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Brasileiros comentam desafios e avaliam desempenho no Dakar 2013

Redação Webventure/ Dakar

Jean foi o brasileiro com melhor classificação (foto: David Santos Jr / Webventure.com.br)
Jean foi o brasileiro com melhor classificação (foto: David Santos Jr / Webventure.com.br)

Desde que o Rally Dakar chegou à América Latina, a edição de 2013 recebeu a menor quantidade de brasileiros. Nas motos, que usualmente havia mais representantes nacionais, apenas Jean Azevedo compareceu, depois que Felipe Zanol sofreu um acidente.

Com a aposentadoria do piloto André Azevedo, nenhum caminhão levou a bandeira verde e amarela para a competição, enquanto os carros receberam maior atenção.

Sobre quatro rodas, tivemos as duplas formadas por Guiga Spinelli e Youssef Haddad a bordo do Mitsubishi ASX Racing, Marcos Baumgart com Kleber Cincea em uma Mitsubishi Pajero Montero, e Lourival Roldan como navegador do boliviano Luis Barbery.

Nos UTVs, novidade que está ganhando cada vez mais espaço em ralis, Bruno Sperancini pilotou um Polaris RZR 900 XP ao lado do navegador Thiago Vargas, além de Reinaldo Varela que dirigiu sozinho um Can-Am Commander.

Nível técnico. Como em todos os anos, o Dakar não foi considerado fácil por nenhum piloto, mas o início mais duro foi um destaque. Segundo Spinelli, “os quatro dias no Peru são praticamente só deserto, fora de estrada. É realmente difícil, com areia muito mole. Depois, no Chile, também enfrentamos algumas condições muito críticas no terreno, especialmente quando a prova passou por Iquique”.

De acordo com Jean Azevedo, “a diferença desse ano é que começou no Peru, no deserto aberto, com muita areia e duna, algo que nunca tinha acontecido, mas não significa que ficou fácil depois. Tivemos os ergs [mares de dunas] na Argentina, depois voltou para deserto no Chile”.

Para Varela, “o que todo mundo tem medo são as dunas. Receio de cair, ter que dormir lá, mas o UTV passa muito fácil, então não atolei nenhuma vez, e isso torna tudo muito prazeroso”.

Baumgart afirmou que “o Dakar é outro patamar, você anda em um terreno realmente desconhecido, não tem detalhamento de piso como nas planilhas do Rally dos Sertões. Cada um faz o seu traçado, mas quando muda para estradinha fica mais próximo do Brasil. Outra questão é a técnica de navegação, o equipamento de GPS é totalmente diferente”.

Adversários. Em todos os veículos, o nível de preparo das máquinas e competidores aumenta a cada ano. Para Azevedo, a limitação de 450 cilindradas para motos estimulou esse desenvolvimento. “Está evoluindo bastante porque tem concorrência”, avaliou. “Entraram outras marcas fora a KTM, que estava sozinha. Hoje também tem Honda, Husqvarna, e isso acaba puxando a qualidade dos produtos porque todos querem evoluir e ninguém deseja perder”, completou.

Segundo Guiga Spinelli, “os pilotos tops estão sempre treinando com um padrão alto de desempenho e tem sempre um novato surgindo que também se torna competitivo. A surpresa desse ano, apesar das expectativas, foram os buggies 4×2, especialmente porque o formato do rali, sobretudo na primeira semana, favoreceu muito para eles”.

Um fato que exemplifica bem o atual nível do Dakar é o maior número de pilotos que completou o rali. Azevedo lembrou que “apesar da dificuldade da prova, largaram 183 motos e chegaram 125. Normalmente, das 180 que largam, aproximadamente 90 completam. Isso mostra como o equipamento melhorou, os modelos estão quebrando menos e os competidores evoluíram”.

Completaram. Dos nove brasileiros na prova, apenas dois terminaram todas as especiais. Jean Azevedo foi o melhor colocado entre eles, conquistado o 23º lugar na classificação geral das motos. “Esse ano foi uma readaptação”, comentou o piloto.

“É um projeto em longo prazo porque estou com uma equipe nova, a Avante. Completar o rali é muito bom e a classificação atual comemoramos bastante, mas o objetivo será conseguir resultados melhores. Vou continuar o trabalho nesse time para voltar no ano que vem, já adaptado à categoria”, completou Azevedo.

Reinaldo Varela foi o segundo brasileiro a completar a competição, ficando em 57º lugar no ranking geral dos carros e 3º na subcategoria T3.2, para veículos com menos de 1.050 cilindradas. Ele pilotou sem navegador pela primeira vez em 30 anos de carreira. “Não foi nada que desse medo, mas em algumas horas fazia falta. Sozinho não dá pra andar rápido e visualizar a planilha, com um parceiro você carrega mais peso, porem corre mais”, explicou.

