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Diário de Porto 22: Esconde-esconde

Redação Webventure/ Vela

Carlos Lua é correspondente do TEAM ABN AMRO e conta a preparação da equipe, que conta com dois brasileiros, para a Volvo Ocean Race, a maior prova náutica do mundo.

Manter-se à frente da competição na Volvo Ocean Race é cada vez mais uma questão de tecnologia. Os ganhos que uma equipe pode ter, através de pequenas modificações no projeto do barco, do casco, das velas e dos acessórios pode ser a diferença entre vencer ou não.

Em condições ideais a perícia dos velejadores deveria sempre determinar os resultados, mas, cada vez mais, a tecnologia está sendo responsável pelas vantagens. E, ao contrário de um bom velejador, a tecnologia pode ser facilmente roubada e replicada. É a hora, então, do jogo de esconde-esconde, de manter segredos e não deixar transparecer intenções.

O exemplo da America`s Cup – Os barcos na America`s Cup seguem um processo elaborado de precauções para proteger os seus segredos de projeto, como colocar uma saia em volta do barco quando ele está fora da água, para que ninguém veja as suas soluções de casco e quilha.

Equipes como a ABN AMRO na Volvo Ocean Race esforçam-se para manterem longe dos olhos públicos as suas mais exclusivas soluções de projeto, mas não chegam a medidas extremas.

Manter a tecnologia às escondidas de uma Equipe, porém, nem sempre é uma tarefa fácil. O skipper Mike “Moose”* Sanderson disse que “nosso índice de precaução é baixo comparado com aquele da America`s Cup, O motivo? É mesmo uma questão de segurança versus preparação. Para nós é a diferença entre gastar US$ 50,000 em uma saia para esconder o casco ou usar esse mesmo dinheiro para melhorar as velas. Se depender de mim, prefiro ficar com o desenvolvimento das velas.”

Uma das áreas mais vulneráveis às inovações tecnológicas é aquela da navegação. O papel do navegador é mais técnico do que nunca. Stan Honey navegador do ABN AMRO 1 disse que o papel do navegador costumava ser uma arte “Agora é uma ciência”. Uma ciência que mantém os competidores adivinhando a cada passo do caminho.

Stan Honey credita as suas próprias habilidades como navegador no conhecimento profundo que tem dos sistemas de software e de navegação que ele instalou a bordo do ABN AMRO 1 e 2. “Dez anos atrás eu não teria sido escolhido” comentou Stan, naquela época a instrumentação não era tão crucial como hoje em dia.

Durante a ultima edição da Volvo Ocean Race os navegadores ficaram conhecidos por tentar adivinhar os dados meteorológicos através das escolhas feitas pelos outros navegadores. Dessa vez os organizadores decretaram que todos receberão os dados de apenas uma fonte.

Esse tipo de competição é o par do campo (termo usado no golfe para indicar que existe uma meta oficial, possível de ser repetida com facilidade) quando tanta coisa esta em jogo. Cada equipe tem mais e mais salvaguardas para prevenir que outras equipes entrem em seus sistemas de comunicação enquanto estiverem no mar.

Essa mesma fixação em saber o que é que o vizinho está fazendo também migra para a própria prova; já que cada um dos barcos vai esperar ansiosamente para ouvir, a cada 6 horas, dos organizadores o que os seus concorrentes estão fazendo e como eles estão em relação ao líder da etapa. É então que começa o jogo do teria-poderia-deveria ter sido feito ou não em relação às decisões tomadas ou não.

Mas de uma maneira geral a Volvo Ocean Race é um pouco menos estimulante para os potenciais espiões. As regras usadas para projetar o volvo open 70 deixaram uma margem muito pequena para os parâmetros usados.

Mesmo assim ainda existe espaço bastante para inovações e para tornar a competição de um entusiasmo único. Formatos dos cascos, velas e mastreação são todas áreas onde que podem oferecer ganhos muito interessantes.

Se uma equipe estava em dúvida, por exemplo, em usar um determinado projeto para um elemento qualquer e vissem no site de um dos competidores que aquele caminho tinha sido abandonado, naturalmente que iria fazê-los abandonar a idéia deles mesmo testarem o tipo de peça.

Isso traduzido significa que a competição começa muito tempo antes da prova propriamente dita e manter a disputa com os vizinhos será sempre um dos pilares da Volvo Ocean Race.

O fato de o TEAM ABN AMRO ter colocado o seu barco em primeiro lugar na água faz dele um time de maior influência. Todas as equipes, sem dúvida, vão pesquisando os sites dos outros regularmente em busca das novidades que os concorrentes possam estar tendo.

“O tempo todo andamos em um limite de publicar apenas o suficiente” disse Mike Sanderson. As imagens são elementos chave para transmitir o que a equipe esta fazendo para uma audiência sempre maior, mas existe um preço a pagar. “Cada vez que você divulga alguma coisa você afeta o resultado. Se as outras equipes virem o que temos e depois na foto seguinte não virem mais, vão estar aprendendo às nossas custas”

Alguns fatos – Os barcos da America’s Cup são 8 pés maiores do que os volvo 70, têm a quilha fixa e são mais ágeis nas manobras porque as regatas são apenas realizadas em percursos mais abrigados, curtos e chegam a nem mesmo ser realizadas quando os ventos excedem certos limites.

As provas da America’s Cup são consideradas as provas de vela de maior rivalidade. A Volvo Ocean Race dura mais tempo, enfrenta todos os tipos de condições e a rivalidade ainda anda em uma órbita mais contida.

Se fosse para fazer uma comparação torta a America’s Cup seria a F1 e a Volvo Ocean Race uma prova como o Paris Dakar. As maiores, mais difíceis e mais ambicionadas em suas categoria.

*Moose é Alce em inglês

Este texto foi escrito por: Carlos Lua, correspondente do Team ABN Amro

Last modified: maio 10, 2005

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