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Ministério do Turismo explica detalhes da certificação do turismo de aventura


Arvorismo em Brotas (foto: Divulgação/ Carlos Zaith)

O setor do turismo de aventura vai receber importantes mudanças até o fim do ano com o processo de certificação do Ministério do Turismo. Com o auxílio técnico da Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura (Abeta), o mercado vai ganhar um selo especial, com o objetivo de melhorar a qualidade do serviço e aumentar a segurança do turismo de aventura no Brasil, para promover o setor internacionalmente.

Em 2003 o Ministério do Turismo decidiu aprofundar o interesse no turismo de aventura no Brasil. Alguns agentes foram pesquisar em que nível estava o setor e qual era a imagem do Brasil no mercado internacional de turismo de aventura. E os resultados não foram nada animadores. Então, o Ministério decidiu começar um projeto para profissionalizar o setor no país e aumentar a exposição internacional da aventura brasileira.

Para Tânia Arantes, coordenadora de Qualificação e Certificação do Ministério do Turismo, falta de segurança é o que impede o desenvolvimento do setor. “Identificamos que o turismo de aventura do Brasil tinha um grande potencial de desenvolvimento, mas ao mesmo tempo, havia a contradição de nós não estarmos inseridos em nenhum conceito internacional. Fomos tentar entender porque isso acontecia e esbarramos na segurança”, comenta.

Diante disso, ela afirma que a preocupação do Ministério aumentou. “Pelo ponto de vista do poder público, além da questão da competitividade internacional, tem a segurança das pessoas. Temos responsabilidade na segurança do turista. Então pensamos que para promover, sem fazer esse trabalho de certificação, seria impossível”, explica Tânia, que esteve presente no estande da Abeta, no Salão do Turismo em São Paulo, no início do mês.

Caminhos – A primeira discussão sobre o assunto aconteceu em uma assembléia com 80 empresários do setor na Adventure Sports Fair 2003. Tânia explica que naquele momento era possível criar leis e obrigar todas as empresas seguirem, porém foi escolhido outro caminho, “o voluntário, mais ou menos no formato que tem as outras áreas, como a de qualidade, um processo indutor, mas não obrigatório”, diz.

Segundo ela, a fiscalização foi um fator essencial para a escolha de que caminho tomar. “Um dos problemas de obrigar é que com a dimensão do nosso país fica impossível de fiscalizar. Não adianta obrigar se não temos pernas e não conseguimos fiscalizar todas as atividades do turismo de aventura no país. Então, quem fará isso é o consumidor”, conclui.

Os primeiros passos do processo foram tomados com parceria entre o Ministério do Turismo e o Instituto de Hospitalidade, “porque eles já tinham um trabalho de normas técnicas”, explica Tânia Arantes.

Enquanto as normas começaram a ser produzidas, a Abeta foi criada. “Precisávamos de um diálogo do governo com instituições representativas. Depois disso, começamos o trabalho de certificação e qualificação, para oferecer oportunidades para as empresas. O grupo gestor desse conjunto de ações é o Ministério do Turismo, a Abeta e o Sebrae. A normalização foi um convênio com o Instituto de Hospitalidade”, diz a coordenadora. Ela afirma ainda que uma ampla discussão com o setor foi feita, para saber quais normas eram prioritárias para o turismo se desenvolver. Ao todo 19 serão criadas, sendo que três já estão prontas e publicadas.

A ONG Férias Vivas também ajudou no processo de construção das normas e da pesquisa sobre segurança no turismo de aventura. Porém, segundo ela, o diagnóstico do setor foi difícil pela falta de informação, tanto no Brasil quando fora.

Pesquisas – “Em número temos poucas coisas, porque alguns lugares têm problemas de nomenclatura, uns chamam turismo de aventura, outros de turismo de natureza. E no país não temos nenhum dado sobre esse setor”, diz.

Levantar o número de acidentes no setor até hoje ainda está sendo uma etapa difícil segundo ela, já que o registro de ocorrências não é obrigatório para a aventura. “Mesmo assim, agora já temos um banco com mais de 200 documentos, que servem como referência. Estão no site da Abeta e do Ministério do Turismo, são públicos”, conta Tânia.

Dos 87 pontos turísticos brasileiros com potencial internacional, 47 oferecem atividades de aventura. O projeto de certificação vai atingir 15 pólos até 2007, com possibilidade para aumentar esse número nos anos seguintes. Para os outros locais, as normas podem servir como referência de qualidade.

“Temos o objetivo de induzir o turismo de aventura seguro. Vamos atuar nesses 15 pólos com todas as ações do projeto: certificação, qualificação e segurança”, diz Tânia. O período de transição deve ter até três anos, e, durante esse tempo, o Ministério do Turismo e o Sebrae afirmam que pretendem ajudar os empresários que quiserem adquirir o certificado. “No primeiro momento vai ser complicado, até os empresários mudarem o conceito e entenderem isso como um investimento ao invés do gasto”, comenta a coordenadora.

Para ela, o consumidor será o maior fiscal do projeto. “A única forma de esse trabalho ser sustentável e não ser passageira é o consumidor ser consciente e cobrar, diferenciando pela qualidade quem faz de forma profissional de quem não faz”, adianta Tânia.

Para ela, o preço muitas vezes atrai mais do que a qualidade e prejudica quem se preocupa com qualidade e segurança. “O público precisa regular. O Ministério investiu recursos vultuosos na área acreditando no retorno do turismo de aventura”, conclui.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa