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O valor do navegador em uma prova off-road


André comemora parceria com Maykel Justo (foto: André Chaco/ www.webventure.com.br)

Um rali cross-country caracteriza-se por provas de velocidade em percursos desconhecidos pelos competidores. Dessa maneira é necessária a presença de um navegador, pessoa responsável pela leitura da planilha – livro de bordo – enquanto o piloto tem que ser um bom ouvinte para acelerar ao máximo e com segurança. Na planilha estão as todas as referências dos trechos a serem percorridos, como lombadas, regiões perigosas, os famosos mata-burros, buracos, pontes e direcionamentos. Para simplificar: o navegador manda e o piloto obedece.

Também no rali cross-country os roteiros são escolhidos para dificultar a pilotagem. A máxima que prevalece é “quanto pior, melhor”. Tem que saber dosar no acelerador e no freio ao mesmo tempo. E um pequeno erro pode custar o rali inteiro. Ou seja, o navegador está na mão do piloto, literalmente.

Com essa explicação já deu para perceber que a integração entre piloto e navegador é muito importante nas provas off-road. Cada um tem o seu papel e apenas juntos é que existe um bom resultado. Muitas vezes o piloto ganha mais destaque, o que não é justo em nosso caso.

União – Mas posso afirmar que achar um navegador que tenha um bom entrosamento com o piloto não é fácil. Do lado do piloto ele deve aprender a escutar a maneira como o outro “canta” as referências, enquanto o navegador deve ter a sensibilidade para se ajustar à personalidade de seu colega e entender as suas necessidades (enfocar mais determinada sinalização da planinha ou na quilometragem).

A preparação física de ambos tem que ser a mesma, pois as trepidações do veículo e, no nosso caso é um pouco maior já que ficamos no alto do caminhão, são constantes. Musculação e preparação física são essenciais para garantirmos que ao final da corrida não estejamos machucados. O emocional também deve ser trabalhado já que sofremos a pressão do rali, além dos obstáculos do próprio percurso.

Fora toda a preparação física, o navegador tem que ter a “habilidade” de não enjoar, pois ele tem que ficar atento o tempo inteiro da etapa – que pode ser de quatro a até 20 horas seguidas – lendo e interpretando a planilha, já que é proibido fazer reconhecimento prévio do percurso ou até mesmo da região onde o rali será realizado. Muitas pessoas passam muito mal quando estão lendo e viajando de carro então imaginem como é dentro de uma competição onde acontece de tudo e em estradas não pavimentadas.

Quando competia na categoria Motos eu tinha que fazer tudo sozinho e agora reconheço muito o valor de um navegador para a vitória e o bem-estar dentro do caminhão ou carro. Já vi muitas duplas se “divorciarem” em pleno rali, por conta de desentendimentos e falta de tolerância. Ficar exposto aos perigos com desconforto, mal alimentado por dias seguidos (caso do Rally Dakar) requer um entrosamento muito bom.

Por todos esses motivos que eu fico muito feliz em saber que “achei” o meu navegador. Lembro quando fiz um teste ao convidar o Maykel Justo para fazer o Rally dos Sertões 2005 comigo. Tivemos vários problemas mecânicos em uma das etapas e demoramos quase o dia inteiro para terminá-la. Foi um dia bem difícil e o Maykel se manteve sempre calmo e apto para buscarmos soluções para, no mínimo, chegarmos à cidade-dormitório. E foi justamente naquele dia de dificuldades que eu percebi que ele era a pessoa ideal para competir no Rally Dakar.

Este texto foi escrito por: André Azevedo, especial para o Webventure