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Papo entre irmãos desvenda os segredos do Camel 99

Redação Webventure/ Rafting e canoagem

O sonho de todo rafteiro é, sem dúvida, descer os maiores rios do mundo (aqueles que só vemos em vídeos) e participar de um Camel White Water Challenge, até agora a competição mais importante e desafiadora do mundo do rafting, sempre em lugares alucinantes e com corredeiras que adrenalizam qualquer rafteiro experiente.

Meu irmão, Maurício Borsari, integrante da equipe Canoar Master, chegou lá. Há dois meses, ele voltou da África do Sul onde participou do último Camel, no rio Orange. Um dia na praia, depois de uma sessão de surfe, começamos a bater um papo. Da conversa, acabou saindo essa entrevista exclusiva para a Webventure.

Webventure – E aí, me fala do rio, já sei que ele era gigante e que foram abertas as comportas de uma hidrelétrica à aproximadamente 400km do local da prova, para que as corredeiras ficassem nervosas…

Maurício Borsari – Isso mesmo, foi montada uma logística operacional muito complexa para o Camel, pois envolvia uma hidrelétrica. As provas deveriam acontecer no momento em que o rio atingisse o nível máximo de volume d’água. Isto aconteceu no
segundo dia de competição, sendo que no terceiro, o volume já começou a diminuir. Mas a equipe da Camel conseguiu organizar um evento
de uma maneira saudável e harmônica. Outro detalhe é que as provas ocorreram dentro de um canyon, onde somente atletas e organização tinham acesso, o que dificultava ainda mais toda a operação.

Quanto as corredeiras, com certeza foram as maiores que eu enfrentei na minha vida. As provas de slalom aconteceram na primeira corredeira, uma classe V, pra mim a mais nervosa, e essa não dá pra esquecer porque várias equipes viraram ou deixaram cair remadores. Na realidade, ninguém passou ileso por ela no slalom, nós nadamos no ponto mais alto da corredeira, foi muito animal.

Webventure – O maior caldo da sua vida, né? E a segurança?

Maurício – Na verdade, a segurança só pode fazer alguma coisa depois que você toma o caldo. Até então, eu desci a parte mais forte da corredeira debaixo d’água e só retornei à superfície depois de uma natação muito agressiva.

Webventure – É imagino… do tipo sobrevivência!

Maurício – É, aí rapidamente encostava na gente um bote com remo central e alguns safetys (caiaque). E ainda contávamos com uma equipe de médicos completa, estratégicamente situada na margem, e mais um helicóptero com uma UTI dentro dele.

Webventure – Vocês estavam preparados psicologicamente para tudo isso?

Maurício – Na minha opinião, a nossa equipe teve uma postura emocional bastante positiva frente às adversidades que enfrentamos neste campeonato.

Webventure – Adversidades?

Maurício – Bom, foram vários os impactos, o primeiro deles e com certeza o mais marcante foi o tamanho das corredeiras, depois o nível da competição. Afinal de contas, competição top é sempre adrenalizante em qualquer modalidade. E outras coisas também que você conhece, como o fato de competir num rio diferente.

Webventure – Como foi o relacionamento com as outras equipes?

Maurício – Bom, num campeonato desses rola todo tipo de equipe, as tops têm uma postura mais fechada, mais fria, mesmo por que estão mais concentradas disputando as primeiras colocações. Outros atletas interagem mais, pois estão aprendendo, se atirando.

Webventure – Vocês conheceram alguns dos tops?

Maurício – Nós revimos os eslovenos, atuais campeões. Já existia uma afinidade entre as duas equipes desde os Jogos Mundiais da Natureza, quando eles vieram ao Brasil. No final do Camel, um dos remadores entrou no nosso bote e remou com a gente dando uns toques, mas não é sempre que isso acontece.

Webventure – Disto tudo, o que ficou?

Maurício – O que ficou foi uma sensação muito gostosa, por dois motivos. Primeiro é o sabor da realização de um sonho, pois alguns anos atrás, depois de competir e ganhar o primeiro campeonato Brasileiro de rafting, numa conversa com o nosso líder de equipe, José Roberto Pupo, eu me lembro bem quando ele disse: “Vocês vão ver o dia em que nós estaremos participando de um Camel”. E, depois de três anos de muito trabalho, o sonho se concretizou. A outra coisa é saber que, apesar de ser a primeira participação do Brasil numa competição do nível do Camel, ficou com a sensação de missão cumprida, pois nunca um país latino-americano esteve entre os dez primeiros. Nós ficamos com a sétima colocação, o que foi uma grande vitória, pois a Canoar Master é um grupo de amigos, que acima de tudo tem muito prazer naquilo que faz, por isso nos dedicamos tanto e acabamos alguns frutos interessantes como esse.

É isso aí, quando a conversa acabou já era tarde. Naquela noite fui dormir acreditando que a minha vez também vai chegar…

Este texto foi escrito por: Roberta Borsari

Last modified: outubro 21, 1999

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Redação Webventure
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