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Beto Pandiani planeja volta ao mundo em catamarã

Redação Webventure/ Vela

Velejadores vão dormir em uma espécie de asa para fora do barco (foto: Divulgação)
Velejadores vão dormir em uma espécie de asa para fora do barco (foto: Divulgação)

Em outubro do ano que vem está marcado para começar o novo projeto no velejador Beto Pandiani: uma viagem de volta ao mundo dividida em várias etapas a bordo de um catamarã sem cabine e sem barco de apoio. O velejador brasileiro já percorreu a costa americana do Atlântico, da Antártida até a Groenlândia, em um catamarã.

Logo de cara, Betão Pandiani, como é conhecido, vai atravessar o Oceano Pacífico em mais de 18 mil quilômetros do Chile até a Austrália. “Essa viagem é o começo de uma volta ao mundo. Dividi o percurso em quatro grandes etapas: Pacífico, Índico, Mediterrâneo e Atlântico. Nos últimos 13 anos fiz cinco grandes viagens. Depois que terminei o trecho norte-sul, vou começar uma série de viagens no sentido Leste-Oeste”, comenta Betão.

Para a viagem, o velejador brasileiro terá a companhia de uma jovem lenda da vela mundial. “Escolhi o Igor Bely, de 22 anos, filho do Alek, que fez o apoio para nós na viagem até a Antártida. O garoto nasceu em um veleiro de Oceano, tem um conhecimento bárbaro. Foi dez vezes para a Antártida, já deu a volta ao mundo. Para a idade que tem, ele é muito experiente”, diz. “O chamam de Mogli, o menino-lobo do mar”, brinca o velejador.

As outras viagens do brasileiro foram próximas da costa. “Parávamos para dormir em terra praticamente todas as noites”, explica. Quando não era possível, como no trecho entre o Canadá e a Groenlândia na expedição Rota Boreal, um barco de apoio servia de casa. Dessa vez, um espaço apertado será tudo o que os dois velejadores terão, além de água por todos os lados.

O barco – Mesmo com roteiro e parceiro novos, o conceito de viagem em barcos sem cabine continua. O novo veleiro de Beto Pandiani terá 25 pés, cerca de 1,5 m maior do que o da última viagem, de Nova Iorque até a Groenlândia.

O catamarã vai parecer um grande Hobie Cat, deixará os dois tripulantes expostos o dia todo, tanto ao sol escaldante do Equador como às noites frias e úmidas no meio do Oceano Pacífico. Mesmo assim, os longos anos de viagem dentro desse tipo de veleiro deram a Pandiani a experiência para fazer modificações no modelo original. “Existe uma espécie de asa em cada lado do barco para ficarmos sentados durante o dia. Vamos aumentá-la e transformar em uma maca para podermos dormir em um local relativamente seco”, conta.

O veleiro será auto-suficiente em energia e informação. Para isso, a dupla vai levar uma parafernália eletrônica minuciosamente calculada. “Temos que pensar em tudo o que trará peso para nós. Em um veleiro monocasco e com cabine não tem tanta preocupação, mas para nós em um catamarã aberto, 50 quilos a mais já prejudica muito o desempenho”, explica Beto Pandiani.

Entre os equipamentos estão um painel solar ligado a uma bateria, telefonia via satélite com transmissão de dados em banda larga e dessalinizador elétrico, fora os equipamentos básicos de navegação, como bússola e GPS. “Um dos grandes desafios da viagem é como transportar água, que é bem pesada. A saída será levar o dessalinizador, para transformar água do mar em potável”, comenta.

O maior problema da viagem será como gerenciar toda a informação sem a proteção de uma cabine. Para isso, a Semp Toshiba até agora único patrocinador da viagem, que está no sexto ano com Pandiani está desenvolvendo um notebook a prova d’água. A roupa é outro fator essencial para o sucesso de uma viagem no catamarã. “Como não teremos cabine, a roupa será a nossa proteção. De dia teremos muito protetor solar e roupas leves e de noite vamos usar o Dry Suit a roupa seca, como nas viagens para a Antártida e Groenlândia”, conta o velejador.

Roteiro – As condições climáticas foram essenciais para o planejamento. A primeira etapa da volta ao mundo terá que ser dividida em duas partes, com um intervalo de sete meses, por causa da temporada de furacões no Pacífico. A primeira parte terá escalas na Ilha de Páscoa, Ilhas Marquesas e Taiti. “Escolhemos uma rota na qual teremos ventos predominantes favoráveis, ou seja, vamos velejar quase que o tempo todo no sentido do vento. Só temos que tomar cuidado com a temporada de furacões. Não vamos velejar nos mares de risco, o primeiro semestre de 2008”, explica Pandiani.

Depois de sete meses de descanso no Brasil, a dupla vai voltar para o Taiti, pegar o barco e seguir viagem sentido Fiji, Samoa e Austrália. “Devemos ficar pelo menos 15 dias em cada parada. Vamos descansar, documentar o local em fotos e vídeos e explorar”, diz o velejador.

A experiência com a mídia também orientou as decisões do roteiro. “Se fosse vender uma volta ao mundo para os patrocinadores seria muito caro, então dividi em etapas. A vantagem disso também é a exposição na mídia. Se fosse ficar muito tempo viajando ia acabar esquecido”, afirma.

A viagem começa em Antofagasta, na costa norte do Chile, termina na costa australiana. “São 18 mil quilômetros de uma só vez e sem barco de apoio, eu nunca fiz isso”, conta Betão.

A primeira etapa da nova viagem de Beto Pandiani dura três meses antes da parada para a temporada de furacões. Serão pernas de até 15 dias em um catamarã sem cabine e na companhia do francês Igor Bely. “Tive que colocar um Ipod no planejamento da bagagem. Em um trecho tão longo como esse, o assunto acaba rapidinho”, brinca Betão.

Funções básicas como comer e dormir exigem um planejamento minucioso em viagens como essa. “Não dormimos somente de noite, também vamos dormir de dia. Na linha do Equador as noites são longas, mais ou menos 12 horas de escuro. Vamos fazer turnos de duas em duas horas e nos momentos livres vamos cochilar. É um sono interrompido, e dá para fazer durante o dia também, com várias cochiladas. É sempre bom guardar energia, porque é muito cansativo”, explica.

Os tripulantes serão alimentados com dois tipos de comida. Fresca nos primeiros dias e liofilizada (seca) nos demais. “Também vamos levar uns pacotes de comida que esquentam sozinhos, é só puxar um fio na embalagem. Não temos como esquentar água a bordo, então ter uma comida quente de noite ajuda a melhorar os ânimos”, revela o velejador. Ele afirma ainda que para manter a dieta de pelo menos 2.500 calorias serão levados salame, queijo, barras de cereal, energético, biscoitos e leite em pó.

El Niño – Até agora a única coisa que pode impedir a viagem dar certo é o nível de atividade do El Niño, fenômeno meteorológico que esquenta a água do mar e acaba com a constância do vento. “Devemos velejar o tempo todo com ventos alísios de Sudeste, mas se o El Niño estiver com muita atividade fica tudo imprevisível. E nós não podemos correr esse risco em um catamarã sem cabine”, adianta. Para obter informações meteorológicas, a dupla vai contratar um escritório que envia boletins a cada 24 horas com a previsão dos três dias seguintes.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa e Alexandre Koda

Last modified: outubro 23, 2006

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