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Diário de bordo: última parada antes de voltar ao Brasil

Redação Webventure/ Vela

Matias Eli está no final da volta ao mundo (foto: Arquivo Pessoal/ Matias Eli)
Matias Eli está no final da volta ao mundo (foto: Arquivo Pessoal/ Matias Eli)

É difícil descrever como fiquei feliz ao chegar em Port Elizabeth após ter deixado La Reunion duas semanas antes. Foi sem dúvida a travessia mais difícil da minha vida, mas em contra partida e, ao contrário do que eu imaginava, a África do Sul é um lugar fantástico! Não apenas pelo belo litoral montanhoso, que lembra o Rio de Janeiro e suas praias, mas também pela sua gente.

A minha recepção tanto em Port Elizabeth quanto em Hout Bay foi super acolhedora! Gente muito gentil sempre disposta a ajudar em tudo, o que foi ótimo, pois tinha muito trabalho para fazer no barco. No primeiro porto conheci o Miguel, um espanhol de um metro e meio, barrigudo, barbudo e revolucionário. Admirador do ETA e intolerante com os Estados Unidos, “Miguelito” deve ter uns 65 anos e vive embarcado a mais de 30 anos. Ele estava se preparando para deixar a África do Sul.

Fiz uma boa amizade com o Miguel e até acabei vendendo uma das minhas bicicletas para ele. Jantávamos e bebíamos cerveja juntos. Um dia antes da minha partida fomos para o restaurante do Espanhol, Pepe. Além do Miguel, havia outros três tripulantes de um barco Sueco cujos nomes eram muito complicados. Foi uma boa despedida regada a “caipirinhas” em minha homenagem.

No dia seguinte acordei cedo e o Miguel me acompanhou até o posto, onde abasteci os tanques do Bravo e segui direto para Hout Bay. Cheguei de noite, mas a claridade da lua me permitia ver as altas montanhas que circundam a baía. Apesar do horário e do frio, uma senhora de mais de 60 anos veio receber minhas amarras me ajudando na atracação. O dia amanheceu ensolarado com o céu muito azul, as montanhas ao redor, a praia branca de um lado e o píer do outro. A baía me fez lembrar ao filme do “Popeye” com os barcos de madeira e pequenas lojas e restaurantes no mesmo estilo.

Amigos – Logo que as pessoas iam acordando e deixavam seus barcos, elas passavam pelo Bravo para uma conversa ou uma simples apresentação e uma das pessoas que veio me encontrar foi Ana, aquela senhora que me ajudou durante minha chegada. Uma mulher alta magra e forte com uma trança completamente branca amarrando os seus cabelos. Descendente de holandeses, ela deve ter sido uma mulher muito bonita durante a juventude. A ela encomendei o reparo dos toldos que se rasgaram durante a última grande travessia. Ela me apresentou ao Charles que ficou encarregado de concertar as peças de inox e de alumínio, que também foram danificadas.

A Ana também tem uma história muito interessante, quando seus filhos gêmeos nasceram, ela já morava no barco (h[a mais de 30 anos atrás) e quando eles completaram duas semanas, ela o marido e dois filhos partiram no seu veleiro para dar uma volta ao mundo. Alguns anos mais tarde ela deu a luz a duas meninas (também gêmeas). Continuaram navegando até que a Ana se divorciou e trocou de barco, desta vez era um barco sem motor ou geladeira de 37 pés. Nesse barco ela atravessou o Atlântico em solitário, visitou o Brasil, o Uruguai e atravessou de volta para a África do Sul, passando por Tristão da Cunha, uma das ilhas de mais difícil acesso no nosso oceano. Assim como na Austrália e na Nova Zelândia, a Vela é um esporte muito praticado na África do Sul e a infra estrutura náutica é excelente.

Depois de amarrar o Bravo com 10 cabos grossos pude pegar meu voo para São Paulo. Depois de cinco meses pude rever minha família. As meninas cresceram muito e a Carol, agora de cabelo curto, continua linda. Foram duas semanas ótimas onde pude matar as saudades e me dar conta que já não tolero muito bem as baladas cheias de gente de São Paulo.

Durante a minha visita prometi para a Marina que chegaria junto com Papai Noel e ao que tudo indica devo ter mais uma corrida pela frente, desta vez não vai ser contra o oceano Índico, que graças a Deus já deixei para trás. Pretendo partir próximo ao dia do meu aniversário, no dia 25/11 e espero dar um “pau” no “bom velhinho” e suas henas voadoras. Essa será a minha última travessia dessa volta ao mundo!

Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure

Last modified: dezembro 31, 2010

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