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Medicina da aventura: lesões por overuse

Redação Webventure/ Biking, Corrida de aventura, Trekking

Tendinite do tendão supra-espinhal do ombro: comum em quem pratica esportes a remo (foto: Reprodução)
Tendinite do tendão supra-espinhal do ombro: comum em quem pratica esportes a remo (foto: Reprodução)

As lesões por overuse, ou por micro-traumas de repetição são freqüentes na prática clinica de quem lida com a traumatologia do esporte. Nos esportes de aventura, em modalidades competitivas como o Mountain Bike, Trekking, Corrida de Orientação e Corrida de Aventura, sua incidência tem crescido.

Os tecidos vivos, quando submetidos a cargas cíclicas repetitivas reagem de maneira diferente de outros materiais. Existe sempre um coeficiente entre a destruição tecidual que qualquer esporte proporciona e a capacidade de reconstrução do organismo, que varia amplamente entre cada indivíduo. Quando existe harmonia entre as duas, o esportista encontra-se na chamada “zona de homeostase” (figura 1), ou “zona do envelope de função”. Quando, no entanto, a primeira prevalece sobre a segunda, existe lesão.

Uma vez rompido o envelope de função, a articulação passa a trabalhar na zona supra-fisiológica, cujo principal resultado em termos práticos é dor, que pode incapacitar o indivíduo tanto para a prática esportiva, quanto para as atividades da vida diária, como subir e descer escadas, ficar muito tempo sentado em uma posição, andar, escrever, digitar, etc. Esta dor ocorre por reação inflamatória difusa da articulação, chamada sinovite, ou dos tendões e bursas que a atravessam, caracterizando as tendinites e bursites, respectivamente. Exemplos clássicos são a tendinite do ombro (síndrome do impacto), dores nos joelhos, dores nas costas (lombalgias), fasceítes plantares nos pés e fadiga muscular.

Lesão – Felizmente, na grande maioria dos casos, o indivíduo sintomático procura auxílio médico, reabilita-se e retorna às atividades que praticava em níveis pré-lesionais. No entanto, alguns atletas conseguem conviver com a dor, ou tentam ignorá-la no intuito de romper seus próprios limites fisiológicos e conseguir melhor lugar ao pódio. O que se segue, nestes casos, é a passagem para a “zona de falência estrutural”, onde os tecidos traumatizados rompem-se, ocorrendo as fraturas por estresse (figura 2), as rupturas musculares e tendíneas e formação de fissuras e hérnias de discos intervertebrais da coluna vertebral.

A fratura por estresse, o maior exemplo de lesão por overuse em zona de falência estrutural ocorre quando o tecido ósseo não suporta a carga cíclica e rompe-se. Isso, inicialmente, ocorre no periósteo, membrana que recobre, inerva e nutre o osso, passando posteriormente para toda sua espessura, necessitando, em alguns casos de tratamento cirúrgico. Ossos que costumam sofrer fratura por estresse são, em ordem de freqüência, o segundo metatarseano dos pés, comum nas travessias de trekking, a tíbia e a Fíbula, comum em corredores. São também descritas fraturas na Patela, colo do Fêmur e coluna lombar.

Dr Adriano Leonardi é médico ortopedista especialista em artroscopia, cirurgia do joelho e traumatologia do esporte. Membro da Wilderness Medical Society e mestrando em ortopedia e traumatologia pela Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo. É idealizador da equipe Taktos de Medicina esportiva e de aventura além de praticante entusiasta de esportes de aventura.

Até duas décadas atrás, a traumatologia do esporte impunha um limite de maneira clara entre os traumas agudos que originavam uma lesão, como, por exemplo, um ciclista que se acidentou e fraturou os ossos do joelho e as lesões por overuse, como em um nadador que desenvolvia tendinite do ombro pelo atrito excessivo e repetitivo dos tendões que compõem o manguito rotador do ombro contra o osso Acrômio.

Hoje, este limite não existe mais, ou seja, sabe-se que quem pratica um esporte e desenvolve uma lesão por overuse tem maior chance a desenvolver lesões agudas. A exemplo disso, pode-se citar um nadador competitivo que submete a cápsula e os ligamentos do ombro a estresse repetitivo, desenvolve frouxidão articular e, em certo momento, em um movimento relativamente inofensivo, pode luxar (deslocar) o ombro.

O tratamento deste tipo de lesão é um grande desafio não só porque o esportista deve, invariavelmente, afastar-se do esporte, mas também pelo fato de pequenas atividades da vida diária também podem causar sintomas. A reabilitação deve ser feita concomitante a atividades físicas que mantenham a performance cárdio-respiratória e que não agravem a lesão. Em geral, exercícios aquáticos são os mais indicados.

Reabilitação – O retorno ao esporte deve ser criterioso. É importante saber se o esportista já se encontra dentro de seu envelope de função. Havendo retorno precoce, pode ocorrer recidiva de dores e o tratamento é reiniciado.

Uma vez restabelecido o envelope de função é necessário corrigir fatores que desencadearam a lesão, como, por exemplo, a prescrição de palmilhas, correção de vícios posturais e tratamento de encurtamento, fraqueza e desequlibrio musculares em academia de ginástica, ou pelo dinamômetro de fortalecimento isocinético.

Este texto foi escrito por: Dr. Adriano Leonardi

Last modified: maio 3, 2007

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