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“Aconcágua não é trekking”, dizem brasileiros

Redação Webventure/ Montanhismo

Acampamento base de Plaza de Mulas (foto: Luiz F. Forbes)
Acampamento base de Plaza de Mulas (foto: Luiz F. Forbes)

Subir o Aconcágua não é um trekking – é preciso que todo mundo saiba disso. Essa é a conclusão dos brasileiros que estiveram entre cerca de 4 mil alpinistas na montanha mais alta da América nesta temporada. Sete pessoas, incluindo um experiente escalador morto ontem, perderam a vida no local só neste mês. A imprensa argentina fala em caos na organização, mas isto os brasileiros discutem.

“Não há caos. Existe um médico, equipe de resgate e guarda-parques que sobem e descem a montanha todo dia. Antes de subir eles fazem um exame que verifica a quantidade de oxigênio no sangue e dizem se você está bem aclimatado ou não. Mas a escolha é sua”, explica Helena Coelho, que chegou ao cume pela quarta vez, no início do mês. “Mas o Aconcágua (6.962m) é vendido como um grande trekking, pela face normal. Só que o pessoal se esquece da altitude, que se trata de uma montanha com mais de 6 mil metros – se você não se aclimatar, pode ter problemas.”

A maioria das pessoas escolhe a rota noroeste, que também foi a opção dos brasileiros. Curiosamente é neste lado do Aconcágua que ocorrem mais mortes. Lena explica que “esta face é tecnicamente inferior à parede sul, mas tem desafios que exigem domínio de escalada em gelo e neve.”

“Conheci um japonês que morreu neste ano, de edema. Ele foi para o cume de camisa de flanela, jeans e tênis”

Fábio Fagyver


No grupo de Lena foram o marido, Paulo, além de Anja Oest e Fábio Fagyver, que participam de corridas de aventura, e Luiz Felipe Forbes, de 17 anos – ao chegar ao cume, ele se tornou o brasileiro mais jovem a escalar Aconcágua. Aclimatação foi palavra de ordem para Paulo e Lena, que pela primeira vez guiavam amigos em alta montanha. Fagyver aproveitou os dias de descanso para conversar com os guarda-parques: “todos repetiam que a causa de tantas mortes neste ano é o fato de as pessoas vêm despreparadas, como se fossem passear. Todo dia eles tiram cinco ou seis pessoas da montanha.”

O brasileiro conta que conheceu Yshigl Tamiharu, o japonês que foi a sexta vítima no Aconcágua. “Ele passou por nós, subindo para o cume. Sabe como estava vestido? De camisa de flanela xadrez, calça jeans, tênis e com um cajado de madeira na mão. E olha que enfrentamos até menos 25 graus lá.” Calcula-se que Tamiharu tenha feito o cume e morreu descansando em sua barraca, de edema pulmonar.

“Não tem que restringir quem sobe. Muita gente começa em alta montanha no Aconcágua”

Helena Coelho


Fagyver lembra que, além da aclimatação, é imprescindível contar com várias camadas de roupa, botas, óculos (o gelo pode causar cegueira temporária), luvas, rádio (“muito pouca gente leva”) e não se esquecer da água. “Lá em cima é gelo, você tem que levar a água. É recomendável beber de cinco e seis litros.”

Além da informação, selecionar quem pode fazer a escalada é uma saída que a imprensa argentina vem defendendo nesta que ainda não é a temporada mais trágica no Aconcágua – em 98, houve 10 mortes. “Acho que está certo. Deveriam checar os equipamentos e as condições das pessoas no acampamento base. Se não estiver de acordo, não sobe”, diz Fagyver. O recordista Luiz Felipe concorda e acrescenta: “Deviam cobrar um seguro. Ninguém tem obrigação de te remover da montanha se você morrer.”

Já Lena, preza a liberdade de escolha. “Não tem que restringir. Muita gente começa em alta montanha no Aconcágua, comigo foi assim. Basta esclarecer que o Aconcágua é a maior montanha do mundo depois dos Himalaias. E precisa ser respeitado como tal.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: fevereiro 21, 2017

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