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Os caminhos dos órgãos

Redação Webventure/ Aventura brasil

Luz  câmera... ação: os astros desta nossa aventura (foto: Arquivo Pisa Trekking)
Luz câmera… ação: os astros desta nossa aventura (foto: Arquivo Pisa Trekking)

“Os homens marcham aos confins do mundo por diferentes motivos. Alguns são impelidos somente pelo desejo da aventura; outros sentem uma imensa sede de saber; os terceiros obedecem à uma sedutora chamada de uma voz interior, ao encanto misterioso do desconhecido que os afastam dos caminhos rotineiros da vida cotidiana.”
Shackleton

As motivações podem ser as mais diversas, mas vale a pena encontrar uma que leve a fazer a travessia Petrópolis – Teresópolis. São 43 quilômetros de aventura, emoção, encantamento e também muito esforço e auto-superação. A tradicional travessia é a melhor maneira de se conhecer o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, região que engloba os municípios de Petrópolis, Teresópolis, Magé e Guapimirim, no estado do Rio de Janeiro.

Para completar o percurso, não basta ter preparo físico. É preciso muita determinação e vontade de caminhar, pois além do percurso irregular, com subidas muito íngremes, necessita-se disposição para carregar mochila, barraca e mantimentos. Muitos trekkers aconselham fazer a travessia em quatro dias para que as belas paisagens possam ser observadas com mais calma, mas há quem faça em três, dois e até um dia. Entre os praticantes, comenta-se que a travessia já foi realizada em até seis horas, mas não há registros oficiais de recorde, pois até pouco tempo atrás não existia portaria na região de Petrópolis.

Para realizar a travessia é altamente recomendado o acompanhamento de guias que conheçam a região. Além da possibilidade de se perder por entre as trilhas, matas e montanhas, o percurso apresenta obstáculos onde é preciso experiência para ultrapassá-los. Não há placas indicando os caminhos e trilhas, apenas alguns totens pouco confiáveis durante o percurso.

O tradicional trekking pode ser feito nos dois sentidos, partindo de Petrópolis ou de Teresópolis, mas os mais experientes aconselham a primeira opção. “No sentido Petrópolis – Teresópolis, as paisagens são mais interessantes. É possível observar o Dedo de Deus, o Garrafão e as outras formações de vários ângulos diferentes durante o trajeto”, diz Maurício Lino de Almeida, da Pisa Trekking, operadora que organiza freqüentemente expedições para a região. Bom que seja mesmo assim, pois neste Aventura Brasil você irá acompanhar uma travessia que teve o bairro de Correas, em Petrópolis, como ponto de partida.

A repórter Shelly Zaclis viajou a convite da Pisa Trekking

Quem resolve fazer a travessia deve estar preparado para gastar a sola da bota nas ladeiras. A primeira etapa é a subida de aproximadamente uma hora e meia que vai até a portaria do Parque Nacional, onde são entregues sacos plásticos para armazenamento do lixo produzido durante a estadia no local. É interessante aproveitar o momento para se abastecer de água para os próximos quilômetros – ou para ir um banheiro propriamente dito pela última vez até a chegada a Teresópolis.

Dentro do Parque, a subida continua. O trekking é duro, mas a diversidade e a beleza das paisagens recompensam o esforço. O percurso traz desde trilhas em mata fechada, onde se pode observar a exuberância da vegetação até montanhas rochosas e amplas nos campos de altitude.

As vistas (de até 2.200 m de altitude) também recompensam o esforço. Nos dias em que o tempo está aberto, é possível observar perfeitamente a Baía de Guanabara na trilha que leva à formação rochosa denominada Açu. Um pouco mais à frente, no Morro do Marco, a paisagem é ainda mais incrível, além da Baía, pode-se observar as famosas e surpreendentes formações angulosas da Serra dos Órgãos: o Dedo de Deus, o Garrafão, a Pedra do Sino e o Nariz do Frade.

É interessante notar também a diversidade de clima. Passa-se do sol forte e calor úmido ao frio cortante em poucas horas. À noite, a temperatura costuma ser inferior aos 10ºC e o saco de dormir para -5ºC é o mínimo recomendado. Por ser uma travessia longa e dura, é muito importante levar equipamentos adequados, bem como reservar um tempinho para planejar exatamente o que levar para a mochila não ser um transtorno durante todo o percurso.

