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Brandolin explica porque abandonou o deserto

Ao contrário do que se lê em algumas reportagens do mundo da aventura, o brasileiro Thomaz Brandolin não está atravessando o deserto de Gibson, na Austrália. A expedição, organizada por holandeses, acontece realmente mas Brandolin, convidado pelo grupo, nem chegou a iniciá-la. “Um dia no deserto já bastou para eu ver que não ia dar certo”, explica o trekker e alpinista, com exclusividade, à Webventure.

Há pouco mais de dois meses, Brandolin, de 39 anos, conseguiu um feito inédito para um brasileiro: chegar a pé ao Pólo Norte geográfico, fazendo parte de uma equipe estrangeira. Quase não deu tempo de comemorar e descansar dos 112km na neve. Em um mês, ele embarcou para o deserto australiano onde realizaria a travessia também inédita de mil quilômetros, sob um calor intenso. O convite partiu dos holandeses Edmond Öfner e Joost Cohensius, que haviam conhecido Brandolin na sua primeira ida ao Ártico, em 96.

Estratégia furada

“O plano era que caminhássemos puxando trenós com rodas como de motocicletas. Em cada um havia 84 litros de água, que era o total a ser consumido em 12 dias, que representava uma etapa – a expedição teria um total de cinco”, conta Brandolin. “Simulamos o primeiro trecho da caminhada e foi então que vi os erros. Havia muita vegetação no local, um tipo de arbusto espinhoso chamado ‘spinifax’. Era a maior dificuldade passar com o carrinho por aquilo. E depois ainda tinha muitas dunas, algumas com 12m de altura”, descreve.

Se não dava para usar o carrinho, que se usasse mochilas, sugeriu o brasileiro. “Eles me responderam que não ficaria legal no filme da expedição”, conta. O grupo chegou a concordar em diminuir o número de litros de água a serem carregados e aumentar o reabastecimento aéreo de água, mas não abriu mão do trenó. “Ora, uma expedição pode ser filmada, mas um filme não pode ser o objetivo de uma expedição”, dispara Brandolin. “E depois, com tanto abastecimento de água aquilo deixaria de ser uma travessia no deserto…”

Foi então que ele decidiu abandonar o projeto. E ele não voltou sozinho. A canadense Denise Martin, curiosamente especialista em gelo, não passou dos primeiros 200 km, vencida pelo cansaço. “Parece que eles se esqueceram de que estavam no deserto e planejaram um expedição ao Ártico, que é onde se usa trenó”, critica Brandolin. “Tudo o que é inédito tem de ser bem planejado. Foi isso que faltou.”

Surpresa

Arrependimento? “Só se eu não receber o dinheiro da passagem de volta”, diz, rindo. Mas semanas depois de chegar ao Brasil, Brandolin se surpreendeu: os aventureiros tinham acatado a sua sugestão. “Pois é, lá estavam eles, com mochilas nas costas. Mas puxando o carrinho, claro”, descreve. “Então eu liguei para eles (a equipe possui um Iridium) e disse: se vocês tivessem concordado comigo antes, não teriam perdido duas pessoas.”

Brandolin já traça planos para um novo projeto. Mas faz mistério. “Ainda não posso falar nada, mas deve ser só para o ano que vem.” A expedição no deserto de Gibson continua e pode ser acompanhada pelo site www.originexpedition.com. Será que ela vai ter sucesso? “Acho que sim”, aposta Brandolin. “Mas deixou de ser uma aventura.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira