Foto: Pixabay

A importância da hidratação em viagens de bicicleta

Redação Webventure/ Biking

Reserva de água é fundamental (foto: Divulgação/ Stock Photos)
Reserva de água é fundamental (foto: Divulgação/ Stock Photos)

Muitos sintomas que podem passar por um simples cansaço são, na verdade, sinais de que nosso corpo não está hidratado o suficiente. Além do próprio cansaço, que pode ser maior, em virtude de seu organismo estar trabalhando com déficit de água, outros sintomas podem aparecer, como dor de cabeça, azia ou dificuldade de concentração. Uma perda de água de 2% do peso corpóreo já altera todo nosso metabolismo, prejudicando o desempenho.

A solução é bem simples, basta manter-se hidratado. Mas pouca gente sabe realmente como fazê-lo. Isso porque nosso reflexo de sede é um tanto, digamos, retardado. Quando sentimos sede significa que já estamos trabalhando no vermelho. Portanto o melhor é beber água antes da sede chegar. Depois que nos acostumamos isto se torna um hábito.

Para beber água sempre é necessário tê-la sempre a mão, seja nas caramanholas (garrafinhas fixadas na bicicleta) ou nas mochilas de hidratação. E não adianta passar sede um tempão e depois beber água em demasia. Nossa capacidade de absorção é cerca de 400ml por hora, o que tomar a mais vai ser eliminado sem ser absorvido. Assim, é importante beber água aos poucos, mas com bastante freqüência.

Água é a solução – Vale lembrar que alguns líquidos amplamente consumidos, os refrigerantes, não ajudam em nada à hidratação. Pelo contrário, por serem todos ácidos, sem exceção, ainda exigem que seu corpo gaste água para eliminá-los. Aquela tradicional paradinha para uma tubaína ou coca-cola pode ser divertida, mas infelizmente não faz muito bem. Se houver disponibilidade, prefira uma água de coco, esta sim está liberada. Além de não ser ácida, a água de coco possui sais minerais importantes de serem repostos durante o exercício físico. Estes sais ajudam também a água ser absorvida mais rapidamente.

Os sucos ácidos, assim como os refrigerantes, vão te desidratar. Apesar de aplacar a sensação de sede, esta sensação é falsa. Passe longe do suco de limão, abacaxi ou outras frutas ácidas.

Quanto aos isotônicos, com uma infinidade de marcas disponíveis no mercado, eles também repõem os sais e são absorvidos rapidamente. Mas seu uso não é imprescindível. E, em geral, são bastante concentrados, se for beber, é recomendável diluir ou intercalar goles do isotônico e de água.

Mas a simples ingestão de água, acompanhada de uma pequena quantidade de alimento que contenha sais faz o mesmo efeito. E você ainda evita a ingestão de uma boa quantidade de corantes e conservantes que fazem parte da fórmula dos isotônicos.

O ideal é que a cada hora de exercício se coma alguma coisa. Alguns exemplos de alimentos bons para serem consumidos durante a pedalada são barrinhas de cereais, castanhas e frutas secas.

Após o café da manhã, na primeira “esticada” do dia pode-se dar um intervalo de duas horas, depois é bom manter as mordiscadas a cada hora. Uma pequena quantidade já é o suficiente. Resumindo, só tomar água, sem comer nada não vai adiantar muito, a água não será absorvida devidamente.

Este pode ser um dos poucos casos em que a ingestão de água em excesso pode ser prejudicial. Ao praticar esportes por um tempo prolongado só ingerindo água e sem os sais pode haver um desequilíbrio grave, mas isso somente num caso extremo.

Água quente – Algumas pessoas têm dificuldade em tomar água um pouco mais quente. Realmente não é nada agradável, sob um forte calor, sentir aquela água quente descendo pela garganta. Muito melhor uma água geladinha é claro. Melhor não só pela sensação, mas também porque a água gelada é absorvida mais rapidamente.

Mas quando não há opção, é necessário se acostumar e encarar, porque em viagens mais longas e por locais isolados isso vai acabar acontecendo com freqüência. Um truque é tomar a água quente mesmo e reservar um pouco da água mais fresca que tiver para dar uns goles no final. Pelo menos a última sensação que fica é um pouco melhor.

E por falar em gelada, a cerveja também não é nada recomendada para hidratar, apesar de ser hábito comum entre os cicloturistas, por exemplo, da região sul do país. A cerveja, assim como qualquer outra bebida alcoólica, vai deixar seu corpo com um déficit hídrico ainda maior. Com o agravante de a cerveja ser ainda mais diurética. Outras bebidas também diuréticas que devem ser evitadas são as que contém cafeína, caso, não só do clássico café, mas também do chá preto, chá mate e de várias bebidas energéticas.

