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Markolf, 26º do mundo: “Nada disso me surpreende”

Redação Webventure/ Biking

Ele só tem 19 anos e uma história inédita praticando um “esporte de maluco”. Passou cinco meses no exterior ao lado das maiores feras mountain bike downhill e não fez feio: já é o 26º no ranking mundial. “No ano que vem quero ficar entre os 15 primeiros. Meu objetivo é ser um dos cinco melhores”, diz Markolf Berchtold, com a naturalidade de quem planejou cada passo desde o dia em que deixou a pacata Schroeder (SC) para ganhar o mundo.

No Brasil, Markolf Berchtold é considerado um maluco que desce morros numa pequena bicicleta: um downhiller. A modalidade mais rejeitada do mountain bike por ser considerada perigosa demais foi abraçada pelo biker catarinense por conveniência: “meus resultados sempre foram melhores no downhill”. Ele começou andando no cross e também participava de corridas de moto. Sua escolha determinou que ele não fosse apenas um anônimo no campeonato catarinense, mas o melhor do Brasil.

Vida de cigano

Markolf (pronuncia-se Márkolf), descendente de alemães, queria ser o melhor do mundo. Por isso deixou a escola no 1º colegial: “Isso foi muito discutido com o meu pai, mas era necessário para que eu me dedicasse mais aos treinos. Agora não me faz falta, mas um dia posso até me dar mal por não ter seguido nos estudos.” O próximo passo foi virar ‘cigano’. Ele e os pais largaram a casa em Santa Catarina para viajar pelo mundo inteiro de hotel em hotel, seguindo o circuito da Copa do Mundo: França, Eslováquia, Itália, Áustria, EUA. Na 7ª etapa, ele ficou em oitavo lugar, a primeira glória.

Markolf terminou a temporada como o 23º colocado, o mais novo entre os competidores e o único latino-americano. “Tive uma pausa de duas semanas e fiquei treinando na Europa. Foi fundamental porque eu estava estressado de tanta viagem”, lembra. Próxima parada: Suécia, país-sede do Mundial. O reencontro com os brasileiros e a estréia na Elite – um ano antes ele havia sido o 10º na Júnior, quando esperava um pódio.



“No Brasil, downhiller é chamado de maluco. Mas as coisas vão melhorar. Pior do que está não pode ficar”



“O Mundial foi bem difícil. Tinha chovido muito naqueles dias e o sol apareceu na final. O barro começou a secar e a pista ficou muito dura, não é como eu gosto”, conta. Mesmo assim, o catarinense ficou em 21º lugar. “Foi muito melhor do que eu esperava. Fechei a temporada acima do meu objetivo.”

Agora ele descansa em Schroeder e vive um pouco os seus 19 anos: sai com os amigos para as cidades vizinhas, pedala ‘sem compromisso’, pega onda. “Mas não vou deixar de treinar. Não posso parar se quiser alcançar meu objetivo: ser um top five. No ano que vem, pretendo ficar já entre os 15 melhores do mundo”, avisa.

Bola de cristal

Pretensão? Talento? O que explica as declarações e as conquistas do brasileiro? “Nada me do que está acontecendo me surpreende. É uma questão de lógica. Tudo foi planejado, trabalhamos (Markolf sempre se refere a ele e à família) muito com essa intenção.” Ainda falta muita coisa, admite o downhiller. Não ter uma equipe na Copa fez ele perder tempo com preocupações externas: trocar pneus, procurar o hotel mais barato… O velho ‘paitrocínio’ prevaleceu: “Tive apoio da Scott e da Continental Airlines, mas boa parte foi o meu pai quem bancou. Espero mudar isso em 2.000.”

Markolf vai aproveitar as férias para matar a saudade dos campeonatos nacionais. Saudade?! “Aqui o downhiller é considerado maluco. E falta gente que conheça o esporte para montar circuitos de nível. Mas tenho esperanças de que vá melhorar. Pior do que está não pode ficar…”, dispara. De qualquer forma ele vai participar do Carioca de downhill, que começa no próximo dia 30. Depois, volta à vida de cigano. E não precisa de bola de cristal para saber do seu destino. “Meu objetivo maior é ser campeão do mundo. Isso não tá longe de acontecer.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: setembro 24, 1999

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