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O que é mais perigoso numa mata?

Redação Webventure/ Aventura brasil

Freqüentemente várias pessoas me perguntam o que é mais perigoso em uma mata. Algumas morrem de medo de encontrar uma onça e outras de serem picadas por uma cobra (veja artigo). Mas o que realmente me deixa desconfortável é a possibilidade de ser atingido por um galho ou até mesmo por uma árvore. Uma floresta em dia de tempestade não é um dos lugares mais saudáveis para se estar.

Foi andando em uma floresta tropical em dia de tempestade que eu pude
compreender o medo dos Gauleses de que o céu caísse sobre suas cabeças. A chuva e os relâmpagos são apenas o começo de um quadro terrificante. Em poucos instantes, grandes galhos despencam ao redor praticamente sem avisar, arrancados pelo vento forte que sopra em todas as direções.

O primeiro e único sinal é o barulho de outros galhos menores sendo quebrados em seu caminho. Quase que imediatamente vemos a grande massa de madeira chocar-se contra o chão a uns 10 ou 15 metros. Em dias piores ouve-se ao longe a queda de uma grande árvore. Primeiro vem o ranger do tronco descomunal dobrado pelo vento. Em seguida o ruído de outras árvores menores partidas no caminho do tronco para baixo seguido pelo estampido quando finalmente encontram o chão. Imediatamente sentimos tudo tremer sob os nossos pés e pensamos que desta vez nem foi tão longe.

Perigo real
Vários galhos grandes já passaram muito perto de mim. Uma vez, em Linhares, no norte do Espírito Santo, um galho com mais de dois metros e da espessura de uma trave de futebol passou raspando a minha cabeça enquanto eu corria para sair da mata quando começou a ventar muito forte. Mais uns 15 centímetros para a esquerda e eu tinha dançado. Naquele dia eu demorei demais para fugir da floresta. Só fui me dar conta do perigo que eu corria quando senti o chão tremer sob meus pés com a queda de uma árvore gigantesca a menos de 100 metros.

No dia seguinte, voltei para procurar a árvore caída e encontrei uma grande castanheira de quase 40 metros de altura cruzada no meio da trilha, formando uma parede de mais de 2 metros de altura. Em outra ocasião, começou a ventar muito forte quando eu estava com uma amiga no alto de uma figueira de uns 25 metros, cheios de equipamentos de vertical, presos em cadeirinhas, em duas cordas, jumares e etc, fotografando morcegos comendo de dia. O alto da árvore balançava muito e nós passeávamos mais ou menos 2 metros a cada rajada de vento. Me lembrei do barulho da grande castanheira caindo e só conseguia pensar de que lado eu tinha de estar quando tudo aquilo fosse para o chão. Felizmente não foi daquela vez…

As grandes árvores parecem realmente sólidas e imutáveis. Parecem que
sempre estiveram ali e que assim continuarão para sempre. Mas a realidade não é bem esta. Em uma floresta, árvores crescem, caem e morrem o tempo todo. Neste processo, a floresta se renova.

Estima-se que 15 grandes árvores caiam por ano em uma área de mata do
tamanho de um quarteirão. Isto significa mais de uma por mês ou duas em cada área do tamanho de um campo de futebol por ano. Calcula-se que a cada 100 ou 200 anos uma floresta possa ser renovada pela queda de suas árvores. Caindo uma árvore aqui, outra ali, se suas clareiras não se sobrepusessem, em um pouco mais de um século cada pedaço da mata teria passado algum momento como clareira. É claro que as árvores não caem regularmente, que muitas clareiras se sobrepõe e que várias árvores vivem bem mais que dois séculos. Mas, na média, este é o tempo de renovação de uma floresta.

Destruindo e Criando

É em clareiras abertas no meio da mata pelas árvores caídas que muitas
espécies de plantas encontram espaço para crescerem. Muitas plantas
jovens espécies que serão grandes árvores necessitam da luz das
clareiras em alguma etapa do seu desenvolvimento. Outras plantas
pioneiras, que só crescem com muito sol, têm nas clareiras a chance de
viver em uma mata, ocupando-as assim que são formadas.

A queda de grandes árvores cria um mosaico na mata, aumentando a
heterogeneidade de ambientes, possibilitando a existência de um maior
número de espécies de plantas e consequentemente colaborando para a
existência de um maior número de outros seres associados a estas
plantas.

Eu sei que ver uma árvore gigantesca e centenária despencar é uma cena
triste mas, em última instância, sua queda colabora para o aumento da
diversidade de espécies.

Este texto foi escrito por: Cláudio Patto

Last modified: fevereiro 21, 2017

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