É preciso estar atento também à qualidade da água que se vai tomar numa viagem. Uma diarréia, esta sim vai te desidratar bastante e exigir no mínimo uma pausa para recuperação e às vezes auxílio médico. É a doença mais comum entre os viajantes do Brasil e toda a América Latina, e pode ser evitada por alguns simples cuidados.

O primeiro cuidado é purificar toda a água que for beber. A purificação pode ser feita basicamente por dois processos. Um deles é por filtragem, com filtros portáteis onde se bomba manualmente a água. Outra opção é o uso de Hipoclorito de Sódio, produto que pode ser encontrado em redes de supermercados maiores e é utilizado normalmente para esterilizar verduras. É a escolha mais comum entre os aventureiros, por ser barato e de fácil utilização. Algumas gotas por litro (conforme indicação do fabricante na embalagem) e um tempo de espera de cerca de meia hora (também descrito na embalagem) e pronto.

Portanto é necessário planejar seu estoque de água para não deixar acabar e ter que ficar essa meia hora aguardando, com a boca desesperadoramente seca. Para prevenir, também é bom evitar sucos de frutas, sorvetes e gelo, quando não se confia na procedência da água. Um processo mais complicado durante uma viagem, mas igualmente eficaz é ferver a água, por no mínimo um minuto. A utilização de iodo para purificação, ao invés do cloro, é até mais eficiente, mas há algumas restrições como alergia, problemas na tiróide e gravidez.

Água mineral – A opção por água mineral não é aconselhada, por motivos ecológicos. Mesmo sendo reciclável a embalagem, uma medida mais eficaz é reduzir seu uso. Além, é claro, da água mineral acabar sendo um peso no orçamento da viagem. Somente algumas vezes, porém é necessário apelar para a água mineral, quando, por exemplo, a água local é de uma composição química diferente a que você está acostumado e pode trazer alguns desconfortos gastrintestinais. É o caso de água com muito calcário, em áreas de cavernas, e também da água um pouco salobra de certas regiões do litoral.

Sempre desconfie da qualidade da água não tratada. Só pela aparência não dá para ver se a água está com vírus, ovos de vermes ou bactérias. Na dúvida sempre purifique a água. Mesmo que pessoas locais digam que todos naquela região tomaram aquela água a vida inteira, isto não significa que você não vai ter problemas. As pessoas locais podem estar adaptadas e você não.

Se for pegar água de bicas e riachos também sempre purifique a água. Por mais isolado que pareça o lugar, sempre pode haver uma casinha mais para cima do riacho, utilizando inadequadamente a água. E nada garante que não possa haver algum animal morto antes do ponto onde você está.

Carregue sempre, pelo menos, dois litros de água para o seu dia. Mesmo que haja pontos de reabastecimento no caminho, é preferível carregar água por precaução. Pode acontecer de a bica que você contava pegar água não estar mais lá, ou as casas pelo caminho estarem distantes da estrada, ou ainda de acontecer algo que te impeça de chegar ao local. Economize peso em outras coisas, não com a água.

Dando seqüência ao assunto, na próxima coluna abordaremos o tema da alimentação em viagens de bicicleta.

Para pesquisar:

  • Tratado de Fisiologia Médica Arthur Guyton
  • Primeiros Socorros na Comunidade, nos Esportes e Ecoturismo Sérgio Britto Garcia
  • Programa de Treinamento Lance Armstrong e Chris Carmichael
  • Site do Núcleo de Medicina do Viajante Hospital Emílio Ribas http://www.emilioribas.sp.gov.br/viajante.php

    * Eliana Garcia: Bióloga, completou mais de 10 mil quilômetros em cicloviagens, desde 1988. Dentre estas destacam-se: Expedição Parques del Sur (em que percorreu 4200 km passando pelo Chile, Argentina, Uruguai e Sul do Brasil), Expedição Titicaca, Sertão Nordestino, além das travessias do Pantanal, das Chapadas Diamantina, dos Guimarães, dos Veadeiros e da Serra da Canastra. É fundadora e coordenadora do Clube de Cicloturismo do Brasil e fabricante dos alforjes Arara Una (www.ararauna.esp.br).

    Este texto foi escrito por: Eliana Garcia*

    Last modified: outubro 24, 2008

  • [fbcomments]
    Redação Webventure
    Redação Webventure