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Chofard, um skysurfer brasileiro no topo do ranking

Redação Webventure/ Aventura brasil

Guilherme de Pádua e Pierre (esq.) no podium do circuito munidal em 1997 (foto: Arquivo pessoal)
Guilherme de Pádua e Pierre (esq.) no podium do circuito munidal em 1997 (foto: Arquivo pessoal)

Quando o assunto é esporte o Brasil é mesmo um país surpreendente. Um exemplo claro disso é o brasileiro Pierre Chofard, com um dos maiores nomes do skysurf e que liderou o ranking mundial do esporte durante todo o ano passado, levando o nome do Brasil para o topo da cena mundial do pára-quedismo. Pierre permanece a margem da mídia, correndo o circuito mundial com o câmera Edson Pacheco, com quem forma o time Y2K. Atualmente estão na sétima posição do ranking mundial, e Pierre se mantém na quarta posição do ranking, como atleta individual. “Mas agora estamos treinando com bastante intensidade e vamos tentar chegar de novo no topo”, afirmou Pierre.

A dupla está em preparativos para o Campeonato Mundial de Skydive que vai acontecer na Austrália a partir do dia 20 de outubro. Como parte dos treinamentos os dois vão se isolar do mundo em pleno Pantanal, no Mato Grosso do Sul. Serão cinco dias de treinamento intensivo. “Vamos viajar só eu, o Edgar e o piloto, o pessoal de lá já está levando combustível para o lugar que fica afastado de tudo. Não tem nenhuma casa, não tem nada lá perto, só a pista de pouso onde a gente vai ficar acampado”, contou Edson entusiasmado

Aventura Brasil: Como você descobriu o skysurf? Começou antes pelo pára-quedismo?

Pierre Chofard: Eu já andava de snowboard nos Estados Unidos, já andava bem. Eu estava morando lá nos Estados Unidos, quando resolvi fazer um curso de pára-quedismo em Los Angeles em 1991. Quando eu voltei para o Brasil eu vi uma fita dos franceses fazendo o skysurf. Como eu já me identificava com o snowboard e com o pára-quedismo, resolvi juntar as duas coisas e começar no skysurf. Acabou que eu fui o primeiro no Brasil a praticar o esporte, tive que assistir muitas fitas, estudar bastante para começar sozinho.

AB: Quando você trouxe o skysurf para o Brasil como foi a recepção do pessoal que já praticava o pára-quedismo?

Chofard: Eu realmente fui o pioneiro no skysurf no país. Logo na seqüência outras pessoas começaram a praticar. Mas quando eu cheguei com a novidade, algumas pessoas mais velhas no esporte ficaram um pouco chocadas. Também teve o fato de que eu era uma pessoa nova no esporte no Brasil e trazendo um esporte novo. Mas com o passar do tempo eu fui conhecendo o pessoal, fazendo amizades e o pessoal de pára-quedismo no Brasil acabou recebendo o skysurf muito bem.

AB: Hoje como é sua rotina de treinamento?

Chofard: Desde que eu comecei a competir, em 95 eu tenho que ter uma rotina de treinos muito séria para conseguir me manter sempre em forma. Agora mesmo eu e o Edson Pacheco, que forma a equipe comigo como câmera, estamos indo para o Pantanal treinar para o Mundial que vai ser em outubro nos EUA. Vamos ficar lá uns cinco dias em um lugar totalmente isolado de tudo. Estamos viajando só nos dois e o piloto do avião. A gente vai acampar em uma fazenda em um campo de pouso lá no meio do Pantanal. Mas normalmente eu prefiro treinar lá fora, nos EUA. Os custos do salto aqui no Brasil estão tão altos que fica mais barato viajar para o exterior quando tenho que fazer treinamentos.

AB: Aonde você prefere treinar hoje?

Chofard: Eu treino no Space Center, que fica na Flórida. Mas já treinei em Sebastian, já treinei muito na Califórnia. Mas hoje em dia eu me identifico muito com o Space Center que tem um clima mais familiar e que fica a uma hora do túnel de vento, onde eu costumo a treinar. Lá tem ótimos profissionais no ramo, um avião onde você pode saltar toda hora que é o importante.

AB: Quantos saltos você já fez até hoje?

Chofard: Olha, eu nem conto mais, mas em média uns 1600 saltos por ano. Na minha vida toda eu já devo ter feito mais de 6 mil saltos.

AB: Como foi que você alcançou o primeiro lugar no ranking mundial?

Chofard: Eu já vinha bem, em segundo ou em terceiro. O ranking funciona como um ranking de surf ou de tênis. Você soma pontos a cada competição do circuito mundial que vale para o ranking. Em 1997 eu já comecei a me classificar bem e ao final do ano eu consegui terminar em segundo. Eu tive alguns problemas, eu saltava com o Sabiá (câmera) e desfiz o time com ele e formei outro time com o Guilherme de Pádua. Se não fosse por esta troca eu já teria alcançado o primeiro lugar bem antes. E em 1998 eu e o Guilherme conseguimos alcançar a liderança logo no início da temporada e lideramos durante todo o ano passado. Agora eu estou atrás no ranking de novo, mas na primeira competição do circuito eu consegui me recuperar e fiquei em terceiro.

