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Manoel Morgado enfrenta o Pólo Sul em expedição de mil quilômetros

Redação Webventure/ Montanhismo

Brasileiros não terão suporte nos 55 dias de travessia (foto: Divulgação)
Brasileiros não terão suporte nos 55 dias de travessia (foto: Divulgação)

Famoso por escalar grandes montanhas, Manoel Morgado terá pela frente, em novembro deste ano, uma aventura totalmente nova. Ao lado de Irivan Burda e Marcelo Santos, o escalador passará cerca de 55 dias em um dos pontos mais inóspitos do planeta, a Antártica, em um desafio de caminhada de mais de mil quilômetros denominado “Expedição Brasil ao Pólo Sul”.

Mais do que outro projeto qualquer, a expedição pela área mais seca do planeta será feita de uma forma totalmente desafiadora: serão apenas um esqui, um trenó e 130 quilos de alimentos e equipamentos nas costas, já que não haverá apoio nenhum durante o trajeto.

Realizando a expedição no ano em que se comemora o centenário da conquista do Pólo Sul pelos noruegueses liderados por Roald Amundsen, Manoel conta que o motivo da viajem vai além da celebração. “Nós ficamos sabendo que era ano do centenário depois que a ideia já havia nascido. Eu havia acabado de voltar do cume do Everest e pensei o que eu poderia fazer já que a escalada havia sido maravilhosa e eu queria bolar algum outro desafio ou expedição para dar sequencia nisso”, contou o escalador.

“E eu há muito tempo tenho curiosidade em relação à Antártica, nunca tive a oportunidade de ir para lá e, casualmente, eu estava lendo um livro sobre um escalador polar que falava das travessias da região. Daí surgiu minha ideia, já que eu pensei que essa seria uma coisa bacana para fazer, uma coisa completamente diferente de montanhismo, mas que tem similaridades com algumas habilidades da escalada. Depois que eu já havia estudado a possibilidade que eu fiquei sabendo do centenário e as datas acabaram casando”, explicou Morgado.

Importância – Para Manoel Morgado, a “Expedição Brasil ao Pólo Sul” terá um significado maior do que qualquer outra feita pelo montanhista. Antes da Antártica, o escalador tentará alcançar o cume do Monte Vinson (4.897m) e caso consiga, se tornará o segundo brasileiro a completar os Sete Cumes (escalada da mais alta montanha de cada um dos sete continentes).

Para que sua conquista tenha uma comemoração à altura, Morgado tentará vencer, ao lado de seus dois parceiros, as temperaturas da região que tem 98% de seu território coberto por um manto de gelo. “Como todo projeto esportivo, nós tentamos ir um pouco mais além do que nós já fizemos antes. Isso é natural entre esportistas. E quanto mais eu vejo e leio sobre essa expedição, eu vejo que ela será um desafio maior ainda do que o Everest. O isolamento é muito maior, o clima pode ser muito pior. Então, ir além do que eu já fiz é uma grande motivação”, disse Manoel.

Assista aos vídeos que contam um pouco mais sobre a expedição de Manoel Morgado

O trajeto de mil quilômetros de extensão que Manoel, Irivan e Marcelo tentarão percorrer em aproximadamente 55 dias será como nenhum outro antes desafiado pelos brasileiros. A Antártica é um dos mais remotos terrenos do mundo com um clima arrasador, que complica ainda mais a longa travessia dos aventureiros.

“Dificuldades serão várias. Fisicamente é uma proposta muito dura, mas acho que nós temos capacidade de concretizá-la. É claro que será um grande desafio da forma como faremos: sem reabastecimento de comida no caminho, saindo da costa com tudo que nós precisamos para a travessia inteira em 55 dias, com um trenó de 130 quilos que teremos que puxar da costa até o platô, sendo que, apenas no começo, serão cerca de três mil metros de altitude em um terreno acidentado, com muitas fendas”, contou Manoel.

Além da distância, as temperaturas e condições climáticas também preocupam Morgado. No Pólo Sul, as temperaturas chegam a 40 graus Celsius negativos, com ventos de mais de 100 km/h em áreas de isolamento total, que devem dificultar ainda mais a caminhada.

“Um lugar extremamente inóspito em termos de clima. Nós devemos começar com 20 graus negativos e chegar ao pólo com mais ou menos -40ºC. Ventos muito fortes e sempre contrários: na Antártica eles vão do pólo para a costa constantemente. Então o vento, a temperatura, o isolamento, o tipo de terreno onde nós ganharemos esses três mil metros, são, do ponto de vista físico, muito fortes”, explicou.

Psicológico – Um dos fatores determinantes apontado por Manoel para o sucesso ou não da expedição será o preparo psicológico dos brasileiros. Segundo o montanhista, calcular a velocidade e distância da caminhada sem perder o foco não será uma tarefa fácil. Por outro lado, Morgado acredita que a experiência ajudará em momentos críticos.

“Tem a coisa psicológica que eu acho que todos nós que já fizemos expedições mais ou menos longas, já estamos acostumados com isso. Mas mesmo assim será um desafio, já que nós teremos uma caminhada razoavelmente lenta, cerca de 20 quilômetros por dia. Como a paisagem é bastante monótona, para nós prosseguirmos os vinte quilômetros por dia em um lugar como lá, será difícil você medir o seu avanço. Psicologicamente é bastante duro”, contou.

Uma expedição como a de Manoel Morgado exige sempre muita preparação para que a mesma chegue ao fim sem maiores problemas. Já pensando que fará uma aventura diferente das que está acostumado, o montanhista iniciou uma preparação específica.

“Estou fazendo musculação para a parte abdominal e para a musculatura dorsal que sãos os dois grupos musculares que levarão a maior parte do impacto de peso. Normalmente, nas minhas expedições de montanha, o meu treinamento é fazer o que eu faço como trabalho, que é guiar grupo de montanhas, que já me deixa em forma suficiente. Eu tenho a parte de perna muito forte, mas a parte superior para mim não é uma musculatura que eu uso muito, nem braço, nem a parte abdominal e dorsal. Então eu estou reforçando”, explicou.

Além do corpo, Manoel e seus companheiros farão treinos de simulação de situações antes de enfrentar o gelo da Antártica. “Em setembro, nós faremos um treino específico na Patagônia, já com esquis e trenós para simular aquilo que nós enfrentaremos já na expedição”, disse.

Alimentação – Situações especiais demandam uma alimentação especial. Tendo que levar todas as suas refeições no trenó, já que não terão suporte algum, os brasileiros precisarão consumir diariamente oito mil calorias para aguentar as cerca de sete horas de caminhada Na somatória, serão 90 quilos de alimentos para 55 dias.

“Será comida liofilizada o tempo inteiro. É uma dieta especial com 60% de gordura para que nós possamos empacotar essas oito mil calorias diárias que nós precisaremos. Do total, metade será da comida liofilizada, no café da manhã e jantar, e outra metade em lanchinhos durante o dia, que serão seis lanches de setecentas calorias a cada hora”, disse Morgado.

Este texto foi escrito por: Caio Martins

Last modified: fevereiro 23, 2011

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