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Segurança: a multiplicadora de aventuras

Redação Webventure/ Aventura brasil

Saber utilizar os equipamentos é tão importante quanto levá-los para a aventura (foto: Arquivo Webventure)
Saber utilizar os equipamentos é tão importante quanto levá-los para a aventura (foto: Arquivo Webventure)

O coração bate mais forte. O suor escorre. O corpo está trêmulo e invadido por um misto de medo e ansiedade. A beleza é exuberante e a sensação de estar vencendo um limite, fantástica. Sair da rotina, viver aventuras, aprender mais sobre a natureza e sobre si mesmo. Todas essas coisas, consideradas maravilhosas por muitos, só podem ser desfrutadas se um item muito importante estiver presente: a segurança.

Os esportes praticados em contato com a natureza, como qualquer outro, carregam uma carga natural de risco, aumentada pelas forças um tanto quanto imprevisíveis da natureza. É certo que há risco, mas ele pode ser minimizado. E isso é com você! Montanhismo, rafting, trekking, off-road e outros esportes só podem trazer benefícios se praticados com responsabilidade e consciência.

O risco já existe, mesmo com todos os cuidados. E, afinal, o que pode ser mais importante do que a sensação de ter o corpo tomado pela adrenalina sem que isso traga danos a você?

Confira neste Aventura Brasil especial para a 2ª Semana de Segurança Webventure, dicas que ajudarão você a curtir aventura por muitos e muitos anos!

Quando pensa na sua próxima aventura, qual é o primeiro passo que vem à sua mente? Pegar a corda, colocar o pé na trilha ou se encaixar em um bote? Se você daria alguma dessas repostas, ou outra parecida, é sinal de que está pulando um passo muito importante .

Trata-se de um passo fundamental, que poderá livrá-lo de situações nada agradáveis. É com ele que deve começar de fato a sua aventura: o planejamento. “Planejar é a coisa mais importante na prática desse tipo de esporte. Se você procura antes todas as informações que precisa e toma iniciativas em relação a isso, muito provavelmente viverá aventuras sem problemas”, explica a médica do esporte Simone Kurotuche. Simone está desenvolvendo uma pesquisa com estimativas em relação aos acidentes ocorridos na prática de esportes de aventura

Escolher o melhor calçado, procurar informações sobre a área visitada, se certificar da qualidade dos guias, pesquisar. Pular esta fase só porque ela não é lotada de adrenalina, pode trazer conseqüências sérias.

“Pode parecer chato, mas é neessário. A gente sempre pensa que um bom aventureiro é aquele que tem bom preparo físico e coragem para enfrentar as coisas. Na verdade, se dá bem na aventura quem tem humildade para aprender e sabe planejar direito aquilo que vai fazer”, explica Esdras Martins, precursor do trekking de competição no Brasil.

Na prática – Portanto, o primeiro passo é um passo anterior à prática do esporte na natureza, seja ele qual for. Passar à ação quando os conhecimentos são insuficientes pode fazer com que o prazer pela prática esportiva ao ar livre se dilua.

Planejar aqui, no entanto, vai muito além simplesmente fazer planos. É preciso coletar informações, conversar com pessoas, procurar na internet. Pesquise tudo o que puder sobre o esporte, o local, os perigos e dificuldades que podem ser encontrados.

Depois de tudo isso, é importante sobre as condições que você tem de realizar esta aventura. Descer sem guias especializados um rio com corredeiras nível V (indicadas somente para rafteiros experientes) pode trazer riscos desnecessários. Provavelmente, algo que esteja mais adequado ao seu grau de experiência será não só mais seguro como mais divertido e a adrenalina continuará garantida.

Executando o plano – Depois de escolher a melhor maneira de curtir a sua aventura, pense bem em todos os detalhes. Desde o que levar até os companheiros, incluindo os equipamentos de segurança e de primeiros socorros, tudo deve ser listado e fazer parte do seu mochilão.

O fato de curtir aventura não impede você de tomar esses cuidados simples. Quando de repente, começar a cair uma chuva bem no meio da trilha, naquele dia que prometia ser tão ensolarado, você se sentirá bem melhor por Ter levado uma capa de chuva. Além disso, seu estresse será menor e o as suas condições psicológicas mais adequadas para continuar a aventura.

Lembre-se sempre do primeiro passo para uma aventura segura: planejamento é fundamental!

