Conheça detalhes importantes que ajudam a conseguir boas imagens independente de condições climáticas ou de altitude.

Em julho de 2003, estive viajando e fazendo um trabalho de filmagem na Bolívia, buscando retratar o turismo de aventura em La Paz e suas cercanias.

Nesta época do ano, a cidade tida como a capital mais alta do mundo, a 3.800m é invadida por milhares de turistas estrangeiros, a maioria deles americanos e europeus, que buscam a grande variedade de aventuras e os baixos preços que os países andinos oferecem. Ironicamente, quase que não se vê brazucas por lá, mesmo sendo um país vizinho e que oferece condições facilitadas para quem deseja aventura.

Neste trabalho, eu pude filmar de tudo um pouco: caminhadas, escaladas em alta montanha no Parque de Sajama (cordilheira ocidental) e no Huayna Potosi (cordilheira real), roteiros de mountain bike na estrada da morte, parques naturais nas proximidades da capital, o cotidiano da cidade e do povo, museus, igrejas e tudo mais que foi possível neste pouco tempo.

E não foi nem um pouco fácil. O ambiente de montanha é extremamente agressivo, principalmente para equipamentos tão delicados quanto câmeras de vídeo digital. Em resumo, encarei dias seguidos de temperatura muito baixa, chegando até 20o C, muita poeira fina, e, para finalizar, tempestade de neve em acampamentos de altitude a mais de 5.000m.

Independentemente da atividade, filmar esportes de aventura quase sempre significa filmar ao ar livre – sob ameaça de chuva, de frio ou calor, de vento e poeira, e de outras intempéries do tempo – longe da proteção e das condições confortáveis e controladas que normalmente temos em ambientes cobertos. Ignorar estes problemas pode arruinar o seu trabalho ou danificar permanentemente o seu equipamento de gravação.

Se você pretende começar a filmar nessas condições, aqui vai uma lista dos principais fatores que ameaçam o equipamento e algumas medidas para ajudar a evitá-los:

Poeira – Um dia ventoso em áreas abertas oferece os ingredientes necessários para expor o seu equipamento de vídeo àquela poeira miúda, grudenta e indesejável, que pode comprometer permanentemente o seu bom funcionamento. Infelizmente, a poeira é um mal que não pode ser evitado, mas que, sim, pode ser minimizado se tomarmos alguns cuidados simples em relação ao uso e à limpeza da câmera e de seus componentes.

Lentes – O primeiro ponto de atenção que você deve ter contra a ameaça da poeira refere-se às lentes. Para obter boas imagens é muito importante estar sempre atento ao estado de limpeza dos “olhos” de sua câmera. Uma lente suja, arranhada ou contaminada por fungos, pode comprometer seriamente a qualidade do seu trabalho. Para evitar isso:

1.Faça a checagem constante das lentes e, sempre que necessário, a sua limpeza. A limpeza deve ser cuidadosa e utilizar somente produtos próprios para este fim (disponíveis em kits nas melhores lojas do ramo). As lentes são extremamente sensíveis e podem ficar comprometidas se não forem limpadas de forma adequada. E, por favor, não caia na tentação de usar papéis guardanapos ou a manga da sua camisa para limpá-la. É arranhão na certa.

2.Use sempre a capa da lente quando não estiver fazendo tomadas. Quanto menos tempo a lente ficar exposta, melhor. Vale também estar sempre checando o estado da própria capa, pois ela mesmo pode conter sujeira. Há, é claro, cuidado para não perdê-la neste tira-e-põe. Algumas vêm penduradas na câmera, mas dependendo do jogo de lente que você estiver utilizando, ela pode vir solta.

3.Use sempre filtros neutros como camada extra de proteção. É uma opção barata e eficiente para a proteção das lentes de sua câmera, mas que não exime da necessidade de tomar as medidas de limpeza e conservação. De qualquer forma, em última instância, trocar um filtro neutro sai sempre mais barato que trocar todo o sistema de lentes da câmera.

