que terá, no meio do mato, todo o conforto de um hotel cinco estrelas. Esforços no sentido de criar ambientes artificiais, visando maior conforto para turistas, pode causar um imenso impacto, destruindo belos lugares e impedindo gerações futuras de visitá-los.
Para que os recursos naturais do Brasil possam ser protegidos, nada melhor do que leis específicas e apoio da sociedade. Talvez seja exatamente por isso que o que sobrou da Mata Atlântica e as cavernas, por exemplo, estejam atualmente tão expostas. Conheça a função dessas leis, as dificuldades para que elas sejam aprovadas e como você também pode ajudar
Webventure Quais as principais leis de proteção ambiental que ainda não foram aprovadas?
Feldman – Um delas é para a proteção do patrimônio espeleológico e essa, eu acredito, deve ser aprovada ainda este ano. O detalhe é que faz aproximadamente dez anos que ela foi apresentada, uma prova de como esses assuntos são tratados com pouca atenção. A outra é sobre uma proteção mais efetiva da Mata Atlântica. Essa, porém, deve precisar de mais tempo para ser aprovada.
Webventure E qual é a dificuldade para que a lei de proteção à Mata Atlântica seja aprovada?
Feldman – Existem hoje muitos interesses representados no Congresso lutando para que essa aprovação não aconteça. Isso se dá principalmente por conta da resistência da bancada ruralista, que representa os proprietários de terra e também do mercado imobiliário, que exerce sua pressão. Em contraponto a esses grupos organizados, não há nenhum outro, formado por cidadãos comuns ou políticos para que a aprovação seja realizada. Falta, sim, organização e a visão do quanto isso é também importante para o país.
Webventure – E de que maneira, os cidadãos podem ajudar?
Feldman – Antes de tudo, não é possível iniciar nenhuma ação sem que as pessoas entendam sua importância e abrangência. Respeitar o meio ambiente também é não jogar lixo nas ruas, dar carona para diminuir o tráfego de automóveis… Os cidadãos, todos eles, têm muito poder se conseguirem entender um propósito e se organizar para torná-lo viável. Isso começa no bairro, na escola, e pode ajudar até na provação de leis que protejam importantes riquezas do país. Já existem algumas iniciativas mas, para um país do tamanho do nosso, ainda é pouco. Mais ações, organizadas por grupos conscientes podem, sim, melhorar o destino ambiental do Brasil.
Este texto foi escrito por: Debora de Cassia
Last modified: junho 7, 2001
