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Especial: Zé Pupo conta todas suas opiniões sobre a corrida de aventura

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Pupo pensa que estruturas podem ser repensadas (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Pupo pensa que estruturas podem ser repensadas (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

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Uma segunda-feira de sol do inverno paulistano, um apartamento bem decorado, arejado, o sol adentrando a janela, brinquedos de crianças em alguns cantos da sala… parece até cenário de um dia comum de uma família com filhos pequenos que se divertem durante as férias. O clima agradável permaneceu até o sol baixar, mas nada de brincadeiras. Em uma conversa aberta, o atleta José Roberto Pupo, o Zé Pupo, capitão da equipe de corrida de aventura SOS Mata Atlântica recebeu o Webventure para uma entrevista onde ele contou, com todos os detalhes, desde o começo da sua carreira no esporte até os últimos comentários sobre possíveis fraudes que sua equipe teria cometido nas provas do Brasil Wild Extreme e Adventure Camp. Os principais comentários citados nessa matéria estão disponíveis também em áudio em todos os capítulos.

Prestes a completar 42 anos em setembro, Zé Pupo é um dos sócios da Canoar, empresa de rafting e canoagem que faz treinamentos no interior de São Paulo, e já consolidado no mercado. Ele começou a conversa contando do seu início no esporte, na década de 80. “Eu dava aula para crianças carentes aqui no bairro de Perdizes (São Paulo), e conheci um rapaz daqui mesmo que fazia caiaques, mas não remava. Então ele sugeriu que eu tivesse um caiaque e começasse a remar. Eu iniciei em 1984, em Juquitiba (SP), e nunca mais parei”, falou.

Dentro da canoagem, Zé ganhou destaque e passou a ser atleta profissional, participando de competições, e em 1988, ele esteve nos Estados Unidos em busca de informações de uma nova modalidade que lá surgia, a canoagem slalom, onde se profissionalizou e se tornou técnico de atuais grandes nomes do esporte, como o primeiro medalhista da América Latina na canoagem, Gustavo Selbach.

A aventura chegou para Pupo em 2000, quando foi convidado por Alexandre Freitas para ser o responsável pela etapa de canoagem da Expedição Mata Atlântica (EMA), primeira corrida de aventura que chegou ao Brasil. Nesta época, Zé Pupo somente administrava a Canoar e tinha deixado a carreira de treinador. “Eu aceitei fazer essa etapa mas falei para ele que antes eu queria fazer uma prova para saber como era, e fizemos o Ecomotion, em janeiro de 2001, na Serra da Bocaina, e depois outra prova em Paraty, quando conseguimos o terceiro lugar”, relembrou.

A partir daí, Zé se apaixonou pelas corridas de aventura e passou a fazer provas em equipes diversas, como a Atenah, Quasar Lontra e a Aventura, de Alexandre Freitas. “Eu sempre participava de outras equipes e chegou o momento que eu pensei em montar minha própria equipe, liderar com as minhas idéias, os meus valores e dar a minha cara a bater em um projeto desse”, falou ele completando que a equipe teria que ter algo a mais, então aliou a aventura com a preservação ambiental, e procurou seus contatos na SOS Mata Atlântica, com a qual já havia desenvolvido projetos com a Canoar.

O passo seguinte foi convidar os atletas e a ferramenta de busca foi a proximidade. “Procurei atletas do mesmo bairro, que eu sabia que moravam em Perdizes e que eu sempre via treinando”, contou. Os escolhidos foram, Cintya Gonçalves, Márcio Franco, na época namorado de Fátima de Oliveira, sócia da Canoar, e trabalhava na empresa de Pupo, e Marcelo Magnanini, o Macuco, hoje ambos da equipe Team Xpresso.