Partes móveis – Outro ponto importante que merece cuidado especial contra a poeira refere-se às partes móveis do equipamento. Uma câmera é um conjunto de milhares de peças que são ajustadas com precisão milimétrica. Algumas dessas peças compõem partes móveis da câmera, tais como: os motores que movimentam as fitas e cabeçotes de gravação, os motores e ajustes manuais de zoom, foco e exposição das lentes, as roscas de encaixe, adaptadores de acessórios, botões de controle e conectores de cabos, dentre muitas outras “portas” para o interior de seu equipamento. Para evitar que a poeira entre em seu equipamento possa comprometer definitivamente seu funcionamento, vale adotar algumas medidas:

1.Nunca abra o compartimento de fita em ambientes que apresentem as condições de risco para a entrada de poeira. Esta é uma das partes mais sensíveis e expostas de seu equipamento, onde a poeira pode entrar com facilidade e causar danos sérios, tanto nas engrenagens quanto na cabeça de gravação.

2.Sempre que não estiver utilizando sua câmera, mantenha-a dentro de seu estojo ou então envolta em alguma capa de proteção. Este trabalho de tira-e-põe é realmente chato mas ficará automático com tempo e disciplina.

3.Botões de controle e conectores de cabos também são portas de entrada da poeira. Tente sempre mantê-los isolados. Filmes plásticos que vêm em rolos e podem ser comprados em qualquer supermercado – podem ser utilizados para isolar os botões sem atrapalhar o seu uso. As capas dos conectores devem ser mantidas fechadas, sempre que estes não estiverem sendo utilizados.

4.Tenha sempre a mão uma flanela, uma escova com cerdas macias e, se possível, um spray de ar comprimido. Não hesite em utilizá-los ao menor sinal de contaminação por poeira.

Vale como recomendação geral, fazer uma limpeza sempre que terminar a utilização de seu equipamento, antes de guardá-lo. O acúmulo de poeira, mesmo em pequenas quantidades, também pode ter efeito prejudicial em longo prazo.

Umidade – A umidade é um inimigo sério, pois pode afetar permanentemente o funcionamento das partes eletrônicas de seu equipamento. Evite qualquer tipo de contato de seu equipamento com umidade. Para isso:

1.Mantenha seu equipamento sempre afastado de potenciais fontes de umidade, tais como chuva, respingos, neve e condensação.

2.Filmar debaixo da chuva ou debaixo d’água, somente se seu equipamento tiver capas de proteção ou caixas estanques que sejam adequadas para este fim.

3.Evite levar sua câmera de ambientes frios e secos para ambientes quentes e úmidos. O choque de temperatura pode gerar condensação em todo o equipamento, dentro e fora dele. Uma forma para evitar que isso aconteça é colocar a sua câmera num saco plástico bem fechado, antes de se trocar de ambiente, o que manterá a condensação do lado de fora. Assim que as temperaturas de dentro e de for a do saco forem equilibradas, após alguns minutos, você poderá retirar a câmera do saco e voltar a utilizá-la normalmente, sem risco.

4.Evite assoprar em seu equipamento. O ar quente e úmido de sua respiração em contato com a superfície mais fria do seu equipamento também pode gerar condensação.

5.Ao guardar seu equipamento, coloque junto alguns sachets de cristal de sílica, que removem a umidade do ar que está no estojo da câmera e do equipamento de filmagem. Esta medida também ajuda a evitar a criação de fungos nas lentes.

6.Tenha sempre a mão um pano seco para o caso de algum respingo chegar a sua câmera. Se você perceber que a umidade penetrou no equipamento, desligue-o imediatamente e coloque-o num lugar seco.

Temperaturas – Temperaturas muito altas ou muito baixas também podem afetar o funcionamento de seu equipamento de forma passageira ou mesmo danificá-lo permanentemente. Antes de filmar em regiões muito frias ou muito quentes, condições normais para a prática de alguns esportes de aventura:

1.Leia o manual de sua câmera para saber exatamente qual o range operacional de temperatura para o seu equipamento. Esses equipamentos funcionam normalmente entre 30o e 10o C e com baixo rendimento entre 40o e 0o C. Fora desses limites, se ficarem expostos por um período de tempo prolongado, podem ficar danificados quando em uso.

2.Se você for fazer filmagens em locais muito frios, como montanhas ou pistas de ski, mantenha sempre a câmera dentro de alguma bolsa que ofereça proteção térmica, deixando-a exposta o mínimo de tempo possível. Lembre-se que um frio ou calor intensos provocam contração ou dilatação das partes sólidas de sua câmera. Num mecanismo de ajuste fino como esse isso pode representar dano permanente.

