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Inverno no Chile reserva rios volumosos e adrenalina


Manoel Bebeta e Ludo já em águas mais calmas o pior que na verdade (foto: Pepe)

Canoísta e atleta do rafting, Roberta Borsari acaba de voltar de uma viagem de férias ao Chile. Muito mais do que lembranças de turista, ela traz na bagagem de volta as emoções de descer rios chilenos. E convida os internautas do Webventure a embarcar nessas aventuras.

Não dá pra descrever o que é a sensação de descer um rio com fortes e
gélidas correntes de água verde esmeralda… mas vou tentar. Foi o que encontrei no Rio Petrohue! No Parque Nacional Perez Gonzales, na região de Puerto Varas, a mil quilômetros da capital Santiago, nasce um dos rios mais bonitos do Chile. Especial pela cor da sua água e pelo visual que oferece, ele nasce na Lagoa de Todos os Santos e próximo ao vulcão Osorno.

Um pouco mais adiante, encontra-se um dos pontos turísticos da região: os Saltos do Petrohue. Trata-se de uma formação de rochas e caminhos de lavas deixados por uma das erupções do Osorno, formando saltos e corredeiras incríveis que ninguém se aventura a descer… a não ser há alguns anos, quando um americano (louco), campeão mundial de caiaque na época, conseguiu este feito. O cara virou uma lenda no lugar, pois você olha, olha, olha e não consegue imaginar como ele conseguiu. Depois disso, o rio tem seções classe 4 (bem diferentes das classes 4 daqui) seguidas de seções também animadas, de classes 3 e 2.

Rios de degelo – Minha aventura começou ao chegar à cidade de Puerto Varas. Como fomos no inverno (eu e meu namorado Rodrigo), estava ciente de que seria mais difícil descer rios. Nesta época do ano, eles estão muito cheios (devido às chuvas) e gélidos (são rios de degelo). A água fica com uma média de 8 graus e, após 15 minutos com o corpo dentro dela, é cada vez mais provável o corpo humano sofrer hipotermia. Ou seja: nadar não é uma boa idéia!

Com a boa vontade de algumas pessoas e de companhias locais, cheguamos ao Ludo, simpático francês, dono da Kokayak (www.paddlechile.com), empresa de ecoturismo especializada em descidas de rios e escalada nos vulcões da região (que são pelo menos cinco). Com algumas conversas, conseguimos nos ententer no sentido de eu ter noção do que iria enfrentar e o guia de ter uma idéia da minha experiência em canoagem.

Escolhido um trecho do rio, teria de descê-lo inteiro sem fazer portagem (que é não descer a corredeira pela água, mas passá-la pela margem), pois como os rios estavam muitos cheios não havia margem (é mole?). Mais um detalhe: elas podem chegar a 1 km de distância.

Antes de chegar a Puerto Varas, eu e o Rodrigo passamos uma semana em Pucon (cidade que merece uma matéria à parte), mas infelizmente não consegui descer um rio de caiaque por lá. Eles estavam todos muitos cheios (a maioria sem operar) e perigosos. E quando consegui um guia para descer o Rio Baixo Liucura, uma forte frente fria com chuvas me impediu de fazer a descida.

Saímos de Pucon, felizes por ter feito rafting no espetacular no Rio Alto Liucura, com aquele visual especial com água transparente,
corredeiras enormes, patos voando para todo lado e o vulcão Vila Rica ao fundo. Mas a ansiedade de descer um rio chileno de caiaque me perseguia a cada dia da nossa viagem de férias.

Chegou o dia, um sábado, em Puerto Varas. O céu estava um pouco fechado, pois havia chovido durante a noite. Escolhemos um trecho do rio cor de água esmeralda para descer. Resolvemos subir um pouco mais do que havíamos combinado no dia anterior e pegar algumas corredeiras (ou “rápidos” como eles chamam por lá) a mais.

Alto nível – Descemos o rio eu, o Ludo, o Manuel, (canoísta e amigo do pessoal) e o Pepe, também dono de uma outra companhia que aproveitou para curtir uma descida e acabou virando o fotógrafo oficial da ‘balada’. Foram trechos classe 2 e 3+ (que já são bem fortes para o nosso padrão). As classes 4 eram muito perigosas para uma primeira vez em águas chilenas, pois a velocidade e a sua força são coisas impressionantes e não podem ser subestimadas por forasteiros como eu.

As corredeiras tinham cerca de 500 metros cada uma, com ondas que apareciam de todas as direções e que deixavam o caiaque quase na vertical. Tínhamos de fugir dos grandes refluxos (ou hidraulicas, como eles chamam), que prendem a embarcação e podem fazer você nadar.

Durante todo o percurso dá para ver as pedras e peixes três ou quatro metros abaixo d’água. Algumas ondas são formadas por troncos gigantescos que caem dos bosques e que também são o grande perigo da natação, pois você pode prender a perna em algum galho ou coisa parecida.

O que fez a diferença – Depois de duas horas de descida, percorremos um trecho de aproximadamente de 30 km de rio. Com isso talvez dê para se ter idéia da velocidade da água. A neve no topo das montanhas e o frio não intimidaram, pois a adrenalina é tanta que você não pensa nisso. E, como se rema o tempo todo, o corpo se mantém aquecido. Apesar de eu ter de assumir que, ao final da ‘balada’, as minhas mãos estavam duras e um pouco formigando.

Fizemos uma descida espetacular, segura e sem nenhum apuro. Assumo que a confiança no guia conta muito. O Ludo se mostrou um guia extremamente profissional, cuidadoso e conhecedor do rio, e isso fez a diferença na hora de descer um rio em condições extremas. No dia seguinte, todos os amigos que havíamos feito na cidade vinham
perguntar como havia sido a descida. Parecia que encarar o Petrohue era um troféu. Um troféu que ergui com orgulho e felicidade por ter descido o inesquecível rio de fortes águas cor de esmeralda!!!!
Até mais!!!!

Roberta Borsari é Personalidade Webventure. Saiba mais sobre a atleta visitando seu site oficial: www.webventure.com.br/robertaborsari

Este texto foi escrito por: Roberta Borsari