“Chamei esses atletas porque eles moravam no mesmo bairro e tínhamos uma amizade legal. Era isso o que importava, pessoas comprometidas e companhias agradáveis. Para mim é muito mais uma questão de ter companhia e praticar o esporte junto, porque as corridas passam muito rápido, o que eu curto mesmo são os treinos”, avaliou. Ele chamou ainda Fernando Jesus, que havia conhecido em uma das provas do Ecomotion, para ser atleta de apoio, junto com Adriana Pupo, sua esposa, e também sua sócia, Fátima. A pretensão era introduzir o conceito de que o apoio também faz parte da equipe, e não estão ali só para “fazer um favor aos atletas”.

Após a formação inicial da SOS Mata Atlântica, e com a entrada de Fábio Batista e Manuela Vilaseca, a equipe de Zé Pupo começou a fazer suas competições, mas o clima entre eles deixou de ter o tom tão amistoso do início.

“O Márcio e a Fátima terminaram o namoro e ele não quis mais a presença dela na equipe. Eu fui contra, mas ele ganhou o respaldo dos atletas porque naquele ano, em 2006, eu estava com uma lesão no joelho e não corri, e o Márcio tomou a frente da equipe durante as provas”, explicou o capitão.

Pupo conta que sua filosofia é que uma equipe tem apenas um líder, e no caso da SOS, esse líder era ele, mas durante o período que se ausentou das corridas graças à lesão, Franco foi o líder da equipe durante os percursos, apenas. “Isso não é uma verdade absoluta, é a minha verdade, é como eu acredito, talvez porque eu venha do rafting, que tem um cara que dá os comandos, senão cada um rema para um lado”.

“Quando eu me recuperei da lesão e voltei a correr começou a ter esse choque entre o Márcio e eu por essa questão de liderança, porque ele já tinha adquirido um espaço dentro da equipe e eu estava chamando essa responsabilidade para mim. E mesmo quando eu não corria, eu era o capitão da equipe, mesmo sem estar lá, porque essa é a forma de ser da SOS e eu sempre quis que isso ficasse muito claro, não só para nós, como para todo mundo”, falou. “Dessa história ficou um desligamento. Não posso dizer que tenho nem uma amizade nem uma inimizade. Ficou uma relação que não existe”, disse ele sobre Márcio Franco.

Alguns Elogios – Sobre Marcelo Macuco e Manuela Vilaseca, Zé Pupo rendeu-se à alguns elogios. “Eu sempre brinquei muito com o Macuco, porque das pessoas que eu conheci talvez ele seja a que tenha o maior potencial para esportes de aventura. Ele tem uma aptidão incrível. Você ensina ele a andar de snowboard e ele vai andar em cinco minutos. Na bicicleta,ele tem uma habilidade em mountain bike maior que todo mundo, ele aprende as coisas muito rápido. Mas para se tornar o melhor atleta de aventura ele tinha que treinar, e, por ter habilidade em vários esportes e gostar de muitos, ele não tinha uma disciplina tão grande para os treinos e eu tinha um papel de cobrança em cima dele. Então era uma função chata para eu fazer e uma função chata para ele receber de mim”, explicou.

Zé completa dizendo que a saída de Macuco foi em função disso. Que em sua saída, Márcio conversou com todos os atletas querendo saber se mais alguém tinha o interesse de sair. “E o Macuco foi o atleta da equipe que quis sair com ele e montar uma nova equipe. O motivo principal que ele expôs é que ele queria algo mais light e a SOS estava se profissionalizando demais”.

Já sobre Manuela Vilaseca, namorada do Marcelo Macuco, Pupo confirma que lamentou a saída da atleta. Logo que a conheceu diz que enxergou nela um grande talento do esporte. “Eu senti muito a saída dela, mas fiz questão de deixar as portas abertas. A justificativa dela para a saída é que ela não conseguiria correr contra o Macuco”, contou Zé. “Ela me disse que queria ir com ele, e não tive argumentos para retrucar. Fiquei triste por ela ter assinado a tal carta onde haviam algumas coisas diferentes do que conversamos, mas isto já passou”.

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    Zé Pupo montou sua equipe buscando ter domínio sobre certas decisões e liderar os atletas, colocando em prática suas idéias e conceitos. Esse papel causou ao atleta conflitos, mas para ele seu papel é muito claro, não só dentro da SOS Mata Atlântica, mas também para os que enxergam de fora.