Quando atravessa a rua, em uma grande cidade , ao dirigir rumo ao supermercado, tomando aquele banho quentinho depois de um dia cansativo de trabalho. Em cada uma dessas atividades, tão cotidianas, todos nós estamos correndo algum tipo de risco. Pensando nisso, foram criados cintos de segurança, existem as faixas de pedestres e você deve tomar um certo cuidado para não escorregar no banheiro. Por não serem tomados os cuidados necessários, porém, muitas pessoas ainda se acidentam gravemente em ações muito simples e corriqueiras.

O mesmo se aplica aos esportes de aventura. Mesmo em atividades corriqueiras, ou quando se adquire experiência em determinada modalidade, não se pode esquecer do básico. O excesso de confiança e a impressão de que o risco diminui conforme a atividade é repetida fazem com que muitos deixem de usar equipamentos, planejar corretamente, voltar quando o perigo é extremo.

O ponto básico é reconhecer que os riscos existem e que se agravam em ambientes como os que os esportes de natureza são praticados. A temperatura, a presença de animais, as próprias mudanças nas condições naturais são fatores agravantes.

Ser humilde é estar seguro – Pode parecer óbvio que subir uma montanha, descer um rio ou fazer uma trilha em um veículo em alta velocidade traga riscos, que podem e devem ser minimizados. Na prática, porém, a humildade para reconhecer os limites diante da natureza e dos desafios impostos por ela nem sempre prevalece.

Ronaldo Franzen Nativo, um dos mais experientes montanhistas do país, acredita que algumas vezes a competitividade e a necessidade de mostrar suas qualidade aos outros é um dos fatores que mais prejudicam a segurança de quem gosta de se aventurar. Um dos responsáveis pela formação dos integrantes do COSMO (Corpo de Salvamento em Montanha), Nativo cita como exemplo o acidente de Jorge Kalile em março deste ano.

“Outro dia um grupo de jovens fez uma aposta, para ver quem chegaria ao cume do Marumbi (montanha no Paraná). O tempo estava chuvoso e, como tinham apostado, ninguém quis desistir, apesar das dicas da administração do parque. Conseqüência: na descida um deles escorregou, enroscou o pé numa fenda e girou, o que acabou ocasionando fratura exposta no tornozelo. Por sorte, era dia de atividade do COSMO. Estavam presentes quase todos os integrante, que se mobilizaram e realizaram o resgate. Também estava presente nosso medico que anestesiou o garoto, para que pudesse suportar a noite e ser levado no outro dia de helicóptero.”

“As pessoas aprendem procedimentos errados ou de maneira superficial e já acreditam que são ‘experts’ no assunto. Por acharem que já dominam a prática, começam a ensinar outras pessoas, que também aprendem procedimentos errados. Cria-se uma espécie de corrente e essa falta generalizada de conhecimento é que leva aos acidentes”, explica a doutora Simone Kurotuche, médica do esporte que trabalha diretamente com casos de resgate como o citado por Nativo.

Salada de desafios – Se segurança em uma só modalidade já é algo que merece atenção, em provas multiesportivas, como as corridas de aventura, ela deve ser redobrada. E a noção de limite de cada um também.

“Vejo pessoas que não têm preparo suficiente participarem de algumas corridas de aventura e passarem muito mal. Às vezes elas participam de uma prova feita para iniciantes e acreditam que estão aptas a enfrentar uma grande corrida. O ruim é que, por achar que pode superar os limites, acaba sofrendo e tendo uma sensação negativa desta experiência”, explica Vítor Lopes, capitão da Lontra Radical, uma das principais equipes de corrida de aventura do país e atual líder do Circuito Brasileiro de Corridas de aventura.

“Para poder competir, precisamos treinar muito. Além disso, temos conhecimento em navegação e experiência em outras corridas. Mesmo assim, estamos expostos ao perigo. Imagine as pessoas que estão começando agora e querem acompanhar o nosso ritmo. O melhor é dar um passo de cada vez”, explica.

Saber do risco e dos limites impostos pela natureza ajudam qualquer um a se divertir de maneira mais segura. Respeitar esses fatores e ter humildade podem fazer a diferencia entre uma ótima experiência e um grave acidente.

Imagine-se em uma festa de gala, dessas chiques que contam até com a presença do prefeito. Muito provavelmente, a menos que você queira fazer algum tipo de protesto ou se trate de uma festa à fantasia, você não estará com aquela bermuda velha, cabelo despenteado e tênis furado.

Da mesma maneira, quando for curtir uma aventura, deverá se adequar a ela. Os equipamentos de segurança são parte elementar deste figurino e não apenas acessórios. Sem eles, você estará não só com o traje de aventureiro incompleto. Estará correndo risco de vida.