AB: O skysurf é um esporte com muito poucos praticantes, não só no Brasil. Porque isso ocorre?

Chofard: Realmente. Do ranking só participam 57 pessoas. São poucas pessoas de nível, e tem também as eliminatórias. Mas de qualquer forma é um esporte que exige muito tempo, muita dedicação. Se fosse fácil… Tem que ter tempo, dedicação, disciplina, dinheiro para saltar e sobretudo você precisa encontrar uma pessoa que seja igual a você para ser seu câmera. Então se você consegue juntar tudo isso e ainda tem algum dom para a coisa, quem sabe você chega lá. É como na Fórmula 1, são poucos os carros, mas também é difícil chegar no topo.

AB: Como é a relação com o câmera?

Chofard: Em primeiro lugar você tem que encontrar alguém que tenha uma harmonia perfeita com você. É claro que você sempre trabalha no limite, e erros acontecem, você tem que saber aceitar os erros, não dá para ficar bravo. E a convivência também é muito importante, as vezes você dá uma sugestão sobre o ângulo, ou ele te dá uma idéia de alguma manobra. Só a convivência mesmo e uma mesma linha de pensamento e de objetivos. E a gente treina várias vezes a rotina do salto, porque o que o público vê como resultado final no vídeo é uma coreografia exaustivamente ensaiada. Na verdade, quando a gente vai para uma competição como o Mundial, a gente prepara várias coreografias diferentes.

O curioso é que depois que eu cheguei no topo do ranking eu acabei me desvinculando dos meus ex-câmeras. O primeiro, o Sábia, não batia com minha linha de pensamento. Eu estava mais focado para competição, treinar fora, e ser primeiro do ranking enquanto ele não estava tão envolvido com isso. Precisa ter muita dedicação, acordar cedo todo o dia, treinar muito, acaba sendo uma relação muito estressante. Em 97 nós estavamos em terceiro e teríamos chegado na frente do circuito mundial se a gente não tivesse se separado. Mas fazer o que? Aconteceu. Eu acabei juntando com o Guilherme de Pádua, a gente treinou duro começando do zero e quando chegamos no topo ele mudou para o Rio de Janeiro, e a gente teve que se separar porque o treinamento ficou inviável.

AB: Na competição de que altura vocês saltam?

Chofard: De 13.500 pés de altitude. São 50 segundos que a gente tem e que começam a ser contados a partir do momento em que o primeiro membro do time saiu do avião. A gente não pode ultrapassar nem um segundo desse tempo porque senão a gente deixa de ganhar ponto. E também não podemos fazer uma rotina muito curta porque senão acaba. A gente acaba gravando o tempo na cabeça, porque não dá tempo de olhar o relógio nem nada parecido.

AB: Como é feito o julgamento em uma competição?

Chofard: É feito com base em critérios artísticos, técnicos e envolve os dois na qualidade de filmagem, de imagem, na perfeição dos movimentos do skysurfer e do câmera, o time em conjunto. O meu é feio a parte e o outro julgamento é feito pelo trabalho dos dois juntos. Então 50 % é um julgamento artístico e 50% é julgamento técnico.

AB: Ainda existe uma idéia de que o pára-quedismo é um esporte perigoso?

Chofard: O que existe é uma mística muito grande em torno do esporte, mas na realidade não é tanto quanto parece. Se você seguir os padrões certos e seguir aquele aprendizado, é um esporte tão seguro como qualquer outro. Quem nunca saltou na vida vai ter que passar por todo um processo, fazer o curso de pára-quedismo, depois começar no skysurf com uma prancha pequena, depois passa para uma média até chegar a usar uma profissional. Então não tem risco nenhum, porque você segue um processo e já vai se condicionando. As vezes eu ainda escuto uma pessoa falar: “mas que loucura, que perigo”, mas eu fico quieto no meu canto, porque eu sei que na verdade não é nada disso.

AB: Ainda existe aquela idéia de que quem pratica para-quedismo é “radical”, maluco, cara que topa qualquer coisa. Você ainda se irrita com esse tipo de definição?

Chofard: Eu não me incomodo mais com esse tipo de comentário. Mas quem conhece realmente sabe que não é nada disso. Os que ganham os esportes chamados de radicais não são malucos nem nada, muito pelo contrário. Tem que ter muita dedicação e disciplina. Pode até fazer um estilo de ser maluco, passar essa impressão para os outros, mas eu tenho certeza que para você ficar entre os melhores do mundo você tem que ser muito profissional para chegar até lá. Hoje em dia até quem joga bolinha de gude tem que treinar muito se treinar o dia todo.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur

Last modified: setembro 10, 1999

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