    “Principalmente quando você está no topo de alguma coisa, você é muito julgado e eu acho que muita gente que está próxima da gente, principalmente as equipes que competem contra nós, olham essa liderança de forma negativa”, explicita. “Muita gente acha que eu sou autoritário, justamente pelo fato de eu não abrir mão de algumas decisões e eu não abro mesmo. Hoje em dia quem está na equipe sabe e concorda com isso, mas a diferença de hoje é que eles sabem, aceitam e concordam, acham que isso é o melhor para a equipe realmente”.

    Mas o autoritarismo, para Zé Pupo, é só a imagem que algumas pessoas têm dele, e não o que realmente acontece dentro dos seus domínios. “Eu sou uma pessoa que escuta muito e acredito muito tirar no esporte como uma forma de conviver com as pessoas e como uma forma de crescer como ser humano. Acho que só pelo resultado todo esse esforço não vale a pena. Então se eu não estou aberto a me melhorar, não vale a pena. Eu gosto muito de escutar, só que se tem formas de fazer as coisas. Não me vejo como uma pessoa intransigente. Eu me vejo como uma pessoa bem aberta às críticas, mas desde que elas sejam feitas de uma maneira correta”.

    “No passado aprendi com meus erros, pois as vezes por medo ou covardia, não falava diretamente certas coisas para as pessoas, e acabava fazendo os comentários com outros da equipe. Isto é muito ruim, mas graças a Deus, consegui aprender a lição e amadurecer com isto”, completou.

    Parceria – Ainda sobre o contato com os atletas de sua equipe, Zé ressalta a dificuldade de relacionamento entre as pessoas e a conduta de cada um em certos momentos de maior dificuldade.

    “Equipe é uma coisa muito difícil e você tem vários exemplos disso, como o casamento, que não deixa de ser uma equipe. Eu e a Dri brincamos que temos uma parceria. Com duas pessoas já é uma equipe super complicada e quando chega mais uma pessoa, que é o filho, a equipe aumenta e fica bem mais complicado. Tanto que uma das provas do casamento ir para frente é o filho. Foi assim no meu primeiro casamento, quando veio o filho, nós não seguramos. Imagina numa equipe que tem cinco, seis, oito pessoas? É muito difícil de administrar”, falou ele, pai de José Pedro, de 10 anos, fruto do seu primeiro casamento, e Maria Luiza, de dois anos, filha do seu segundo casamento, com Adriana.

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    A SOS Mata Atlântica correu o Brasil Wild Extreme em abril deste ano com Zé Pupo comandando Fábio Batista, Mateus Ferraz e a atleta convidada Sílvia Guimarães, a Shubi. Eles venceram a prova. Já no fim de maio, a equipe fez a prova urbana e noturna do Adventure Camp, dentro de São Paulo, onde a equipe terminou na quarta colocação.

    Nas duas ocasiões, Zé afirma que foi acusado de fraude por pessoas não identificadas, e até por amigos de dentro do esporte. Na primeira prova, ele e sua equipe encontraram com um carro de locais e pessoas da imprensa durante o percurso que tinha comida e bebida dentro e eles pararam para se alimentar na caçamba desta picape. O fato foi filmado e eles aparecerem até no vídeo da prova sentados comendo abacaxi e tomando cerveja, mas foram acusados de ter carro de apoio em uma prova que não tem apoio. As acusações foram feitas em um fórum de discussões da Adventure Mag, que já foi tirado do ar.

    Já na prova paulistana, Cris Carvalho, integrante da equipe, comandou Mateus Ferraz, Fábio Batista e o atleta convidado Alexandre Manzan. Zé Pupo resolveu, ao lado de Shubi e Camila Nicolau, acompanhar a prova de bicicleta pelas ruas da cidade. Em suas explicações, ele diz que estava filmando (autorizado pelo organizador) as três primeiras equipes durante o percurso e que uma pessoa de dentro de um PC (posto de controle) na USP o confundiu, o que fez atrapalhar sua equipe. As acusações são de que ele estaria ajudando sua equipe de fora, ditando-lhes o caminho correto.