3.Baterias são sistemas químicos que perdem rendimento de forma muito drástica em baixas temperaturas. Fique atento a isso ao planejar a quantidade de carga que estará levando para suas filmagens de snowboarding. Para que elas não percam o rendimento, deixe-as nos bolsos de sua roupa. Isso ajudará a mantê-las aquecidas

4.O Sol é uma fonte de calor que pode danificar seu equipamento de filmagem. Por isso, evite deixá-lo exposto diretamente sob a ação dos raios solares ou em ambientes muito abafados (interior de carros, por exemplo). Suas fitas, com horas e horas inestimáveis de gravação, também podem ser derretidas.

Riscos inerentes dos esportes de aventura – Vale lembrar que o exercício da filmagem de esportes de aventura pode expor você e o seu equipamento aos mesmos riscos e condições que um praticante destes esportes. Isso, por si só, daria um artigo extenso, vários até, o que não é o nosso objetivo neste momento. Mas fica então a advertência de que, além da poeira, da temperatura e da umidade, você deve estar sempre ciente e preparado para os riscos que cada um dos esportes oferece a você e ao seu equipamento.

Se você vai filmar escaladas, por exemplo, conheça os riscos e os procedimentos deste esporte antes de dar qualquer passo adiante. Estude, pesquise, consulte profissionais para entender exatamente o que acontece na prática deste esporte. Além de ajudar a evitar riscos desnecessários, isso também ajudará a entender melhor o esporte e a ajustar a sua linguagem videográfica a realidade. Com isso, com certeza, o resultado final de seu trabalho acabará se tornando até mais interessante para o seu público, seja ele especializado ou não.

Recomendações gerais – Eu, particularmente, sou do tipo que pega um equipamento e começa a utilizá-lo sem ler o seu manual de instruções e recomendações. Este é um péssimo hábito. A leitura de um manual ajuda a entender melhor os limites de utilização de seu equipamento e a prevenir eventuais problemas devidos a má utilização. Por isso, não faça o que eu faço e deixe de lado a preguiça de ler aqueles textos (chatos, eu concordo). Isso pode economizar tempo e dinheiro.

Outra coisa importante é entrar em contato com a assistência técnica de seu equipamento para saber como proceder em caso de mau funcionamento. Conhecendo os termos de garantia e quem vai meter a mão na massa pra deixar deu equipamento funcionando novamente pode economizar tempo, dinheiro e muitas dores de cabeça. Nunca tente consertar você mesmo. Além de poder piorar o estrago, você provavelmente estará anulando a garantia de fábrica.

Use sempre aquela alça tiracolo que vêm junto do equipamento. Tombos acontecem e o impacto de uma queda, por menor que seja, pode estragar um dia, até então, muito proveitoso de filmagem.

Última – Tudo isso pode parecer chato mas são medidas necessárias que, com o tempo e disciplina, podem tornar-se automáticas em seus procedimentos de filmagens. O importante de tudo isso é perceber que algo que, por ventura, saia errado por negligência pode estragar o resultado de muito trabalho de preparação e gerar muito aborrecimento. Eu, particularmente, penso que o trabalho de filmar aventuras e natureza deve ser algo tão divertido e emocionante quanto a prática de aventuras. Se não for assim, algo está errado!

Até a próxima!

Marcelo Sá Monte

PS> Se você tiver interesse em comentar esta coluna, fazer perguntas ou mesmo sugerir temas, me escreva: marcelo@sa-monte.com. Estarei respondendo, na medida do possível, dentro deste mesmo espaço.

Patrocínio e Apoio

Esta coluna é patrocinada pela Sa-Monte Outdoor Productions (http://sa-monte.com), empresa brasileira pioneira e 100% dedicada ao vídeo para aventura e natureza.

O trabalho de filmagem realizado na Bolívia teve apoio da Andes Expediciones (www.guarachibolivia.com), de Bernardo Guarachi, escalador mais experiente do pais e da Eco Adventure Bolivia (www.ecoadventurebolivia.com), a operadora mais moderna de turismo de mountain bike da Bolívia.

Este texto foi escrito por: Marcelo Sá Monte (arquivo)

Last modified: julho 30, 2003

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Redação Webventure
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