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Klever prevê: ‘o Dakar 2.000 será o mais difícil de todos’

Redação Webventure/ Offroad

Imprevisível, como nunca. Assim o piloto Klever Kolberg descreve o Rali Paris-Dakar-Cairo 2.000, a 22ª edição da prova mais famosa do off road. Mas a experiência de 11 participações dá ao brasileiro condições de “fazer um exercício de adivinhação”, como ele diz. Em entrevista exclusiva à Webventure, Klever conclui: “deve ser o Paris-Dakar mais díficil de todos os tempos.”

A primeira novidade, anunciada pouco depois da edição 99, foi a chegada nas pirâmides do Egito. Depois a organização mudou o local da largada. Em Paris vai acontecer apenas a verificação técnica. Os carros seguem em comboio marítimo para Dakar, onde finalmente o rali começa, no dia 6 de janeiro. O primeiro efeito desta mudança foi no bolso dos competidores. “A inscrição teve um aumento de 50% e passou a custar 15 mil dólares”, revela Klever. “E com o dólar subindo todo dia, nosso orçamento se multiplicou.”

Cortes foram inevitáveis. “Isso faz com que a gente não esteja treinando tão bem como devia. Fazer sacrifícios aumenta o desafio, mas traz um desgaste ainda maior”, observa. Além da crise, o trajeto longo de 10 mil quilômetros do Dakar 2.000 será o maior obstáculo para os pilotos e navegadores.

Para a história – De Dakar, na África, o rali segue para o Senegal, Mali, Burkina Fasso, Níger, Chade, Líbia e finalmente o Egito. “É puro deserto”, define Klever. “Nas outras edições ainda havia trechos de asfalto e lugares com alguma civilização, como o Marrocos”, lembra. “Como é a virada do milênio, certamente vão querer que o percurso seja difícil para colocar o rali na história.”

Não dá para arriscar um palpite sobre o vencedor. “Vai haver mais competidores do que antes”, adianta o brasileiro, que ficou em primeiro na categoria Motos-Maratona, em 93. “Na primeira etapa, no Senegal, será difícil fazer ultrapassagens. A vegetação faz com que a poeira custe a se dissipar. Os grandes espaços só devem surgir mais pra frente.”


“Guerra e a miséria estão por onde passa o rali. Spielberg está perdendo de filmar lá.”



Depois do Senegal é a vez do Mali, onde aconteceu o assassinato de um piloto, em 91, durante guerra civil. Mas as principais lembranças de guerra na memória de Klever pertencem a um país chamado Chade. “Vimos as paredes das casas perfuradas de balas. É difícil não se impressionar”, descreve. “A dobradinha guerra-miséria está em todos os lugares por onde passa o rali. O Steven Spielberg está perdendo por não ir filmar lá.”

Entre as regiões mais pobres onde os pilotos passarão em 2.000 está Burkina Fasso. “Nesses lugares sofremos um assédio intenso das pessoas necessitadas. Precisa ter muito preparo para não ficar com a consciência pesada”, conta Klever.

‘Se eu levar um tiro…’- A adrenalina promete aumentar na segunda metade da prova. No Níger, o desafio é atravessar o deserto Tenere e a ameaça de conflitos. “Realmente é difícil prever alguma coisa nesses países e confiar nas notícias. Da ‘paz’ se vai à guerra num dia. Se eu levar um tiro ali vou protestar por termos passado num lugar desses”, avisa.

No Egito, última etapa após o Chade e a Líbia, os competidores terão de encarar a areia seca e fofa “e as perigosíssimas dunas Catedrais, que escondem buracos imensos”, alerta Klever.

“Mesmo conhecendo um pouco desses países, não sabemos quais serão os caminhos usados para se chegar neles. Isso elimina qualquer possibilidade de reconhecimento ou treino no local da prova”, observa. Klever faz parte da Equipe BR-Lubrax, que tem ainda André Azevedo (caminhão) e Juca Bala (moto). “Já estamos treinando conforme o tempo permite. O Juca está se recuperando da fratura na mão durante o Rali dos Sertões e logo estará no ritmo.” Para saber mais sobre a equipe, vá ao site www.parisdakar.com.br.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: setembro 9, 1999

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