Como em qualquer outra atividade física, a alimentação durante a travessia é fundamental. Nada melhor do que um bom lanche para recarregar as bateriais e continuar o trekking. Depois da refeição, um ritual igualmente importante: sacos plástico à mão para recolher as embalagens e os outros materiais inorgânicos. Mas mesmo tendo que carregar o lixo acumulado, o peso da mochila vai diminuindo, afinal é uma refeição a menos para carregar!

Além da alimentação, a hidratação também é essencial. Um cantil deve estar sempre à mão para ser abastecido nas fontes de água que vão sugindo pelo caminho. Em algumas delas, a água é pura e límpida, em outras, uma gotinha de cloro para desinfetar é bem vinda.

Mas nem só de pão – e de água – vive o homem… O descanso no final de cada dia também é fundamental. Normalmente, monta-se o acampamento em lugares planos e que tenham água por perto. O Platô Ajax, o Dinossauro e o Paraíso são locais muito procurados pois, além de apresentarem essas características, são razoavalmente protegidos do vento.

Fogareiro, baralho e amigos – Apesar do frio comum na Serra dos Órgãos, depois de seis, sete horas de caminhada, a barraca, o isolante térmico e o saco de dormir vão parecer acomodações de um hotel cinco estrelas. Mas a melhor sensação é, sem dúvida, a de tirar a bota de trekking, relaxar e curtir intensamente o contato com a natureza que o campismo possibilita. Não há nada mais revitalizante do que observar o céu estrelado e os sons da natureza enquanto a comida está sendo preparada no fogareiro.

Além da intimidade com a natureza, as longas travessias possibilitam também o convívio com as outras pessoas que estão na expedição. A eletricidade e toda a parafernália que vem junto com ela dão lugar a um longo bate-papo ou um bom joguinho de baralho.

Além de belas paisagens e ótimo trekking, a Serra dos Órgãos oferece muita, mas muita adrenalina. A parte mais radical da travessia começa depois do Vale das Antas, quando os aventureiros chegam a escalar rochas e utilizar cordas para descer paredes íngremes e atravessar pequenas fendas. Em alguns momentos, é necessário entregar as mochilas para os companheiros para conseguir passar. Nesta parte do percurso, a experiência dos guias é absolutamente indispensável.

A subida até a Pedra do Sino, a 2200 m de altitude, é o grande troféu de toda a jornada. É o último ponto alto antes de começarmos a fase final da travessia, onde se pode apreciar uma das paisagens mais bonitas de toda a serra. Quando o tempo está aberto, é possível enxergar o Garrafão e a cidade de Teresópolis. Quando está encoberto, vale a pena sentar e relaxar, pois o espetáculo também pode ser incrível. Inesperadamente, o vento forte afasta as nuvens que estão circundando o morro, propiciando uma vista arrebatadora por alguns poucos minutos, com certeza insuficientes para apreciar toda a beleza do lugar e ainda imortalizar aquela imagem em uma fotografia bem tirada.

Esses poucos minutos já recompensam o esforço aventureiro de todo o percurso. Há também quem prefira deixar para subir na Pedra do Sino logo pela manhã, para apreciar o nascer-do-sol desse ponto estratégico. Neste caso, existe a opção de acampar em um lugar chamado Acampamento 4, que fica próximo à base da montanha. Os mais ousados agüentam o vento frio e acampam em cima da montanha mesmo.

Enfim, a chegada – A fase final da travessia pode ser considerada a mais tranqüila. Uma trilha larga e longa vai ziguezagueando até chegar em Teresópolis. É possível notar claramente a influência do clima e da altitude na vegetação. Depois de muitos e muitos quilômetros de montanhas rochosas e vegetação rala nos campos de altitude, podemos ver novamente a mata verde e densa. Nessa trilha é possível também relaxar e tomar banhos refrescantes em cachoeiras que vão surgindo pelo caminho.

Alguns quilômetros mais de vai-vem, banhos de lama, cachoeira e se começa a notar a proximidade da sede do Parque. Depois de dias cruzando apenas com aventureiros por entre as montanhas, rochas e matas, surgem esportistas que vêm só para passar o dia no Parque com suas roupas de jogging. A sede é bonita e bucólica, mas pouco pode ser apreciada, pois tudo o que se quer é um bom prato de comida e, se possível, um longo banho quente.