    “Eu sempre retruquei todas as acusações, mas uma das coisas bacanas da vida é o amadurecimento. Você vai crescendo, amadurecendo, ficando experiente e enxergando as coisas de uma outra forma. Mesmo na saída dos atletas da SOS, tiveram algumas coisas colocadas para a imprensa, como carta aberta, que não foi bem como as coisas aconteceram mas eu não rebati. Quando vieram essas críticas do Brasil Wild e do Camp eu tive a mesma postura para dar um tempo, porque se você sai querendo se defender, é uma perda de tempo e de energia e pode ser que você não tenha nem esse tempo e nem essa energia”, contou. Zé Pupo explicou o que aconteceu nas duas provas e se defendeu das acusações. Ouça o relato dele nos áudios Os problemas no Brasil Wild e Mal entendido no Adventure Camp.

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    Pupo diz que sente que há muitas pessoas com inveja da estrutura que sua equipe tem. “Eu passei muito tempo querendo ser o cara bonzinho que todo mundo gosta. Hoje eu evolui bastante e vi que querer ser o bonzinho que agrada a todos não é uma verdade, não é uma coisa bacana e não é o que eu quero pra mim. Eu quero ser verdadeiro comigo mesmo e acho sim que tem muita inveja”, falou.

    Pupo ressaltou que houve comentários de que ele e sua equipe foram privilegiados muitas vezes pelas organizações das provas em receber informações antecipadas, mas que na verdade nunca tiveram esse tipo de ajuda. Ele conta que somente por duas vezes esteve nos locais das provas uma semana antes para conhecer e se ambientar e que não vê nada de errado nisto, desde que não haja especulação para saber os caminhos que serão utilizados na prova.

    “A equipe Seagate morou seis meses nas Ilhas Fiji para disputar o EcoChallenge e ninguém reclamou. Sorte de quem pode se ambientar. Assim como os times de futebol chegam dias antes nos lugares de grande altitude para se aclimatarem antes de um jogo. Infelizmente ainda não temos essa estrutura para fazermos isso sempre. A nossa estrutura é um pouco menor do que a verdadeira. Somos econômicos, não nadamos em dinheiro. É tudo contado, suado”, explicou.

    Candidatos – Alguém quer ser o Zé Pupo? Homem privilegiado, de acordo com suas palavras, ele conta que tem um enorme respaldo de sua sócia e de sua família para fazer os intensos treinamentos com a SOS. “Eu sou um empresário, com uma empresa consolidada, uma sócia que eu confio muito, tempo livre e condições financeiras de trabalhar para isso (esporte). Eu quis enxergar a SOS como uma coisa profissional. Não é querer ser o Zé Pupo é querer ter a vida que eu tenho”, alertou.

    “Os que mais me incomodam são os que mais me motivam para treinar. Se eles saíssem, eu não teria tanta gana para treinar”, disse aos risos.

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    Após o término da prova do Brasil Wild Extreme, o atleta da Quasar Lontra, Erasmo Cardoso, o Chiquito, afirmou que nenhuma equipe brasileira tem capacidade para chegar entre as dez primeiras no mundial de corrida de aventura, que será o Ecomotion/ Pro, que acontece de 30 de outubro a 9 de novembro de 2008. Ele afirmou, inclusive, que não iria se dedicar aos treinamentos para o mundial, que preferia correr o Abu Dabi Challenge, em dezembro. (Leia aqui a matéria na íntegra).

    “Eu fiquei muito triste quando eu li essa matéria do Chiquito. Eu acho que ele falou algumas coisas corretas, mas existem formas e formas de falar. Uma coisa que ele falou e que eu achei correta é que se uma equipe brasileira quiser chegar no campeonato mundial em condições de competir com os gringos, pode começar a treinar amanhã e treinar todos os dias com afinco. Isso que ele falou é correto. A distância entre nós e eles é muito grande. Já falar que nenhuma equipe brasileira tem condições é desmerecer o ser humano”, ponderou Zé Pupo.