Saídas. O primeiro representante do Brasil a deixar o rali foi Lourival Roldan, na terceira etapa. Com 54 anos, ele já participou algumas vezes do Dakar e organiza desde 1995 as provas da Mitsubishi no país. Esse ano foi convidado pelo piloto Barbery para ser navegador e ainda teve a peculiaridade de dividir o carro com um terceiro membro da equipe, Hernan Daza, que atuou como co-piloto.

O problema que tirou Roldan da corrida foi o mesmo que afetou competidores de ponta como Nasser Al-Attiyah. “Entrou poeira no rolamento da correia do motor, com isso ela travou, esticou e quebrou um suporte”, explicou o navegador.

A segunda dupla a sair do rali foi Marcos e Kleber, que capotaram o carro na quinta etapa, em um trecho com muito fesh fesh, onde a visibilidade estava reduzida por conta do excesso de poeira levantada pelos outros veículos. Segundo o piloto, “o Dakar é uma prova muito psicológica. Fui com cabeça de corredor, mas você precisa ter pensamento de chegar”.

“O que aconteceu comigo foi em um local bem aberto, sem estrada. Poderia ter saído 300 metros para os lados. Já tinha ultrapassado dois carros e quando fui fazer a terceira passada dei um salto, a roda bateu em uma protuberância no terreno e capotamos. Outro competidor ajudou a desvirar o veículo, levamos onze minutos nisso” revelou.

O piloto ainda completou, “sabia que tinha vazado água do radiador, andamos mais 15km e completamos o reservatório. Fomos embora, mas depois de mais alguns quilômetros parei de novo, conferi o óleo e vi que estava entrando líquido no motor. Precisamos pedir apoio externo”.

No dia seguinte, Bruno Sperancini e Thiago Vargas foram impedidos de largar pela equipe médica, pois o piloto apresentava um quadro grave de desidratação. O piloto contou que “na etapa anterior, a transmissão do veículo quebrou. Foram 17 horas para concluir essa fase, desempenhando um grande esforço físico”.

Na largada do dia seguinte, ele começou a sentir fortes dores de cabeça e ânsia de vômito. “Estou aborrecido demais, mas se eles não tivessem tomado essa decisão de nos barrar, o pior poderia ter acontecido. Acima de tudo, foi preservada a minha segurança física e integridade”, avaliou o piloto.

Na oitava especial, Guia e Youssef foram “derrubados” por uma enxurrada. Os pilotos subiam o leito de um rio que deveria estar seco, mas chuvas na cabeceira acabaram fazendo o nível de água subir rapidamente e o veículo quase foi arrastado. O carro foi revisado, mas no dia seguinte falhou nos primeiros 20 quilômetros de especial, tirando a equipe da prova.

Questionado se o problema poderia ter sido evitado com algum tipo de prevenção extra, Guiga explicou que “tudo que podia foi trocado e revisado. O trabalho foi extremamente minucioso e criterioso. O problema é que no alagamento de um carro nunca se tem certeza absoluta do prejuízo. Conectores podem falhar e afetar a parte elétrica. O trabalho dos mecânicos foi ótimo, porém era realmente impossível garantir 100%, acho que foi realmente um imprevisto.

Planejamento. Depois do Dakar, Jean Azevedo vai trabalhar na renovação de contratos, mas continua sobre duas rodas, terminando seu processo de readaptação. “A moto é uma categoria mais complicada que o carro e para voltar precisa de um bom tempo de readaptação. Começou no Sertões do ano passado, agora o Dakar. Estamos trabalhando em longo prazo para voltar a ser competitivo como antigamente, quem sabe em 2014. Meu principal objetivo desse ano era terminar a prova e fazer o máximo de quilometragem possível”.

Baumgart afirmou que continuará com o mesmo veículo e já planeja voltar para o Dakar em 2014, mas até lá pretende fazer uma preparação maior, com mais treinos em dunas. “É isso que precisamos entender, estamos acostumados com o Sertões e frequentamos lugares que já conhecemos. Quando vamos para um lugar novo, ficamos um pouco inseguros”, explicou.

Guiga Spinelli contou que seguirá com o ASX Racing, mas ainda não tem um calendário definido. “Não sabemos o programa desse ano, vamos discutir agora. Quanto ao carro, daremos sequência no uso dele. Assim que soubermos da participação em algumas provas vamos divulgar”, finalizou o piloto.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi

Last modified: janeiro 23, 2013

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Redação Webventure
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