“Quando for pedalar, nunca se esqueça do capacete. Este é o equipamento básico para quem não quer se arriscar de maneira desnecessária”, explica Paulo de Tarso, presidente do Sampa Bikers. Joelheira, cotoveleiras, também ajudam. O capacete, porém, é essencial.

O mesmo acontece com a prática do rafting, em que, além do capacete, o praticante deve atentar para o colete salva-vidas. Tudo deve estar devidamente ajustado. No trekking ,uma calçado ideal é fundamental. “Sapatos apertados podem causar dor, aumentar o estresse e causar até torções no meio da trilha”, explica Esdras Martins. Além disso, é importante não esquecer de levar sempre uma blusa de frio, uma capa de chuva, roupas e comida extra, para o caso de se perder.

Em outros esportes, como o montanhismo, a lista é bem mais extensa. Por isso mesmo, é necessário fazer cursos com pessoas especializadas e capacitadas, conhecer os equipamentos e, principalmente, como utilizá-los. Além disso, é necessário cuidar deles, respeitar sua vida útil e não adquirir equipamentos de procedência duvidosa.

Barato que sai caro é real – Uma das principais afirmações de feras dos mais variados esportes, diz respeito à procedência dos equipamentos. Comprar uma equipamento baratinho, de marcas desconhecidas ou fazer gambiarras nunca é a melhor opção.

Por isso é tão importante fazer cursos, conhecer o máximo que puder da modalidade que pratica. Desta maneira, você não correrá o risco de perceber, no meio da aventura, que não tem, ou simplesmente não sabe como utilizar, algum dos itens do seu figurino. Providencie isso antes, cheque tudo o que puder. Assim, sua aventura com certeza vai ficar muito mais divertida.

Anos de prática, conquistas, erros, acertos, experiências. Esses são os ingredientes básicos para alguém que queira se transformar em uma fera em qualquer esporte de aventura. Não é necessário virar um ‘expert’, porém, para ter a consciência adquirida pelos mais experientes e famosos: sem segurança, não há aventura.

O Ronaldo Nativo Franzen, uma fera do montanhismo reconhecido em todo o país, deixa claro que planejamento, humildade e a utilização correta dos equipamentos são passos fundamentais.

“Para minimizar os riscos, faça uma planejamento, deixe alguém avisado dos seus planos, utilize equipamentos adequados, aprenda as técnicas (meteorologia, orientação e navegação), esteja sempre atento às condições metereologicas, realize treinamentos periódicos e principalmente: não subestime a montanha.

Quanto a escalada em rocha as dicas são as mesmas, mais: use capacete, não comece um procedimento sem terminar o anterior, revise sempre mais d uma vez, respeite a vida útil dos seus equipamentos, utilize sempre equipamentos homologados, não utilize equipamentos de procedência duvidosa, utilize sempre a ressegurança (backup) nos sistemas de ancoragem, não faça rapel ou escalada com corda de cima em apenas um ponto, ao fazer o rapel utilize um no blocante. Ao fazer rapel em grandes paredes, faça sempre um no na ponta.

O mais importante: escale para sua realização pessoal e não para se mostrar, aprenda técnicas de auto-resgate, e de socorros urgentes. Não só para utilizar mas para pensar sempre em prevenir.”

Para Esdras Martins, precursor do trekking de competição no Brasil “a principal dica é sempre conhecer o caminho a ser percorrido e, se não souber o trajeto, arrumar um guia da região, é mais seguro. O planejamento também é sempre importante e, no caso de perceber algum problema, o melhor é ser humilde e voltar ao ponto de partida”

Segurança acelerada – No off-road, João Roberto Gaiotto autor do livro “Técnica 4X4 Guia de Condução Fora de Estrada”, e professor de cursos de condução 4×4 para a rede Dpaschoal/Goodyear e na PUC-PR é quem dá as dicas. “Procure seguir as normas de segurança impostas pelos organizadores quando for participar de uma prova. Elas visam, principalmente, que você possa competir com segurança. Além disso, equipe o veículo corretamente, respeite as normas de trânsito, e respeite os outros motoristas e pessoas que estão no próprio veículo com você”

Como você pôde observar, independente do esporte, você é capaz de se aventurar seguro. Basta perceber a importância disso para que você permaneça vivo e bem e para que os esportes de aventura deixem de ser vistos como “coisa de maluco” . A natureza está aí para ser aproveitada e um pouco de adrenalina nunca faz mal. Basta saber conquistar dar um passo de cada vez e ter bastante atenção com o que está em jogo: a sua vida e a possibilidade de viver outras fantásticas aventuras.

Este texto foi escrito por: Debora de Cassia

Last modified: julho 13, 2001

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