Matias aproveitou os quatro dias em Mandang (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)
Depois de quase duas semanas na Papua Nova Guiné (PNG) estou pronto para a próxima etapa que deve me levar para a Austrália. Minha próxima parada é Darwin, que fica ao norte do território australiano, aproximadamente 1.200 milhas náuticas de Ports Moresby. A viagem deve durar ao redor de 10 dias e parto sozinho. Mas antes de partir, quero contar como foram os meus quatro dias em Mandang.
Madang é uma cidade que fica ao norte de PNG. Fui de avião, pois o acesso por terra não e possível e de barco demoraria muito tempo. É conhecida como a cidade do buai ou bittle nut, um fruto que o povo deste país adora mascar junto com musquit e lime. Musquit é uma planta da família da pimenta e lime é coral moído. É um vício entre a população local, que tem poucos dentes podres e pretos ou vermelhos quando estão mascando a fruta. Isso sem falar dos cuspes vermelhos que se espalham. Bem nojento!
No meu primeiro dia em Madang sai para caminhar pela cidade e acabei pegando uma carona até um dos mercados, onde o buai e comercializado. Quando cheguei ao mercado percebi que virei atração local. Tinha uma multidão me seguindo e olhando o tempo todo. Fiquei amigo do Agustin, um nativo que planta e comercializa buai em Madang e que me convidou para conhecer a sua aldeia. Pegamos mais uma condução e depois andamos por quase uma hora pela mata antes de chegar à aldeia: casas feitas de folha de coqueiro e erguidas sobre palafitas para evitar as cobras e outros animais selvagens, além dos insetos que habitam a floresta. Ali conheci o pai, a mãe, tios, irmãos e toda a família do Agustin. Pessoas que nunca saíram da aldeia e nunca tinham visto um homem branco. Vocês podem imaginar o que foi!
Almoço – O chefe da aldeia, pai adotivo do Agustin, me convidou para almoçar com eles, um convite que não pude recusar. Então a mãe do Agustin, com os peitos descobertos, preparou a comida. Folhas misturadas com arroz e leite de coco, que apesar da aparência, estava muito bom. O almoço foi muito interessante. Consegui aprender um pouco mais sobre a cultura deste povo que é tão diferente, não só nos costumes como nos traços. Mas era hora de voltar para Madang! Caminhamos mais uma hora e pegamos mais uma condução até a cidade.
No dia seguinte conheci a Nancy, uma antropóloga americana que tem oito filhos (todos adotados) e que vive com o marido, um nativo, das ilhas Salomão. A Nancy me convidou para um jantar na casa dela onde estavam reunidos quase todos os brancos da cidade (umas oito pessoas) e ali ela nos contou um pouco das tradições e principalmente dos problemas do povo de Madang e da PNG como um todo.
A corrupção é um problema sério no país, que se independizou da Austrália em 1975 e hoje vive o eterno conflito entre progresso versus meio ambiente e tradições culturais. Isso dificulta a integração do país, que tem mais de 800 línguas, com o resto do mundo, além de uma taxa de desemprego que beira os 95%. Já imaginou?
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure
Last modified: junho 2, 2010