Conheça o montanhista brasileiro Ronaldo Franzen, o Nativo, e saiba onde escalar no Paraná

Gabriela Saliba/ Montanhismo

O sul do Brasil é repleto de regiões montanhosas, um cenário perfeito para os praticantes de montanhismo, como o profissional Ronaldo  Frazen, o Nativo. Ele iniciou suas atividades nas montanhas da Serra do Mar do Paraná no final dos anos 70, desde então, tornou-se especialista em montanhismo, escalada, técnicas e resgate em ambiente vertical e gestão da segurança em atividades de aventura. Eu entrevistei Ronaldo, com exclusividade, para o Webventure. Dá só uma olhada:

G: Há quanto tempo você é montanhista e como começou?

R: Usava como base o ano de 1980, mas estes dias descobri umas fotos com uns primos no Pico do Marumbi em 1978. Recebi também outra foto de um amigo, na comemoração do centenário da primeira escalada ao Olimpo em 1979.

Nessas idas ao Marumbi descobri nos livros de cume o endereço do Círculo dos Marumbinistas de Curitiba, frequentava as reuniões, ouvia as histórias, mas o CMC estava numa fase de inanição. Conheci numa das reuniões do CMC o sócio do CEB e do CEG, Luis Antonio “Cebolinha”. Fomos juntos ao Marumbi num trem que partia de Curitiba, no sábado às 13 horas. Pernoitamos no cume do Olimpo, que é o Pico do Marumbi. Dia seguinte, nos blocos da crista do cume, ele me apresentou as técnicas de escalada. Agarra, aderência, fissura, entalamento de corpo, chaminé, incrível que no cume tinha de tudo. 

G: Qual a sua formação na área?

R: Ainda no Marumbi, conheci o pessoal do Clube Paranaense de Montanhismo, a partir daí comecei a frequentar as reuniões semanais, descobri que alguns eram os filhos dos Marumbinistas, descobri o Marumbinismo e a escalada em rocha. Me inscrevi no próximo Curso Básico do  CPM, 1982, que na época era ministrado por um corpo de guias. Tinha uma lista de cerca de 20 vias no Campo Escola do Anhangava e depois uma via de formatura no Marumbi.

Quem se formava, concluía todas essa vias, tinha que ajudar a ministrar o próximo curso. Em 1984 fui cumprir o serviço militar obrigatório, como voluntário paraquedista, passei um ano no Rio de Janeiro, frequentado as reuniões do CEG e escalando com essa galera animada.

Ao voltar a Curitiba assumi o departamento técnico do CPM e com o pessoal da época, com a intenção de atualizar os que guiavam pelo clube e formar novos guias, organizamos o Curso de Guias, concluído em 1986.  Neste curso ajudei a organizar, assumi algumas aulas e era aluno ao mesmo tempo. Nessa época, junto com Milton Piffer “Snake” começamos timidamente a fabricação de sapatilhas.

A primeira foi a NatiSnake, que era bidestra, ou seja não tinha pé direito nem esquerdo, consequentemente o dobro de vida útil. Como o maior mercado era o Rio, de tempos em tempos ia fazer entregas e pegar novas encomendas. Mas aí chegou um momento que todos que escalavam já haviam comprado. Acabei desistindo da fabricação e acabei ajudando meu pai com sua empresa. Mas o sonho sempre foi iniciar novos adeptos e ter uma escola de Montanhismo.

Comecei a ministrar cursos fora do CPM em 1991, ministrava esporadicamente. Em 1995 conheci a Patagônia e o Gelo, com a criação do Parque Marumbi, com tinha um refúgio lá e o sonho de viver na Montanha, acabei indo morar lá e tentar trabalhar algo com o Parque. Ficou só no  voluntariado e projetos, nada se efetivou a não ser o trabalho voluntário. Um deles foi a participação na criação e fundação do COSMO, Corpo de Socorro em Montanha, em funcionamento até hoje.

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Em 1996 acabei sendo convidado pelo Valdemar a ajudá-lo a completar o projeto Sete Cumes. Ele já havia escalado junto com outros Paranaenses o Aconcágua; com Mozart Catão o Everest e me contratou para escalar os que faltavam. Fomos ao Denali, tivemos que descer a poucos metros do cume. Depois ao Elbrus onde acabamos nos desentendendo e desisti do projeto.