    E na sequência, o atleta e capitão da SOS Mata Atlântica completou: “Então, para o Chiquito eu dou duas respostas: a primeira é que eu concordei com o que ele falou e estamos executando e nós temos condições sim. O mundial vai mostrar se estou errado, e não só a gente como outras equipes que também estão treinando com afinco, não é só a SOS; e a segunda é que eu acredito que ele vai terminar correndo o campeonato mundial com alguma equipe brasileira”.

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    Zé Pupo nunca economizou elogios à algumas mulheres, como Sílvia Guimarães, a Shubi, e Cris Carvalho. Além de ter elogiado muito a participação de Cintya Gonçalves em sua liderança da SOS Mata Atlântica durante o Desafio das Montanhas, prova realizada no Espírito Santo, em maio deste ano.

    Ele afirma que a Shubi é “o melhor atleta de aventura no país”, ressaltando sua qualidade entre homens e mulheres dentro do esporte. E se unissem as forças Zé Pupo, Shubi, Cris Carvalho e Cyntia, qual personagem da ficção sairia?

    “Tem três casca grossa aí, né?! Eu, a Shubi e a Cris. A branda aí da história é a Cintya, então não poderia ser um personagem muito bonzinho, teria que ser um bem aguerrido, um personagem bravo… acho que seríamos o Batman atual, que está nos cinemas agora”, brincou. “Essa minha coisa de exaltar as mulheres vem porque sou um cara sensível e sempre tive boa relação com as mulheres. Tenho mais amigas mulheres do que homens, e me dou bem com elas porque elas conversam mais, vão mais afundo nas coisas, então tenho essa facilidade”, completou.

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    Em alguns momentos já se ouviu Zé Pupo falando sobre se aposentar. Durante o Brasil Wild Extreme ele mesmo levantou essa questão após passar por muitas dificuldades no percurso da corrida. Antes disso, ele relembra que pensou em se aposentar num momento de chateação com o esporte, quando voltou de Portugal, no último mês de dezembro: “Estava muito triste com algumas pessoas e principalmente comigo mesmo, e quando agente se decepciona consigo mesmo, o emocional pega mais forte.

    “Está acontecendo uma coisa talvez um pouco tardia na minha vida. Eu nunca estive tão feliz fazendo esporte como estou hoje, e isso não é em relação ao ano passado ou dois anos atrás, é em relação a minha vida esportiva inteira. Eu sinto que pela primeira vez eu estou em uma equipe verdadeira, onde temos vontade de estar juntos, a gente gosta de estar junto, a gente se escuta, reflete, conversa e principalmente acompanha em si mesmo e no seu companheiro a evolução como ser humano. Eu penso em parar porque é um esporte muito degradante para o corpo. Digo parar de fazer expedições, dessas coisas que não pode dormir, mas a convivência que tenho tido com esses meninos, o Fabinho, o Mateus e o Ícaro, além da Cintya, as meninas e o Jesus (único da minha faixa etária) eu já não posso afirmar que esse será meu último ano”.

    Mas Zé afirma que mesmo a aposentadoria não o afastará da SOS Mata Atlântica. Ele diz que irá continuar conduzindo a equipe como um “manager” e não mais como um capitão. E há um carinho especial com o Ícaro de Oliveira de sua parte.

    Ainda novo no esporte, Ícaro é irmão da sócia de Pupo e ele o conhece desde que o garoto tinha um ano de idade. “Aos 19 anos ele começou a correr com a equipe e ainda é novinho, tem 21 anos, mas eu o vi crescer. Ele freqüenta a Canoar desde que era um bebê de colo”, relembra. “Correr e treinar com ele me faz sentir um garoto”.

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    A corrida de aventura vem em grande crescimento no Brasil há alguns anos, e em 2008 coroa essa crescente com o Mundial da modalidade, que o país será sede, no Ecomotion/ Pro.