Hoje, a Serra dos Órgãos é freqüentada basicamente por esportistas e aventureiros. Mas, no passado, ela já recebeu presidentes, imperadores e até astros de Hollywood. O Parque Nacional, que tem sede em Teresópolis e 11 mil hectares de extensão, foi criado em 1939, pelo então presidente Getúlio Vargas. Pode-se dizer que a idéia de criação deveu-se a estudos cartográficos feitos por uma missão da qual participaram militares belgas quando a área passou a despertar maiores interesses.

Mas a região havia sido descoberta bem antes por outra figura ilustre da nossa história: Dom Pedro I. Ele chegou à fazenda do Padre Correias em março de 1822, quando ia para Minas Gerais em busca do apoio para o movimento de Independência.

Além de personalidades nacionais, as formações exóticas e o clima do local atraíram também os estrangeiros. “Tarzan e o Grande Rio”, um filme de 1967, teve uma parte rodada no Vale do Bonfim, em uma cachoeira que ficou conhecida como a “Cachoeira do Tarzan”. O astro da época foi Mike Henry e alguns colonos que habitavam a região trabalharam como figurantes.

Na mira – Infelizmente, alguns problemas ameaçam a preservação do Parque: poluição das águas, desmatamentos e erosão dos solos. “No feriado de 7 de setembro do ano passado, tivemos de cancelar uma travessia, pois alguns focos de incêndio ameaçavam se proliferar pelo Parque”, relata Fernando Henrique de Souza, da Pisa Trekking.

O acúmulo de lixo deixado pelos visitantes também é outro transtorno. Já existe uma iniciativa para limpeza do Parque por meio de um programa de colaboradores voluntários. Periodicamente, uma pequena região é demarcada e as pessoas que quiserem colaborar são bem-vindas para ajudar a retirar o lixo acumulado no local.

Ainda com relação às iniciativas de preservação ambiental, destaca-se também uma campanha que foi elaborada com enfoque na conscientização da população para o não aprisionamento de animais silvestres e contra o seu comércio ilegal.

Sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos
fone: (21) 642-1070
É cobrada uma taxa de R$ 3 para entrar no Parque.

Quem leva
A Pisa Trekking organiza travessias de três e quatro dias e possui guias com vasta experiência na região.

Pisa Trekking

  • fone: (11) 5052-4085
  • e-mail: pisa@pisatrekking.com.br
  • site: www.pisatrekking.com.br
  • preço (travessia de 4 dias): R$ 378,00 (à vista) ou 3x R$ 126,00 ou 6x R$ 68,00 sem juros
  • o que inclui: transporte em ônibus leito, barracas tipo iglu para 2 ou 3 pessoas, isolante térmico, pensão completa durante a travessia, guias e seguro de viagem.

    Para quem vai por conta própria*
    (*) É altamente recomendado o acompanhamento de guia com experiência na região.

    Via Aérea
    O aeroporto mais próximo é na cidade do Rio de Janeiro

    Via Terrestre
    Por Petrópolis: a partir do Rio de Janeiro, o acesso é pela BR-040 até Petrópolis. Para chegar ao Vale do Bonfim (acesso para a Pedra do Açu), é preciso seguir pela rodovia União e Indústria (RJ 130) até o bairro de Correas.

    Por Teresópolis: partindo do Rio, o acesso é pela BR-116 até Teresópolis. Para iniciar a caminhada, será preciso seguir até a sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos pela própria BR-116.

    Hospedagem

    Em Petrópolis:

  • Locanda della Mimosa
    (Al. das Mimosas, 30 – Vale Florido)
    Acesso pelo km 71,5 da BR-0
    fone (24) 242-5405

  • Terracota
    Estr. de Secretário, km 6 (distr. de Secretário)
    fone: (24) 228-1125

    Em Teresópolis:

  • Pousada Toca-Terê
    Pça. dos Namorados – Ingá
    fone: (21) 642-5020

  • Rosa dos Ventos
    acesso pelo km 22,6 da RJ-130 para Nova Friburgo
    fone: (21) 742-8833

  • Camping Quinta da Barra
    Rua Antonio Maria, 100
    fone: (21) 643-1050

    Este texto foi escrito por: Shelly Zaclis

    Last modified: setembro 29, 2000

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