Desde então sigo com meu projeto pessoal de escalar todas as montanhas do planeta, as que tiver oportunidade vou. Minha preferência é pela escalada em Rocha, mas me arrisco de vez em quando nos gelos e altitudes.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

G: Quais cursos você ministra? Você também é guia de montanha atualmente?

R: Minha formação é como guia voluntário, acabei registrando a Marumby Consultoria e Treinamentos onde ministramos a Iniciação ao Montanhismo, Escalada em Rocha Básico e Aperfeiçoamentos, sendo que o que mais acontece por todo o Brasil é o que chamei de PAARE, Prevenção de Acidentes e Autorresgate em Escalada, que já está na sua 62º edição. Já aconteceu em 12 estados Brasileiros e uma edição exclusiva para amigos no Yosemite, na Califórnia.

Temos parceria também com uma escola de Bariloche, a Andes Ascensiones e desde 2000 promovemos o Curso de Deslocamento em Glaciar e Escalada em Gelo, que já está na sua 22º edição. Nas consultorias auxiliamos os empreendimentos a implantarem as boas práticas das normas técnicas para o Turismo de Aventura. Para estes ministramos também a capacitação de Técnicas em Ambiente Vertical para Condutores.

G: Qual a melhor forma de uma pessoa que quer começar no montanhismo se capacitar de forma segura?

R: Procurar um clube, um guia, ou uma empresa que proporcione esta iniciação. O ideal é primeiro aprender “passo a passo e um de cada vez” a ir para a Montanha, técnicas de caminhada, orientação e navegação, acampamentos, alimentação e hidratação, conduta consciente e mínimo impacto; para depois aprender a escalada em rocha, as técnicas de segurança, descidas, meios de fortuna e auto resgate.

Depois vem a escalada em neve, gelo e a alta montanha, onde vai ter que lidar com mais frio, mais vento, menos oxigênio e administrar o mínimo de recursos. Na montanha assim como na vida, um grande passo é feito de dois ou três pequenos passos.

G: Quais as trilhas mais tradicionais do Paraná para iniciantes?

R: As mais tradicionais são as do Marumbi, que é composto  por um conjunto “principal” de 8 montanhas, onde o ponto culminante o Olimpo está a 1539 msnm; as trilhas iniciam na estação de trem do Marumbi, onde fica a sede do Parque Estadual, a 485 msnm. Para iniciar no Montanhismo indico o Campo escola do Anhangava, com 1430 msnm, em Quatro Barras, ponto culminante da Serra da Baitaca, hoje Parque Estadual. Ótimo também para iniciar  e o Campo Escola do Canal em Piraquara, que é a ponta oeste da Serra do Marumbi.

Depois o Pico Paraná o mais alto da região sul do Brasil com 1887 msnm, que fica em Campina Grande do Sul, juntamente com as montanhas da região, Caratuva, Itapiroca, Taipabuçu, Ferraria, tem muito a se conhecer. Quanto à escalada em Rocha, a maioria destas montanhas tem uma face mais escarpada que proporciona tal prática. 

G: E para os que já têm experiência, quais as travessias imperdíveis no Paraná?

R: Todas as da Serra do Ibitiraquire, onde se encontra o Pico Paraná e as Montanhas já citadas e a tradicional travessia da Serra do Marumbi, que foi batizada de Alfa Ômega. A melhor época do ano para explorar as montanhas do estado é entre abril e setembro, principalmente no inverno.

Last modified: abril 4, 2018

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Gabriela Saliba
Gabriela Saliba
É montanhista desde 1993, formada em fisioterapia, responsável pela marca Flor no Tacho de culinária saudável. Foi colaboradora de diversas revistas e sites de ecoturismo: Eco2000, Osite, 360 graus, Geosfera Air, Ecoturismo, Néz Adventure, Ecoaventura, Vizoo, Aventura & Ação, Aloha, Ativa. Apresentou o quadro “PARTIU!” no programa STADIUM da TVE-BRASIL onde apresentava os principais points de escalada do Brasil, acompanhada pelos escaladores de maior evidência na época. Seu foco principal é escrever sobre montanhismo e práticas para uma vida outdoor mais saudável. Contato: gabrielafsaliba@gmail.com