    Porém poucas mídias dão o retorno merecido ao esporte que alia várias modalidades, como o mountain bike, a canoagem, o trekking e técnicas verticais, e um dos possíveis motivos para a falta de exposição é o amadorismo que ainda cerca a corrida de aventura.

    Não há um órgão nacional que comande as diretrizes, nem federações oficiais e tampouco incentivo governamental para uma questão de fundamental importância que a corrida traz para a nossa realidade: a prática esportiva, a preservação e o contato com a natureza.

    Em São Paulo há a Associação Paulista de Corrida de Aventura (APCA), assim como em alguns outros Estados há federações e associações. Outro moderador do esporte é o Ranking Brasileiro de Corrida de Aventura (RBCA), que mostra os pontos somados pelas equipes nas diversas disputas, como o Adventure Camp, Brasil Wild, Ecomotion, Carrasco D´Aventura, Desafio das Montanhas e outras disputas Brasil afora.

    Mas ainda assim está tudo nas mãos dos envolvidos com o esporte de uma maneira profissional porém que em alguns casos associam esse trabalho a outros, como no caso de muitos atletas que são médicos, publicitários, empresários do ramo esportivo ou não, e outras profissões em órgãos públicos e privados, já que o esporte ainda não permite que eles vivam apenas de sua prática.

    “O motivo para as equipes brasileiras estarem sempre atrás das estrangeiras não é por falta de estrutura do esporte, porque tem muitos países que têm pouquíssimas corridas de aventura, que têm menos estrutura que a gente, que nem tem ranking nacional e têm equipes que andam 24 horas na nossa frente. O que eu acho que não tem no Brasil e é isso que falta é a visão de equipe, aqui é tudo individualizado. Não se pensa no que a equipe pode produzir e sim no que o atleta pode produzir e é isso que tentamos mudar dentro da SOS”, afirmou.

    Maturidade – Pupo alerta que esse é um dos pontos fortes das equipes estrangeiras. Para ele, os estrangeiros estão há mais tempo no esporte, são mais maduros e conseguem lidar melhor com questões pessoais e de ego.

    “Tem duas situações: ou tem pessoas ultramaduras e que várias coisas são descartáveis porque as pessoas lidam tão bem com as emoções e sentimentos que elas podem morar cada uma num canto do mundo e se juntarem só para correrem uma prova e irem muito bem porque o objetivo em comum é todo mundo andar bem e é todo mundo muito amadurecido, então a coisa rola. E o outro lado é que se você não tem tanta gente nesse nível, é você ter pessoas dispostas a levar a equipe como uma relação de parceria, muito próxima de marido e mulher, irmão e irmã”, avaliou.

    Sobre o RBCA, Pupo faz elogios à iniciativa dos responsáveis pelo ranking mas diz que ele deveria estar nas mãos de algum órgão. “Eu valorizo muito o RBCA. Minha equipe faz tudo baseado nisso e o objetivo da SOS é estar sempre entre os cinco melhores do ranking, ‘mas o filho cresceu demais’ já e deveria ser oficial. Para isso deveria ter um órgão nacional que controlasse todas federações estaduais. Dizem que é difícil ‘colocar ordem na casa’, mas eu não acho que é tão difícil, eu acho que falta vontade política”, pontuou.

    Ele ainda faz críticas ao sistema das competições, que para ele, é manipulado por alguns organizadores. “Essa história de mudança de data que me desculpem, eu gosto muito de todos, mas a maioria dos organizadores manipulam data e depois vêm com a história de que é por causa dos patrocinadores”, comenta. “É extremamente difícil para as equipe lidarem com todas estas mudanças de datas e eventos, nós sofremos muito com isto”, completa Pupo, que termina com um agradecimento.

    “Agradeço a Adriana, minha esposa, e a meu pai, por todo apoio que eles me dão para continuar a praticar esportes”.

    Ouça os comentários de Zé Pupo sobre a organização de circuitos de corrida de aventura e sobre o comportamento de atletas dentro do esporte nos áudios O Ranking Brasileiro e A organização da corrida de aventura.

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    Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

    Last modified: julho 23, 2008

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    Redação Webventure
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